04/11/2024
Autor(a): Imaflora
Evento em Belém debateu os desafios e oportunidades da madeira tropical certificada no mercado global
Durante o FSC Amazon Business Encounter, evento que reuniu os principais nomes do setor florestal em Belém, o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) liderou a discussão sobre a comercialização de madeira sustentável. Leonardo Sobral, diretor Florestal do Imaflora, moderou o painel “Apoiando o Comércio Sustentável”, que trouxe uma análise aprofundada sobre o papel do manejo florestal e da certificação na construção de uma cadeia de valor responsável. Gabriel Naif Andrieli, coordenador de Certificação Florestal do Imaflora, acompanhou de perto os debates, destacando-se em um cenário onde as exigências de sustentabilidade são cada vez mais urgentes.
Certificação e novas regulamentações: o divisor de águas da EUDR
Um dos principais temas discutidos no evento foi o impacto do Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR), que impõe a necessidade de rastreabilidade rigorosa para produtos florestais. Joana Nowakowska, do FSC IC, detalhou os ajustes que o FSC implementou para assegurar conformidade com as novas exigências. “O FSC está introduzindo um módulo regulatório específico para garantir que as florestas certificadas estejam em conformidade com as novas exigências internacionais”, explicou Nowakowska, reforçando a necessidade de adaptação da cadeia produtiva.
Para Gabriel Andrieli, a nova abordagem da certificação é fundamental para o setor. “A certificação FSC, com o módulo FSC-STD-01-004, visa garantir uma cadeia de fornecimento completamente verificada, evitando produtos associados a práticas insustentáveis”, ressaltou Andrieli. Esse alinhamento é especialmente relevante para o mercado europeu, que busca cada vez mais produtos livres de impactos negativos ao meio ambiente.
Perspectivas para o mercado de madeira tropical
Essio Lanfredi, representante da ApexBrasil, apresentou uma análise sobre o mercado global de madeira tropical, destacando que, embora o Brasil tenha grande potencial de exportação, há desafios de adequação às exigências ambientais. Em 2023, o setor movimentou cerca de 310 milhões de dólares, mas os exportadores brasileiros enfrentam barreiras comerciais que dificultam sua competitividade. “O mercado internacional demanda madeira tropical, especialmente dos Estados Unidos e Europa, mas as exigências ambientais impõem desafios de conformidade”, pontuou Lanfredi.
Para ele, o EUDR representa tanto um desafio quanto uma oportunidade para que o Brasil se posicione como um fornecedor responsável, reforçando sua imagem no mercado global. "Com as novas exigências de due diligence, o setor florestal brasileiro poderá fortalecer sua imagem como um fornecedor responsável”, acrescentou Lanfredi.
Comércio sustentável: manejo e valorização da floresta
Durante o painel moderado por Sobral, os participantes discutiram os entraves e a necessidade de modernização no setor. Sobral destacou a importância de consumidores e mercado reconhecerem e valorizarem práticas responsáveis. “A demanda precisa se qualificar e reconhecer as boas práticas que estão sendo adotadas, não apenas para valorização, mas pela continuidade sustentável da floresta,” afirmou o moderador.
Evandro Muhlbauer, engenheiro florestal da Madeflona, abordou o papel do manejo como solução viável para a conservação da Amazônia, embora a segurança jurídica ainda represente um obstáculo. “Passamos muitos anos desenvolvendo um modelo de manejo que fosse economicamente viável. Precisamos de previsibilidade e de um mercado que valorize esses produtos,” afirmou Muhlbauer, que defende a diversificação de receitas para além da madeira, incluindo recursos como o carbono e produtos não-madeireiros.
Aldir Schmitt, diretor da Alecrim, ressaltou a falta de madeira certificada como um dos maiores desafios para o setor. “A legalidade custa caro. Estamos em uma curva de crescimento e melhoria, mas tudo que é para modernizar tem um custo alto. Precisamos unir forças com o setor produtivo, o FSC e os órgãos de controle para mostrar o valor e os benefícios ambientais da madeira certificada,” observou Schmitt. Ele pontuou ainda que o setor perde mercado para produtos como decks de plástico, que são considerados econômicos, mas têm impacto ambiental significativo.
Arjan de Jong, diretor da importadora GWW Hout, destacou a necessidade de uma comunicação mais eficaz com o consumidor sobre os benefícios da madeira certificada. “Temos que mostrar por que usar madeira certificada é mais amigável ao meio ambiente, que sua aparência é fantástica, e que é a escolha correta,” afirmou De Jong, defendendo uma postura mais proativa em favor da sustentabilidade.
Sustentabilidade e valorização global da madeira tropical
Durante o debate, ficou evidente para os participantes do evento que, para a madeira tropical certificada se tornar uma opção viável e desejável no mercado global, é imprescindível uma colaboração entre produtores, certificadores e entidades reguladoras. Com o alinhamento das práticas brasileiras às exigências do EUDR e outras regulamentações internacionais, o setor se posiciona não só como um fornecedor confiável, mas também como um promotor da preservação dos ecossistemas tropicais.
A união de forças entre o setor produtivo, órgãos de fiscalização e iniciativas de certificação promete fortalecer a imagem da madeira tropical certificada como uma escolha competitiva e ambientalmente correta. O evento reforçou o papel do Brasil como líder em práticas sustentáveis, pavimentando o caminho para uma indústria florestal mais moderna, valorizada e preparada para enfrentar os desafios globais de sustentabilidade.