Alessandro Rodrigues e Oseias da Costa*
O café desempenha um papel fundamental na economia brasileira: somos o maior produtor e exportador mundial, e a participação nacional ultrapassa um terço da produção global. O desenvolvimento de metodologias de mensuração das emissões e sequestro de gases de efeito estufa (GEE) na cadeia do café tem possibilitado a geração de dados robustos, o que é de extrema importância no planejamento de ações para auxiliar o cumprimento das metas climáticas brasileiras, e para os outros mais de 80 países que produzem a bebida mais consumida no mundo depois da água.
A produção de café pode contribuir para a redução das emissões de GEE por meio da implementação de boas práticas de produção que resultem no sequestro adicional de carbono em relação às práticas convencionalmente utilizadas. O Imaflora tem acompanhado fazendas e grupos de cafeicultores que estão implementando essas boas práticas em sua produção, e verificado os impactos positivos dessa gestão para a regeneração do solo e para a resiliência dos cultivos.
A história das atividades agrícolas do Imaflora sempre esteve ligada à cafeicultura. As primeiras certificações de fazendas individuais, grupos e cadeia de custódia, inúmeros projetos socioambientais em parcerias com diferentes stakeholders e outros eventos importantes aconteceram pioneiramente na cadeia do café. Nossas iniciativas vão de uma ponta a outra da cadeia, colaborando com produtores, cooperativas, associações, empresas e exportadores.
Embora a maior parte do café cultivado no Brasil esteja dentro do sistema de monocultura, as práticas agrícolas variam consideravelmente de acordo com a região e o nível de gestão das fazendas. Em todo o país, observa-se a disseminação de práticas de conservação de solos, como a manutenção da cobertura vegetal, e o uso de plantas de cobertura nas entrelinhas. Além disso, há uma tendência crescente na preferência por compostos orgânicos e adubos organominerais, pela limitação no uso de herbicidas e adoção do manejo integrado de pragas.
Apesar da efetividade dessas práticas na redução das emissões e aumento das remoções de GEE, poucos estudos abordam as fontes específicas de emissão e remoção, para que possam ser consideradas nos cálculos de balanço de GEE nas fazendas. A maioria dos artigos se concentra em comparar a produção de outros países da América Latina, que produzem no sistema sombreado/arborizado, com a produção de monocultura brasileira, ignorando o impacto das boas práticas agrícolas nesse contexto.
Estudos conduzidos pelo Imaflora indicam que o uso de fertilizantes nitrogenados é a principal fonte de emissão de GEE na produção de café. A decomposição da ureia, amplamente utilizada no setor, libera dióxido de carbono, enquanto a nitrificação gera óxido nitroso. Apesar disso, o uso disseminado pelo baixo custo da ureia apresenta-se como uma das principais barreiras a serem enfrentadas na busca pela neutralidade na produção de café.
Para discutir as oportunidades e os desafios da cafeicultura, como as novas regulamentações de exportação da União Europeia e os impactos das mudanças climáticas na produção, a Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado de Monte Carmelo (MonteCCer) realiza o evento ‘2ª Jornada: O Mercado e o Café Carbono Neutro’, na cidade de Monte Carmelo (MG). No dia 15 de maio, especialistas, academia, e representantes do setor público, privado e do terceiro setor irão se reunir para discutir a transição responsável para uma cafeicultura de baixas emissões.
*Alessandro Rodrigues é gerente de Projetos e Serviços ESG do Imaflora e Oseias da Costa é coordenador de Projetos e Serviços ESG do Imaflora