Luís Fernando Guedes Pinto
A Semana Internacional do Café, que acaba de se encerrar,
ocorrida em Belo Horizonte, reuniu
produtores, torrefadores e diversos outros atores da cadeia produtiva do café e
da sua indústria. Durante três dias, o
encontro recebeu um grande e diversificado público que teve acesso a uma
intensa e ampla programação, da qual eu gostaria de realçar quatro temas.
Inicialmente, como de costume, a qualidade do café e sua
bebida mantiveram-se com grande importância na programação e na exposição. Do
plantio à xícara, o café brasileiro persegue cada vez mais a identidade dos
cafés especiais. A variedade de origens e especificidades de grãos e cafés
embalados aumenta cada vez mais, na busca pela diferenciação para todos os
mercados e expectativas de consumidores.
Em segundo lugar, a sustentabilidade foi um tema central,
posicionando-se como um complemento à qualidade e também, intencionalmente, um
diferencial no mercado internacional. As experiências e casos de sucesso
aumentam, enquanto as diversas certificações seguem como uma das principais
referências e instrumentos para a inovação, implementação e garantia da tal
sustentabilidade social e ambiental; incluindo sistemas públicos, como o
Certifica Minas, com mais de 1500 propriedades certificadas, sendo a maioria de
pequenos produtores.
O aumento das experiências vem acompanhado de uma maior
maturidade de produtores e de toda a cadeia sobre as oportunidades e os
benefícios da sustentabilidade e certificação, sem expectativas ilusórias de
grandes prêmios de mercado, como ocorreu na fase pioneira e de nicho dos
certificados. As outras vantagens econômicas, tangíveis e intangíveis, são cada
vez mais reconhecidas por produtores. Estudos têm mostrado que o aumento de
produtividade, a diminuição de custos e uma maior eficiência têm sido
resultados da certificação e da adoção de uma gestão profissional e integrada e
que isto tem implicado em vantagens econômicas maiores que os prêmios de
mercado.
Outro destaque foi a presença e visibilidade cada vez
maior de pequenos produtores e agricultores familiares, tanto nos espaços de
café de qualidade, quanto de sustentáveis. Afinal, produtores com plantios de
até café 20 há de café são responsáveis por 50% da safra brasileira e este
grupo começa a participar da espiral de inovação e diferenciação. Projetos
coletivos de associações de produtores ou cooperativas de diversas regiões do
país estiveram presentes no evento, variando de geografias muito distintas,
como do Sul de Minas Gerais, Rondônia e Espírito Santo.
Por trás destes casos de sucesso estão eficientes
programas de assistência técnica e extensão rural desenvolvidos e oferecidos em
diferentes arranjos por organizações como as EMATERs de Minas Gerais, Paraná e
Rondônia, INCAPER, Educampo - SEBRAE e SENAR. Estes programas estão diariamente
no campo, com técnicos e outros recursos que têm sido o motor da inovação e
fortalecimento de pequenos produtores de café e a sua sobrevivência com
dignidade e protagonismo em um período que a agricultura brasileira segue se
concentrando. Estes casos devem ser multiplicados e inspirar uma nova era para
a assistência técnica pública e público-privada no Brasil.
Finalmente, o papel das mulheres do café esteve presente
em importantes atividades da programação, com casos concretos de liderança na
organização no setor. Está em construção a Rede de Mulheres do Café que deve,
cada vez mais, evidenciar para a sociedade o protagonismo feminino para a
inovação do setor.
Luís Fernando Guedes Pinto é Engenheiro Agrônomo e
Gerente do Imaflora.
Confira no CaféPoint
A Sustentabilidade atinge novo patamar na cadeia do café
03/10/2016
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