Com extremos como secas e enchentes, modelo de produção se torna cada vez mais necessário
Eduardo Trevisan Gonçalves*
Quando o Brasil já enfrenta extremos climáticos como as chuvas no Rio Grande do Sul e as secas na região Norte, é hora dos produtores rurais soarem o alerta e pensarem em formas de prevenção e adaptação para este novo cenário. Regimes de chuvas alterados impactam em todo o planejamento da safra, com adiantamento ou atrasos de culturas, quedas de produtividade e até perdas totais de produção, como em momentos trágicos como o que aconteceu no Rio Grande do Sul.
Mas como é possível se prevenir de tais efeitos? Um dos caminhos possíveis vem sendo debatido no âmbito da Rede de Agricultura Sustentável (RAS): a agricultura regenerativa. A RAS, que tem mais de 20 anos de atuação e atualmente tem seu Conselho presidido pelo Imaflora, conta com 33 membros, distribuídos em 31 países. São diversas as experiências de parceiros que estão atuando neste modelo em culturas como palma, café, cacau, pecuária e condimentos, em diferentes continentes, o que comprova que não se trata mais de uma tendência e sim de uma realidade. Mas afinal, o que é agricultura regenerativa?
A agricultura regenerativa é um conceito criado ainda na década de 80, focado na conservação, recuperação e saúde do solo, e que envolve várias práticas e indicadores visando um equilíbrio no sistema agrícola. Plantio direto, Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), rotação de culturas e a utilização de bioinsumos são alguns exemplos de boas práticas relacionadas à agricultura regenerativa.
Tais práticas também são fundamentais no processo de adaptação às mudanças climáticas. Com a menor oferta de recursos naturais, será cada vez mais necessário otimizar seu uso. Se antigamente era comum a irrigação por pivô, hoje em dia, com menos água disponível, a irrigação por gotejamento tem tomado lugar. A aplicação de herbicida também tem diminuído, dando espaço para manutenção de cobertura viva que ajuda na proteção e conservação da umidade do solo. Se o impacto antigamente não era tão sentido, hoje ele tende a proporcionar um maior potencial de erosão, devido à alteração do regime de chuvas.
Com a adoção das boas práticas da agricultura regenerativa, são observados diversos impactos positivos, como o aumento da retenção do carbono no solo, a redução da necessidade de aplicação de adubos químicos e sintéticos, a melhoria da saúde do solo e a melhoria da biodiversidade, com maior presença de microrganismos no ecossistema. Dessa forma, o produtor rural passa a ter melhores condições para enfrentar situações climáticas desfavoráveis. Com o solo coberto, adoção de uma variedade de plantas mais adaptadas para determinada região e menor utilização de produtos agressivos ao solo, o resultado é um maior controle do sistema produtivo, resultando em equilíbrio, economia de recursos financeiros e em um modelo de agricultura mais inteligente.
Para fortalecer a agricultura regenerativa, a RAS determinou a criação de um Grupo de Trabalho que irá estudar e propor um modelo que consolide as boas práticas que fazem parte do conceito, já que é comum que haja variações em sua adoção de país para país ou de empresa para empresa. Além disso, para superar desafios como a necessidade de maquinário, equipamentos e insumos, é importante que haja um engajamento de governos e empresas para oferecer assistência técnica, além de investimentos para aumentar tanto o conhecimento quanto o engajamento de produtores com a agricultura regenerativa. Afinal, quanto mais produtores promoverem o modelo, mais bem preparados estaremos para lidar com as consequências da crise climática.
Eduardo Trevisan é diretor de ESG e Certificações do Imaflora
Publicado em Vozes do Agro - Globo Rural.
