A análise do estudo ”Asymmetries of cattle and cropproductivity and efficiency during Brazil´s agricultural expansion from 1975 to2006” que avaliou o crescimento da produção, da produtividade e da eficiência
da safra brasileira entre 1975 e 2006 foi atualizada e ganhou as páginas da
edição especial sobre o desmatamento da Amazônia, da revista científica
Elementa - a Ciência do Antropoceno, editada pela Universidade da Califórnia.
O trabalho, realizado pelo Imaflora e pelo GeoLab, da
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, discute a agropecuária
brasileira a partir das diferenças entre a produção vegetal e a pecuária, e, dessa perspectiva, analisa o crescimento da produção, da
produtividade e da eficiência da safra brasileira entre 1975 e 2006. Produção
vegetal fornece mais proteínas.
O Prof. Gerd Sparovek (GeoLab Esalq) explica que houve crescimento da área plantada com
culturas em todas as regiões do Brasil, enquanto a área de pastagem diminuiu no
sul e sudeste e somente aumentou na região norte. A produtividade das duas
atividades aumentou em todas as regiões, com destaque para o centro-oeste.
Todavia há uma grande diferença entre a eficiência das
culturas e das pastagens. Em 2006, a produção vegetal forneceu 20 vezes mais
proteína que a animal, mesmo ocupando uma área 2,6 vezes menor (61 milhões de
hectares de culturas contra 160 milhões de hectares de pastos). A produtividade
vegetal foi 25 vezes maior que a da pecuária, alcançando 0,25 toneladas de
proteína por hectare contra 0,01 toneladas de proteína por hectare da pecuária.
Além disso, a produção vegetal emitiu 2 toneladas de gases de efeito estufa por
tonelada de proteína contra 283 toneladas da proteína animal.
A safra vegetal de 2006 foi suficiente para suprir as
necessidades de proteína de 1,3 bilhões de pessoas enquanto a de pecuária
garantiria as necessidades de 66 milhões de pessoas.
O estudo também identificou que embora o sistema de
produção de carne de aves e suínos seja mais eficiente que o de pecuária para a
produção de proteína, ele é seis vezes menos eficiente do que o de proteína
vegetal como fonte primária de alimentos. Mesmo assim, as análises
identificaram que entre 1975 e 2006 a proporção da produção vegetal destinada à
ração para a criação de frangos e porcos aumentou enquanto diminuiu a proporção
destinada diretamente para a alimentação humana.
Com base nestes resultados, o estudo sugere um caminho
para a expansão e a intensificação da agropecuária visando desmatamento zero e
sistemas de uso da terra e de produção de alimentos sustentáveis:
1. Priorizar
a produção vegetal como a principal fonte de alimento humano. A expansão da
produção deve ocorrer sob terras aptas ocupadas por pastos, em sistemas
produtivos de baixo carbono e impacto ambiental.
2. Priorizar
a carne de aves e suínos como a principal fonte de proteína animal.
3. A
produção pecuária deve se manter no longo prazo nas terras não aptas para a
produção vegetal. A intensificação nestas condições é prioritária, mas é
limitada, pois a restrição da mecanização de parte destas terras restringe a
adoção de práticas que potencializam a intensificação.
4. A
intensificação da pecuária em terras aptas para a produção vegetal é essencial,
mas será uma transição que persistirá até que as culturas agrícolas ocupem
todas as terras aptas para a sua produção.
Luís Fernando Guedes Pinto (Imaflora) destaca que este
mapa do caminho somente considera a produtividade e a eficiência do uso da
terra e da produção de alimentos; sem levar em conta outras questões
determinantes para a expansão e a intensificação da agricultura como
infra-estrutura, hábitos alimentares e demandas de consumo de alimentos. Além
disso, as análises de 1975 a 2006 não capturaram importantes recentes políticas
e mudanças que ocorreram na governança do setor que tem visado à redução do
desmatamento e a agropecuária de baixo carbono. O novo censo agropecuário é
fundamental para haver dados que permitam uma análise da situação atual e
projetar cenários para o futuro.
Confira o estudo completo aqui. O estudo faz parte do
Atlas da Agropecuária Brasileira, uma colaboração do Imaflora e do GeoLab –
Esalq.