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Gestão que transforma, conserva e gera renda.

04/09/2018

Por Tatiane Ribeiro

Atuação do Imaflora na Calha Norte fortalece negócios comunitários que garantem a sustentabilidade ecológica
A lógica de manter a floresta em pé, além de trazer benefícios ambientais, demonstra resultados positivos também na área sociocultural e econômica. Em áreas consideradas prioritárias para a conservação da biodiversidade, como é o caso da região conhecida como Calha Norte, no Noroeste do Pará, o Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) desenvolve estratégias para a conservação dos recursos naturais e dos povos que habitam a região amazônica.
Identificado como um dos maiores corredores de áreas protegidas de floresta tropical do mundo, o território de aproximadamente 24 milhões de hectares foi considerado uma das áreas vulneráveis a invasão de grileiros, posseiros, para o desmatamento ilegal e avanço da agropecuária, principalmente a partir da criação da rodovia BR 163, que liga Cuiabá a Santarém.
¨Nessa época,  em apoio ao governo do Estado do Pará  para criar Unidades de Conservação Estaduais (UCs), o Imaflora conduziu junto com o Imazon e Conservação Internacional as consultas públicas necessárias para identificar quem eram os atores que mais seriam afetados ou que mais poderiam afetar as UCs, criando assim um espaço de diálogo¨, conta Léo Ferreira, coordenador de projetos do instituto.
Como resultado desse processo foram criadas as Florestas Estaduais do Paru, do Trombetas e de Faro, a Estação Ecológica do Grão-Pará e a Reserva Biológica do Maicuru. Atualmente, todo o mosaico de áreas protegidas da Calha Norte, contando com Terras Indígenas e Territórios Quilombolas, tem mais de 24 milhões de hectares. O Imaflora atua na região por meio do Florestas de Valor. O Florestas de Valor conta com patrocínio da Petrobras, financiamento do BNDES / Fundo Amazônia, Gordon e Betty Moore Foundation e USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional).
¨Nos primeiros seis anos de atuação ficamos focados no apoio à gestão UCS, principalmente, no apoio a criação e funcionamentos dos conselhos gestores, que são instâncias de governança dessas áreas com participação da sociedade¨, explica Léo.
Cadeias da sociobiodiversidade
Após essa etapa, já em 2009, o foco do trabalho do Imaflora passou a ser sensibilizar as comunidades que estão nos acessos dessas UCs, com o objetivo de criar uma barreira de proteção às áreas ecológicas e, assim, direcionar o desenvolvimento desse território com base em práticas sustentáveis a fim de garantir a conservação dessa porção de floresta Amazônica.
¨Trabalhamos sempre com foco no fortalecimento da participação da sociedade local, o que, a partir de 2012, viabilizou ações direcionadas pelas próprias comunidades que estavam interessadas também na geração de renda¨, afirma Léo. ¨A partir de então começamos a desenvolver atividades sustentáveis no apoio à organização produtiva e na introdução de técnicas para a produção¨.
Dentro desse contexto, a estruturação das cadeias de produtos extrativistas passou a ser o carro-chefe da atuação do Imaflora, que conduz atualmente a facilitação de parcerias comerciais, bem como a implantação e apoio à operação de agroindústrias. O trabalho inclui também o apoio técnico para comercialização de produtos locais para a alimentação escolar e a implantação de marcenaria comunitária, de viveiros de produção de mudas florestais, de sistemas agroflorestais e o incentivo a roça sem fogo.
¨Por meio desse trabalho conseguimos garantir que os povos da floresta possam continuar vivendo sem ter que deixar suas origens para morar na cidade em busca de renda¨, pontua o coordenador. ¨Esses povos sofrem constantemente assédio para usos predatórios dos recursos naturais e viabilizar geração de renda que valorize a floresta em pé atrai esses povos para ajudar na conservação da floresta¨.
Desafios e conquista
Os desafios de trabalhar em uma área extensa e diversa também são amplos. Problemas com a logística, baixa escolaridade, assistência técnica insuficiente, além do trabalho com cadeia de produtos que envolve desconhecimento social sobre o papel do extrativismo e da produção agroecológica para a conservação das florestas. Esses são alguns dos desafios enfrentados pelo Imaflora.
Os resultados do trabalho têm se tornado cada vez mais visíveis. Segundo o coordenador, nos anos de 2017 a 2018 as ações do projetos implantados proporcionaram cerca R$ 700 mil de renda direta para as populações. Outro ponto positivo é a introdução de produtos locais na alimentação escolar das escolas quilombolas desde 2016, proporcionando melhora nutricional na merenda e aumento de renda.¨Observamos também por imagens de satélite que houve uma contenção do desmatamento na região¨, aponta Leo. ¨Na área comercial, em cinco anos a organização coletiva da cadeia da copaíba conseguiu a elevação do preço em 150% em relação ao início do trabalho¨.
Os agricultores também foram beneficiados com regularização e formação. Os dados do instituto aponta que mais de 300 agricultores passaram a ter a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), o que viabiliza o acesso a vários programas de políticas públicas.
¨O nosso intuito nos próximos anos é continuar o fortalecimento e a estruturação de novas cadeias, consolidando empreendimentos comunitários e negócios de impacto socioambientais, que conservem a floresta em pé e gerem autonomia às comunidades¨, afirma Léo.

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