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Indústria do couro aprofunda colaboração com cadeia pecuária para promoção da responsabilidade socioambiental

15/08/2023

Para aumentar o engajamento do setor, Imaflora e Durlicouros assinam memorando de entendimento com foco no protocolo Boi na Linha

Curtumes com operações no Brasil começam a direcionar esforços para a promoção de uma agenda de responsabilidade compartilhada que influencie melhores práticas na pecuária brasileira. Pressionados por exigências cada vez mais rigorosas do mercado e sob olhar atento de seus consumidores, representantes da cadeia do couro se movimentam para participar do debate e influenciar frigoríficos na adoção de soluções mais sustentáveis.

 

A indústria consegue transformar um boi em 250 subprodutos. Em uma cadeia que faturou R$153,13 bilhões em 2022, de acordo com dados da Secretaria de Política Agrícola (SPA), subordinada ao MAPA (Ministro de Estado da Agricultura e Pecuária), o couro tem papel de destaque entre os negócios que derivam da pecuária. O Brasil já é o terceiro principal exportador do produto no mundo, movimentando mais de US$2 bilhões ao ano em vendas para mais de 80 países.

 

O Centro das Indústrias de Curtume do Brasil (CICB) revela que o país tem 244 plantas curtidoras, 2,8 mil indústrias de componentes para couro e calçados e 120 fábricas de máquinas e equipamentos, gerando 30 mil empregos diretos. Nessa escala, os desafios para a manutenção de relações comerciais e fortalecimento da agropecuária brasileira também são grandes, por isso a necessidade do trabalho colaborativo.

 

Ainda que reconhecida pelo seu papel na reciclagem de um material que, potencialmente, seria descartado pelos frigoríficos, a indústria do couro enfrenta constantes desafios na agenda socioambiental. Os principais desafios são o desmatamento em biomas como Amazônia e Cerrado e a falta de garantia de bem-estar animal. Nesse contexto, aumenta a necessidade de investimento em rastreabilidade, auditorias e certificações.

 

Com grande demanda da indústria automobilística e da moda, os curtumes vêm sendo cada vez mais cobrados para implementar rigorosas garantias de qualidade e origem e atender aos mercados mais exigentes, como Europa. O Parlamento Europeu aprovou em junho passado, o Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR), lei que proíbe a importação de produtos originários de áreas desmatadas após dezembro de 2020.

 

Nesse contexto, a Durlicouros foi a primeira empresa de couro a firmar com o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), um memorando de entendimento, com foco no protocolo Boi na Linha. A parceria tem o objetivo de compartilhar informações sobre desafios, riscos e oportunidades relacionados a cadeias responsáveis e promover a busca de soluções para uma produção livre de desmatamento. A empresa também pretende contribuir com o Imaflora para o engajamento e capacitação de frigoríficos médios no sentido de implementarem políticas de compra responsável, sistemas de monitoramento de fornecedores e processos de auditoria.

 

“O couro, se não vira produto, é apenas um resíduo. Dessa forma, a indústria pode ser vista também como uma propulsora da sustentabilidade dentro da pecuária. Como lidam com o 1% do valor negociado por uma cabeça de gado, os curtumes acabam tendo pouco poder de influência, mas têm papel estratégico para promover mudanças no setor, pois, quando comparado à carne, comercializa maior volume com mercados mais exigentes, avalia Lisandro Inakake, Coordenador de Projetos em Cadeias Agropecuárias do Imaflora.

 

Com o aumento da pressão do mercado, as gigantes compradoras dos curtumes e as certificadoras do setor aumentaram a lista de exigências progressivamente nos últimos anos, colocando como critérios obrigatórios informações como nome dos frigoríficos de origem do couro e localização, até as listas completas das fazendas por onde aquele gado passou. 

 

A Durlicouros é uma multinacional com mais de 60 anos de operação no Brasil e uma das principais exportadoras de couro no país, sendo referência na cadeia, com destaque para a gestão socioambiental. “Percebendo o movimento de criação de novas políticas de compra dos clientes, também avançamos com a estratégia de sustentabilidade a partir da criação de um sistema próprio de monitoramento e dupla checagem dos fornecedores”, explica Ivens Domingos, Gerente de Sustentabilidade na Durlicouros.

 

Esforço coletivo para desafios complexos

O programa Boi na Linha foi lançado pelo Imaflora em 2019 e, um ano depois, foi divulgada a primeira versão do Protocolo de Monitoramento de Fornecedores de Gado da Amazônia . A iniciativa desenvolvida em conjunto com o Ministério Público Federal consiste no esforço coletivo para fortalecer os compromissos socioambientais da cadeia da carne bovina na Amazônia e impulsionar sua implementação, por meio da organização de espaços de diálogo para o desenvolvimento de acordos e referenciais técnicos e da transparência de informações. 

 

“Esse primeiro passo com a Durlicouros tem força para ser um movimento de todo o setor. As atividades previstas nesta parceria, como workshops e seminários para fornecedores, nos dão a oportunidade de impactar outros elos da cadeia que ainda não estão engajados. E esse trabalho também traz resultados para a qualidade dos produtos”, explica Inakake. 

 

O trabalho com as indústrias alinhadas ao Boi na Linha vem para acelerar a implementação dos compromissos pela cadeia bovina na Amazônia, aumentando a transparência na busca de uma atividade livre de desmatamento, trabalho escravo ou invasão de terras públicas. Em junho deste ano, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) anunciou a adesão formal ao Boi na Linha, com o objetivo de levar o padrão para todas as empresas associadas, ampliando de 16 para 39 os frigoríficos aderentes ao protocolo.

 

Bem-estar animal

Entre os temas que precisam ser abordados com mais produtores está o bem-estar animal, parte essencial do manejo que impacta em aspectos de negócios, trabalhistas, ambientais e de gestão. O mau manejo fica no couro e afeta no preço do produto, definido a partir da análise de defeitos nos quadrantes do couro - aqueles com marcas ou cicatrizes em decorrência do tratamento e condições inadequadas das propriedades podem ser descartados ou desvalorizados.

 

A pecuarista e pesquisadora na fazenda Orvalho das Flores, Carmen Perez, defende que um dos pontos que precisa ser alterado no país é a marcação do animal a fogo, prática que provoca dor no animal e impacta financeiramente a cadeia. “Na pesquisa que realizamos, a taxa de erro de leitura da marca a fogo foi de 18%. É difícil fazer uma gestão eficiente do rebanho com essa margem. Nesse aspecto, a indústria do couro pode influenciar os produtores a terem outras formas de identificação. Por fim, a ausência de um manejo atento ao bem-estar animal pode ser perigosa inclusive para a equipe, uma vez que os riscos de trabalhar com animais reativos e violentos se impõem”, diz.

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