Por Alessandro Rodrigues e Luis Fernando Guedes Pinto
O título é óbvio e redundante, mas na prática, não é bem assim.
Sistemas de gestão permanentes deveriam ser rotina de quaisquer
empreendimentos que pretendem garantir um desempenho e qualidade, seja
na produção, na conservação ambiental ou no que se refere ao componente
social.
Os programas de certificação socioambiental costumam exigir um
sistema de gestão socioambiental de empreendimentos certificados. Uma
forma de conferir se esses sistemas realmente fazem parte do dia-a-dia
de uma empresa ou fazenda certificadas é a realização de auditorias
surpresa, além das rotineiras. Esta prática é obrigatória no programa da
Rede de Agricultura Sustentável (RAS) / Rainforest Alliance Certified.
O Imaflora é certificador deste programa e suas auditorias não
programadas ocorrem em pelo menos 3% dos empreendimentos certificados
uma vez ao ano, desde 2009. Os empreendimentos a serem auditados são
definidos pelos coordenadores de certificação, após uma análise de risco
baseada no histórico e no desempenho das fazendas nos últimos anos e
reclamações/denúncias das partes interessadas e auditores, se for o
caso.
Os empreendimentos definidos para serem auditados são avisados da
visita com no máximo dois dias de antecedência. Desde 2009, temos
priorizado verificar os aspectos sociais da norma da RAS em fazendas em
que não foi possível realizar as auditorias anteriores no período da
safra. Nessa época, as fazendas recebem um grande número de
trabalhadores temporários e é muito importante garantir que a norma
garanta a eles os mesmos direitos e condições de trabalho, moradia e
segurança dos trabalhadores permanentes.
Neste ano, as auditorias não programadas ocorreram entre 17 e 21 de
setembro, em quatro fazendas da região do Cerrado mineiro, sendo uma
pertencente a um grupo de fazendas certificadas conjuntamente. Uma das
fazendas selecionadas resistiu fortemente a receber a equipe de
auditores. Todavia, de acordo com a política de certificação de fazendas
da RAS, a recusa pode levar ao cancelamento da certificação. Foi
necessária uma longa negociação para confirmar a atividade no campo.
Outro resultado desagradável foi o cancelamento da certificação de
uma fazenda, devido ao não cumprimento de um critério crítico
relacionado à falta de documentos de contratação de jovens entre 16 e 18
anos. Outras duas fazendas diminuíram seu nível de cumprimento, devido
ao aparecimento de novas não conformidades. Porém, uma das fazendas
conseguiu aumentar seu nível de cumprimento em relação à sua auditoria
anterior.
O resultado deste processo é positivo e evidenciou a diferença de
comportamento e resultado quando há (ou não) comprometimento e
incorporação da certificação como ferramenta de gestão e melhoria
contínua. Voltando ao início, o desafio da certificação começa quando o
empreendimento a conquista. Achar que passar no vestibular é garantir o
diploma de formatura é um grande engano. E, para quem lida com
sustentabilidade, não acaba nunca.
Alessandro Rodrigues é engenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia e coordenador de Certificação do Imaflora; Luís Fernando Guedes Pinto é engenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia e gerente de Certificação do Imaflora.
Fonte: Sustentabilidade Terra