Presidente discursou em cúpula sobre desenvolvimento na
ONU.Ela ainda disse que outra meta é zerar desmatamento
ilegal até 2030.
A presidente Dilma Rousseff afirmou neste domingo (27),
na Cúpula da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, que o Brasil tem a meta de
reduzir em 43% a emissão de gases do efeito estufa até 2030. O ano base,
segundo ela, é 2005.
"Será de 37% até a 2025 a contribuição do Brasil
para a redução de emissão de gases do efeito estufa e para 2030 a nossa ambição
é de redução de 43%", afirmou a presidente em discurso na sede de ONU, em
Nova York. Esta é a proposta que o Brasil deve levar para a cúpula do clima de
Paris, a COP 21, a ser realizada em dezembro.
Para Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório
do Clima, o anúncio é uma indicação positiva, mas ainda com um grau de ambição
insuficiente. "Se comparar com outros países que são grandes emissores, o
Brasil é um dos que está se propondo a fazer mais. Mas se comparar com o que o país
tem de potencial de redução de emissões, com a nossa responsabilidade e com a
urgência, poderíamos ser mais ambiciosos", afirmou.
Se as propostas dos países para 2030 anunciadas até o
momento forem concretizadas, o planeta ainda deve chegar a um aquecimento entre
3ºC e 4ºC, segundo estimativas. Para o Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC), o ideal seria de limitar o aquecimento global a 2ºC.
A proposta brasileira, apesar de ser melhor do que a dos
outros grandes emissores do mundo, não está em compasso com o que seria
necessário para atingir a meta proposta pelo IPCC. Para Rittl, o anúncio
"ainda não assegura que o Brasil esteja fazendo tudo o que pode para
limitar o aquecimento global a 2ºC e mostra que o país não está explorando todo
o potencial de redução de emissões com ganhos econômicos, seja na restauração
florestal, na agricultura de baixo carbono e no investimento em energias
renováveis".
Levando em conta que o total de emissões em 2005 foi de
2,03 bilhões de toneladas de CO2 equivalente, a meta representaria emitir 1,28
bilhões de toneladas em 2025 e 1,15 bilhões de toneladas em 2030.
Combate
ao desmatamento
A presidente também detalhou metas do país no combate ao
desmatamento e no reflorestamento de áreas degradadas.
"Até 2020, o Brasil pretende: primeiro, o fim do
desmatamento ilegal no país. Segundo, a restauração e o reflorestamento de 12
milhões de hectares. Terceiro, a recuperação de 15 milhões de hectares de
pastagens degradas. Quarto, a integração de 5 milhões de hectares de lavoura-pecuária-floresta",
disse a presidente.
Para Rittl, limitar a meta ao fim do desmatamento ilegal
é um ponto preocupante do anúncio. "Significa que teremos que conviver com
esse crime ambiental por muito tempo. O Brasil é o único país no mundo de renda
média que convive com uma alta taxa de desmatamento e com muita
ilegalidade."
Ele lembra que 15 estados brasileiros que tem Mata
Atlântica se comprometeram a zerar o desmatamento ilegal em 2018, muito antes
do que o governo federal se propõe a fazer no âmbito nacional.
Durante seu pronunciamento, a presidente enfatizou a
importância da COP 21. “A Conferência de Paris é uma oportunidade única de
construirmos uma resposta comum ao desafio global de mudanças do clima. O
Brasil tem feito grande esforço para reduzir as emissões de gases de efeito
estufa sem comprometer nosso desenvolvimento econômico e nossa inclusão
social", afirmou Dilma, que fará o discurso de abertura da
Assembleia-Geral das Nações Unidas nesta segunda-feira (28).
Fontes
renováveis
No discurso, Dilma citou também metas do Brasil para a
área de energia. Um dos objetivos, segundo ela, é estabelecer um limite de 45%
de fontes renováveis no total da matriz energética.
"Na área de energia, também temos objetivos
ambiciosos. Primeiro, a garantia de 45% de fontes renováveis no total da matriz
energética [...] Segundo, a participação de 66% da fonte hídrica na geração de
eletricidade. Terceiro, a participação de 23% das fontes renováveis, eólica,
solar e biomassa, na geração de energia elétrica.
Quarto, o aumento de cerca de
10% na eficiência elétrica. Quinto, a participação de 16% de etanol carburante
e demais fontes derivadas da cana-de-açúcar no total da matriz
energética", detalhou a presidente.
"As adaptações necessárias frente à mudança do clima
estão sendo acompanhadas por transformações importantes nas áreas de uso da
terra e florestas, agropecuária, energia, padrões de produção e consumo",
continuou Dilma. "O Brasil assim contribui decisivamente para que o mundo
possa atender às recomendações do painel de mudança do clima, que estabelece
limite máximo de 2°C de aumento de temperatura neste nosso século",
concluiu a presidente.
Hidrelétricas
Após o discurso, a presidente deu entrevista coletiva
para explicar as metas do Brasil para o meio ambiente. Ao ser questionada sobre
problemas na construção das hidrelétricas de Belo Monte e de entraves para o
leilão da usina de São Luiz do Tapajós, que enfrenta resistência de povos
indígena, Dilma disse que o Brasil não está pronto "ainda" para abrir
mão da energia de hidrelétricas. Ela admitiu falhas, mas enfatizou que elas não
farão o governo desistir de conciliar geração de energia com preservação
ambiental.
“O Brasil não pode abrir mão da hidreletricidade ainda.
Ele abrirá quando ele ocupar o potencial que ele tem para ocupar. Ele terá de
abrir e aí nós estaremos diante dos mesmos desafios que os países desenvolvidos
estão, colocar o que no lugar? Tem gente que coloca no lugar as fontes físseis
[como as de material nuclear]. Eu espero que até lá tenham desenvolvido mais
tanto a solar quanto a eólica”, disse a presidente.
"Nós temos feito um imenso esforço para
compatibilizar a geração de energia com a preservação ambiental. Tem
falha? Ah, não tenha dúvida que tem, mas
o fato de ter falhas não significa que a gente vai destruir esse processo, pelo
contrário, a gente tem de reconhecê-las e melhorar. Agora, não se iluda, tem
falhas em qualquer construção de qualquer projeto", concluiu Dilma.
Fonte: G1
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