Desenvolvido no âmbito do programa Florestas de Valor, o projeto Caminhos da Floresta buscou identificar arranjos produtivos e comerciais inovadores utilizados por pequenos produtores e comunidades extrativistas para comercializar produtos da sociobiodiversidade.
Como empreendimentos que atuam na cadeia de valor de produtos da sociobiodiversidade na Amazônia atuam para estruturar seus negócios e potencializar a gestão? Que estratégias, ferramentas e tecnologias são aliadas? Essas foram algumas das questões que nortearam as pesquisas desenvolvidas pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) no âmbito do Programa Florestas de Valor. Os resultados do projeto Caminhos da Floresta foram compilados em uma coletânea de quatro publicações e oito Diários de Bordo que podem ser acessados gratuitamente no site da instituição.
O objetivo do projeto foi identificar os arranjos produtivos e comerciais inovadores utilizados por pequenos produtores e comunidades extrativistas para comercializar produtos da sociobiodiversidade e, também, difundir o conhecimento apreendido a partir das análises dos empreendimentos para os stakeholders que atuam no setor.
Para elaborar os estudos, foram realizadas diferentes atividades, como o Ciclo de Workshops intitulados “Desafios e soluções para a implementação de arranjos produtivos-comerciais inovadores na Amazônia”, que contou com a presença de especialistas em tecnologias de modelos de negócios, empresas, instituições de apoio, organizações do terceiro setor, pesquisadores, membros dos comitês territoriais do Origens Brasil® e outras plataformas. Além disso, foram realizadas 11 entrevistas detalhadas com organizações e empreendimentos, totalizando cerca de 28 horas de gravações de áudio e vídeo, que apresentaram os desafios enfrentados e apontaram as inovações implantadas para solução dos problemas.
De acordo com Marcelo Carpintéro, economista coordenador do projeto no Imaflora, o foco das ações foram comunidades na Amazônia que vivem em áreas protegidas e entorno, assim como comunidades atingidas diretamente pela degradação ambiental, que apresentam como principais atividades econômicas a extração de produtos florestais, a exemplo da Castanha-do-Brasil, sementes, óleos, artesanatos, pequenas plantações de cacau, frutas, guaraná, legumes e alimentos em geral.
Entre as populações observadas no estudo, foram consultadas comunidades quilombolas, povos indígenas e outras populações tradicionais. “Acreditamos que estudar diferentes arranjos bem-sucedidos e transmitir esse conhecimento para esse público e todas as organizações que atuam na cadeia de valor dos produtos causará um impacto positivo na geração de renda e no fortalecimento dos negócios locais”, explica Marcelo.
O primeiro passo para compreender o cenário dos negócios comunitários foi o levantamento de referenciais teóricos sobre as temáticas centrais da pesquisa, com destaque para: inovação; negócios comunitários, cadeias produtivas e de valor e ecossistema de negócios; modelo de negócios; legislação; e finanças. Segundo Marcelo, o desafio da pesquisa foi localizar inovações que realmente tivessem impactos, ou seja, modelos e arranjos produtivos-comerciais que resultem em melhoria direta nas condições de vida das comunidades e na conservação da floresta. “Ainda que esse processo passe pelo desenvolvimento dos negócios dessas comunidades, o impacto deve chegar até as pessoas. Para nós, o foco central são os cooperados, associados e empreendedores”, reitera Carpinteiro.
Após a caracterização de todo o ecossistema de negócios, por meio do levantamento teórico, a pesquisa se debruçou em aspectos específicos sobre tributação, a incidência fiscal e os aspectos contábeis. “Aprendemos durante a execução desse projeto que não existem receitas prontas. Essa frase muita usada em diversas ocasiões é mais do que válida em nosso caso. Por essa razão não é possível estabelecer quais os melhores formatos jurídicos para se formalizarem negócios comunitários, ou qual regime de tributação é o mais adequado, sem que seja feita uma análise cuidadosa caso a caso”, conta o coordenador do projeto. Os resultados dessa etapa estão compilados nas publicações e buscam apoiar as tomadas de decisão e apontar o que deve ser avaliado antes das tomadas de decisões.
As entrevistas, reuniões e workshops contribuíram para que a pesquisa delineasse algumas dificuldades apresentadas pelos negócios comunitários em estruturar uma operação comercial de grande escala, entender o custo de uma estrutura profissional para operar uma estrutura comercial de grande escala, como ampliar e fortalecer as relações entre os negócios da Amazônia dentro do ecossistema e com isso desenvolver o potencial dessa relação para a construção de arranjos produtivos-comercias.
Com base nos desafios localizados, o projeto desenvolveu uma ideia de arranjo produtivo-comercial que origina três possibilidades de modelos de negócios que estão vinculados à três formas de acesso a mercados que a maioria dos produtos da sociobiodiversidade e da agricultora familiar se enquadram: (1) B2B “trading”: Business to business, venda entre empresas de produtos in natura ou minimamente beneficiados para indústrias; (2) B2B: Business to business, ou vendas entre empresas (consideramos também o chamado B2B2C, categoria categorizada pelo comércio on line); (3) B2C: Business to consumer, ou vendas para o consumidor final (B2B2C online). Porém, não se trata de um modelo pronto, fechado, mas uma ideia ainda embrionária.
A publicação que encerra a coletânea, intitulada “Trajetos Inovadores: Desafios dos Negócios Comunitários e Sustentáveis e suas Soluções Inovadoras”, apresenta os 13 “cases” mapeados pelo projeto. “Todos eles foram apresentados e discutidos durante o ciclo de workshops. Nessa publicação refletimos sobre suas motivações e desafios e quais soluções inovadoras foram desenvolvidas”, conclui Marcelo.
Além das publicações, o Imaflora disponibiliza, ainda, como ferramenta de disseminação do conhecimento apreendido, oito Diários de Bordo que reúnem anotações, notas técnicas, resumos, transcrição de entrevistas, revisões bibliográficas que fundamentaram a pesquisa. A proposta é apresentar o percurso de aprendizado, a fim de ampliar o alcance e as possibilidades de compreensão das temáticas referentes à invocação em negócios comunitários.
Quer saber mais sobre a pesquisa?
Acesse as publicações aqui: https://www.imaflora.org/o-que-fazemos/comunidades-areas-protegidas/caminhos-da-floresta