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Relatório mapeia em detalhes a cadeia produtiva da soja e contribui para dar mais transparência ao setor.

15/08/2018

Dados do Anuário Trase 2018*, divulgados no Brasil, aumentam a compreensão das conexões entre a produção de soja e os riscos do desmatamento e mostra como produtores, empresas e mercados consumidores podem usar essa oportunidade para criar uma economia livre de desmatamento. Os dados apontam que a região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) corre o maior risco de desmatamento devido ao avanço da soja para exportação.  Dados do Atlas Agropecuário, desenvolvido pelo Imaflora, Geolab/ESALQ (projeto Fapesp) e KTH (Suécia), estimam que entre 2001 e 2017, a soja expandiu em 310% apenas no Matopiba, sendo que 65% da expansão no Matopiba se fez diretamente sobre vegetação nativa, ao contrário do restante das áreas de Cerrado onde a soja expandiu sobretudo em pastagens (70%).

A maioria das empresas (80%) com o maior risco de desmatamento por tonelada em todo o Brasil obtêm volumes significativos de soja oriundos desta região. Somente no Cerrado estima-se que 60% da soja foi plantada em propriedades que haviam excedido os limites legais para conversão e portanto não estão em conformidade com o novo Código Florestal.
“A cadeia de produção de soja como um todo, leva consigo parte desta responsabilidade de desenvolver formas mais sustentáveis de produção. Trase apresenta os fluxos de origem e destino desta produção, destacando virtudes e mazelas e sinalizando quais os caminhos para que os múltiplos atores desta cadeia de produção possam, juntos, definir e ampliar formas de consumo mais responsáveis e de produção agrícola mais sustentáveis”, explica Arnaldo Carneiro Filho, um dos pesquisadores envolvidos no desenvolvimento e disseminação da plataforma Trase.
Cerca de 60% das exportações brasileiras de soja em 2016 foram para a China, levando consigo metade do risco de desmatamento associado às exportações de soja. Apesar de muitos países europeus importarem quantidades muito inferiores às da China, os dados do anuário mostram que eles geralmente se originam em áreas de maior risco, resultando em maior impactos por tonelada de soja importada.
Apenas seis grandes empresas (Bunge, Cargill, ADM, Louis Dreyfus, COFCO e Amaggi) foram responsáveis por 57% das exportações de soja do Brasil em 2016. Estas empresas realizam investimentos em infraestrutura (silos, armazéns, ferrovias e terminais portuários) que ajudam a explicar os padrões de fornecimento dos principais comercializadores e sustentam fortes conexões com regiões específicas de produção.  Os compradores de soja destas seis empresas podem estar associadas a pelo menos dois terços do risco total de desmatamento associado à expansão da soja observados na última década. Os dados da plataforma mostram que em um ano típico essas empresas são os únicos compradores para mais de 100 municípios - ressaltando o papel fundamental que desempenham na formação da sustentabilidade futura da soja.
“A desnecessária conversão de novas áreas de Cerrado como justificativa para a expansão da agricultura no Brasil não tem base econômica e se adequa aos compromissos de redução do desmatamento assumidos pelo país. Otimizar o uso do solo num sentido mais amplo, pode reduzir sobremaneira os impactos socioambientais oriundos da produção da soja. Considerando a expectativa da expansão da demanda chinesa, é vital promover novas iniciativas de sustentabilidade e parcerias nos países importadores, particularmente na China.”, sugere Arnaldo.
Projeções do governo sobre a produção de soja no Brasil indicam que cerca de 10 milhões de hectares de terra podem ser convertidos em soja na próxima década. Alguns governos, empresas e investidores assumiram compromissos ambiciosos para desenvolver cadeias de produção livres de desmatamento – algumas já em 2020.  Os dados da Trase mostram que, durante a última década, empresas de soja que operam no mercado brasileiro independente de terem assumido compromissos com o desmatamento zero, estiveram expostas a semelhantes riscos de desmatamento.
“Os compromissos pelo desmatamento zero oferecem uma oportunidade crítica para mudanças positivas. A análise contida neste Anuário permite que empresas, governos e sociedade civil tenham acesso a informações para monitorar o impacto local dos compromissos e ajudar a identificar maneiras para o seu fortalecimento”, avalia Simone Bauch, Diretora da América Latina, Global Canopy.
*Trase é uma plataforma de informações independente, imparcial e baseada em dados científicos, desenvolvida para apoiar a tomada de decisões na transição para uma economia livre do desmatamento. A plataforma agrupa e analisa conjuntos de informação sobre produção, comércio e movimentação aduaneira. Para mais informações, acesse plataforma Trase.





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