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Uma conversa sobre o preço dos alimentos e as mudanças climáticas

16/01/2017

Os preços dos alimentos sobem, baixam e nós, consumidores, estamos acostumados a relacionar esses movimentos às estações do ano com alguma naturalidade. Quando “é a época” de um produto, é fácil encontrá-lo e a bom preço. Na entressafra, sabemos que é melhor procurar um substituto. Mas, por que andamos com a sensação de que essa lógica não funciona mais? Ou, não está sendo suficiente para explicar o que temos visto na natureza e, por extensão, nas feiras e supermercados?
O engenheiro agrônomo do IMAFLORA Eduardo Trevisan Gonçalves viaja constantemente pelo Brasil e a partir do que tem observado no campo, explica um pouco essa relação, quase invisível a olho nu, entre o esgotamento dos recursos naturais e o nosso orçamento doméstico.
Radar – Como esses fatores se inter-relacionam?
Eduardo – De maneira muito estreita, embora não pareça. Isso acontece porque o homem vem fazendo um uso desordenado do solo, com a derrubada de florestas nativas, falta de proteção de nascentes de água, com o uso incorreto de máquinas e agrotóxicos, por exemplo. Isso vem gerando desequilíbrios no meio ambiente e dificultando a produção de alimentos. O ciclo das chuvas se altera, e quando chegam o solo não consegue reter a água para o período de seca. Produtos químicos usados de forma inadequada matam insetos que fazem a polinização das plantas e a decomposição da matéria orgânica. Ações como essas, somadas a outras, em escala continental, causam problemas para a produção de alimentos.   
Radar – Pode dar alguns exemplos de produtos que sofreram variações de preços devido ao clima?
Eduardo – Podemos citar pelo menos três produtos que, no ano passado, tiveram seus preços aumentados em virtude das mudanças climáticas: a laranja, o café e o leite.
No ano passado, a laranja teve sua pior safra dos últimos 25 anos. Os produtores explicam que houve excesso de calor após a floração, dificultando a formação dos frutos. No caso do café, o estado que é o grande produtor do grão que consumimos internamente é o Espirito Santo, um estado sem histórico de seca. Acontece que no ano passado, choveu apenas 1/3 do usual, o que levou à quebra de aproximadamente 50% da safra. Finalmente, no caso do leite, as chuvas fortes no sul do país dificultaram o armazenamento e transporte do produto. Ao lado disso, a seca em Minas Gerais, outro estado produtor de leite, reduziu as pastagens e, portanto, a alimentação dos animais ficou prejudicada, o que levou a um aumento de, pelo menos, 25% nos preços aos consumidores.
Radar – Nesses casos, estamos falando de eventos climáticos extremos, diferentes dos fenômenos habituais?
Eduardo – Sim, eventos climáticos que são difíceis de se prever e que afetam a produção de alimentos em todo o planeta.
Radar – E há algum recado para o consumidor? Existe alguma contribuição ao alcance dele nesse processo?
Eduardo – De certa forma, os consumidores vão observar que os preços dos produtos agropecuários devem seguir variando devido às mudanças no clima. É papel de todos apoiar iniciativas que possam ajudar na conservação do meio ambiente porque são importantes para que os efeitos climáticos possam ser diminuídos. Por outro lado, existem muitos produtores, empresas e ONGs trabalhando para tornar a produção de alimentos mais sustentável e resiliente às mudanças climáticas. Adquirir produtos com certificação socioambiental ou até mesmo estar mais próximo dos produtores, conhecendo suas práticas, são ferramentas dos consumidores que contribuem para a melhoria das condições de produção agropecuária no Brasil e consequentemente com o clima.



            

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