A partir do manejo responsável, pirarucu gera mais renda para comunidades do Solimões
Comércio ético e preço justo da rede Origens Brasil® influencia mercado do pirarucu sustentável na Amazônia
06/08/2023
O manejo sustentável do pirarucu, um dos maiores peixes de água doce do país, viabiliza fonte de renda para comunidades que vivem no Rio Solimões e vem se estabelecendo como uma cadeia de grande importância para a região. Correndo risco de extinção por conta da atividade predatória, a pesca do gigante da Amazônia foi proibida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em 1996. Mais de duas décadas depois, há motivos para comemorar. Graças a pesquisas e trabalho técnico junto ao conhecimento tradicional, foram estabelecidas diretrizes para a pesca responsável e o animal voltou aos rios. Em 2022, os pescadores do estado do Amazonas comercializaram cerca de 62 mil unidades de peixe.
A metodologia do manejo da espécie na região foi criada pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) em conjunto com manejadores e vem sendo conduzida há 24 anos, tornando-se referência no estado do Amazonas com o objetivo de garantir a sustentabilidade da pesca, conservar o equilíbrio no ecossistema e, ao mesmo tempo, gerar renda para as populações locais. Administrada pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), a rede Origens Brasil® participa dessa cadeia desenvolvendo o trabalho de articulação em prol de negócios éticos da sociobioeconomia.
O Território do Solimões está inserido no Corredor Central da Amazônia. Por meio da rede Origens Brasil®, quatro instituições de apoio e organizações comunitárias viabilizam o fortalecimento da economia da floresta em pé na região, juntamente com 467 produtores cadastrados, que só em 2022 comercializaram quase R$ 620 mil, com transações justas de quatro produtos: pirarucu, artesanato de molongó, farinha e artesanato de teçume. “O resultado desse trabalho se expressa para além da produção e da renda gerada, contribuindo para a conservação de milhões de hectares de floresta em pé. As relações ainda estão em desenvolvimento e se aperfeiçoando, mas com atuação em rede e por meio dos critérios de comércio ético o caminho está sendo pavimentado olhando para o futuro”, complementa Luiz Brasi, coordenador da rede Origens Brasil® no Imaflora.
O primeiro ano de atuação da rede Origens Brasil® na região Solimões, 2019, movimentou R$ 38,3 mil e ainda não contava com articulação para comércio do pirarucu sustentável, mesmo com essa atividade econômica já bem desenvolvida na região. Em 2020, quando a Cocar & Co, empresa especializada em alimentos naturais e orgânicos da Amazônia, tornou-se membro da rede, o pirarucu ganhou destaque e o total comercializado chegou a R$ 102 mil. Ainda que a rede esteja em processo de amadurecimento, dois anos depois a parceria já fez crescer em meio milhão o valor comercializado por extrativistas e manejadores da região.
“A operação da Cocar &Co começou em 2013, como representante de frigoríficos locais em diversos pescados. Em 2019, passamos a comprar 100% do pirarucu por meio da rede no arranjo comercial porque sentimos a necessidade de unir forças com as comunidades e abraçar o comércio ético. O desenvolvimento do negócio é o que nos permite gerar impacto social na comunidade e comprar o pescado por um preço acima da média da região, influenciando o mercado local e valorizando o trabalho de manejo sustentável do pirarucu”, explica Paulo Oliveira, Sócio-Diretor da Cocar & Co.
O potencial de aproveitamento total do "gigante da Amazônia" e a sua importância para a geração de renda para povos ribeirinhos serão apresentados dia 05 de agosto na Churrascada, em São Paulo. No evento, o chef Saulo Jennings irá apresentar formas de preparo do peixe. E para fortalecer as comunidades que estão na ponta dessa cadeia, será realizado o leilão da primeira pintura em couro sustentável do pirarucu, feita pelo artista Raiz Campo. Toda a renda do leilão será revertida para o Acordo de Pesca do Setor Pantaleão da Reserva Amanã, grupo que conta com o apoio do Instituto Mamirauá.
O comércio da pele do peixe, chamada de couro sustentável, tem o potencial de aumentar ainda mais a importância da cadeia e promove um aproveitamento quase integral do animal. “Nossa presença no evento tem o objetivo de comunicar a riqueza gastronômica da Amazônia e valorizar o trabalho de extrativistas e manejadores”, conta Oliveira.
Alto valor e garantia de produção
O pirarucu pode chegar até 200kg e está entre as 10 principais espécies amazônicas em valor comercial: em 2022, a produção do pirarucu com supervisão do IDSM chegou a R$ 4 milhões, enquanto o total comercializado de outras espécies foi de R$ 580 mil.
“Para 2023, temos a expectativa de impulsionar a comercialização de 14,9 mil peixes. Em agosto, vamos fazer uma rodada de negócios para tratar dos acordos comerciais, e só iniciamos a pesca com adiantamento de uma parte do pagamento necessária para bancar os custos iniciais da operação. A maior parte da venda é tratada diretamente com frigoríficos, principalmente da Região Metropolitana de Manaus, e uma parte de 11% da produção está sendo negociada com a Cocar &Co. A principal diferença entre hoje e 24 anos atrás é que os estoques de pirarucu estavam muito baixos e não havia garantia de produção. Agora, quando chegamos na rodada de negociação, temos a garantia de que tem peixe”, conta Ana Cláudia, coordenadora do Programa de Manejo de Pesca do IDSM.
O Instituto Mamirauá dá suporte e presta assessoria técnica para 41 comunidades, 3 colônias de pescadores e 2 associações, além de supervisionar o cumprimento da legislação e a execução do plano de manejo do pirarucu aprovado ano a ano. Entre as exigências do Ibama estão a comprovação do processo de discussão com o grupo de manejo, estudo de zoneamento para definir as áreas em que cada grupo poderá pescar, descrição da repartição de benefícios e remuneração e a viabilidade econômica, especificando volume, comprador da produção e sistema de governança.
“O fomento para a produção do pirarucu sustentável necessita que o mercado valorize os manejadores e extrativistas, equiparando a negociação e fechando negócios com preços mais justos. Dessa forma será possível aliar geração de renda para comunidades, incentivos para a conservação da Amazônia e impacto positivo na economia por meio das relações comerciais justas”, completa Luiz Brasi.
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