As informações são do Timberflow, ferramenta que reúne ampla base de dados desenvolvida pelo Imaflora, que analisa setor madeireiro e aponta soluções para garantir uma produção sustentável e perene
Um estudo inédito revelou que o Pará, o segundo maior estado produtor de madeira do Brasil, possui área suficiente para migrar totalmente para o manejo florestal sustentável e ser capaz de suprir, indefinidamente, a sua produção atual de madeira em tora. A terceira edição do Boletim Timberflow, plataforma criada pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) para análise de bancos de dados públicos e geração de inteligência sobre a produção e movimentação de madeira nativa no Brasil, identificou que 18 milhões de hectares de terras públicas federais e estaduais com potencial para o manejo florestal poderiam dobrar a produção atual de madeira em tora, passando de 3 para quase 6 milhões de metros cúbicos de madeira em tora por ano.
Em 2019, o Pará produziu cerca de 3 milhões de metros cúbicos de madeira a partir da exploração regulada de florestas naturais, como o manejo florestal e o desmatamento autorizado. Até setembro de 2020, o número alcançado foi de 2,2 milhões de metros cúbicos. O volume de madeira em tora produzido sob concessões florestais em terras públicas federais e estaduais foi relativamente pequeno em comparação ao seu potencial de produção, compondo 10% do total produzido no Pará. Outros 13% da produção de madeira em tora foram produzidos em associações comunitárias, seja em terras públicas - como reservas extrativistas - ou em assentamentos rurais e territórios quilombolas.
As regiões produtoras do Pará foram mudando com o passar dos anos. Atualmente, mais da metade da produção se concentra ao longo da Calha Norte do rio Amazonas e no oeste do Pará, sendo que regiões produtoras mais antigas, como o leste e o sul do Pará, respondem por apenas 13% da produção total. Os principais municípios produtores do estado em 2019 e 2020 foram Santarém, Juruti, Prainha e Portel, todos no norte do Pará. Segundo Leonardo Sobral, gerente florestal do Imaflora, a principal explicação para esse efeito é a exaustão das florestas nas antigas fronteiras. "A partir dos dados do Timberflow, conseguimos perceber que a falta de ordenamento territorial tem levado à migração de empresas madeireiras da Amazônia ao longo das duas últimas décadas, por conta da exaustão das florestas de produção nas velhas fronteiras. Se a estratégia das concessões florestais não for efetivamente implantada na região do centro estuário e oeste do Pará as florestas continuarão sendo exauridas em ritmo acelerado e não restará outra opção além da migração para regiões de florestas mais conservadas, como o Amapá e o Amazonas", explica.
Existem hoje excelentes perspectivas para o desenvolvimento do setor madeireiro paraense em bases legais e sustentáveis. Uma parcela importante da solução está baseada na expansão do manejo florestal em terras públicas federais e estaduais, seja por meio das concessões ou do manejo florestal comunitário em áreas como reservas extrativistas e reservas de desenvolvimento sustentável. O Pará contém 70% da área submetida a concessões florestais e a certificação florestal FSC em toda a Amazônia, o equivalente a 1,8 milhão de hectares. Esta área seria capaz de suprir de maneira sustentável no longo prazo ao menos 1/3 da produção total de madeira em tora do estado nos dias atuais.
Os caminhos para uma produção sustentável e duradoura
Como soluções para esse cenário, o estudo aponta quatro iniciativas necessárias. A primeira é acelerar a implementação das concessões florestais a nível federal e estadual aliada a ações de aumento da viabilidade econômica e da competição pelas unidades de manejo florestal concessionadas. A segunda é o apoio do governo e da sociedade civil às comunidades detentoras de florestas e interessadas no manejo florestal, com acordos transparentes e equilibrados que visam preservar os valores ambientais e sociais essenciais a essas comunidades.
O terceiro caminho indicado pelo estudo é desenvolver uma estratégia com os mercados para que façam seu papel na promoção da legalidade florestal, tirando do mercado a madeira de origem duvidosa ou fraudulenta e recompensando os empreendimentos que produzem comprovadamente sob manejo responsável de suas florestas.
Por fim, a quarta solução seria elaborar uma estratégia de fortalecimento e investimento no parque industrial madeireiro da Amazônia, ainda são observados baixos rendimentos na conversão de madeira em tora para produtos serrados, excesso de desperdícios e poucas perspectivas de uso dos subprodutos como os resíduos industriais gerados.
"Vemos que o Pará tem um potencial muito grande de manter e até aumentar sua produção madeireira de forma perene se substituir a exploração predatória pelo manejo florestal. É possível o setor florestal do Pará migrar totalmente para uma atividade sustentável na perspectiva de produção e extinguir a madeira ilegal que roda no mercado", finaliza Leonardo.
A plataforma Timberflow http://timberflow.org.br/ foi desenvolvida no escopo do projeto "Legalidade e transparência florestal na Amazônia brasileira", com apoio da Good Energies Foundation.
Leia o estudo na íntegra aqui