O Fórum de Soluções foi criado pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal Agrícola (Imaflora) como um espaço de diálogo qualificado entre os atores do setor florestal, com o objetivo de proporcionar um ambiente de troca de informações e de experiências em busca de reflexões e soluções. Sua 7a edição ocorreu em um evento online no dia 23 de novembro e abordou o panorama do suprimento de madeira sólida no Brasil produzida a partir de florestas nativas e de cultivos florestais. Um estudo publicado recentemente pelo Imaflora revelou que existe a possibilidade de o país enfrentar um apagão de fontes de suprimento de madeira sólida nos próximos anos, devido à aceleração da demanda dos diferentes setores econômicos dependentes de madeira.
Segundo Marco Lentini, especialista florestal do Imaflora, a produção de madeira em tora nativa oriunda da Amazônia caiu de 28 milhões de metros cúbicos em 1998 para algo em torno de 10-12 milhões de metros cúbicos nos dias atuais. Esta diminuição da demanda por madeira da Amazônia nos principais mercados consumidores internos nacionais se deveu, em grande parte, pela disponibilidade de materiais mais baratos e com menores problemas reputacionais para a construção civil, como plásticos, concreto, aço, PVC, entre outros.
Atualmente, a produção total de madeira sólida no Brasil está na casa de 12,3 milhões de metros cúbicos, sendo 67% oriunda de plantios de Pinus, e apenas 1/5 de florestas naturais da Amazônia. Além disso, apesar de ter ocorrido uma progressão modesta na área sob cultivos florestais no Brasil entre 2013 e 2021, da ordem de 14%, o consumo de madeira pelos diferentes setores econômico têm evoluído em um ritmo mais acelerado.
Em suma, pode não haver madeira suficiente para sanar o déficit habitacional do país de modo consistente ao atingimento das metas climáticas nacionais, já que este insumo possui uma pegada ecológica e de carbono muito menor do que os demais produtos que têm sido empregados pelo setor de construção civil brasileiro. Nelson Barboza Leite, da Comunidade de Silvicultura, em sua apresentação no evento, ressaltou a importância de se criar uma política voltada para a madeira sólida (ou seja, produtos madeireiros sem mistura com outros insumos), incluindo financiamentos que viabilizem os cultivos florestais que necessitam de 15-20 anos para seu crescimento adequado a este uso.
Representando a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), Thais Linhares-Juvenal reforçou a fala de Nelson. Por meio da iniciativa SW4SW (madeira sustentável para um mundo sustentável), ela tem promovido a importância da madeira para o desenvolvimento das sociedades, a fim de atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU.
A FAO estima que o crescimento do consumo de madeira nos próximos 30 anos será da ordem de 30%, pois se reconhece que a madeira é um produto renovável, ambiental amigável e que o plantio e manejo de florestas são as melhores soluções baseadas na natureza para a mitigação de mudanças climáticas e para a captura de gases de efeito estufa. Já Mário Cardoso, Gerente de Recursos Naturais na Confederação Nacional da Indústria (CNI), ao fazer uma fala sobre as perspectivas para o suprimento de madeira de floresta nativas, defendeu que usar parte das Florestas Públicas Não Destinadas para o manejo florestal é uma solução para o abastecimento e para frear o desmatamento ilegal. Segundo o especialista, é preciso incentivar a ampliação das áreas de concessão florestal.
Em seguida, Fernando Castanheira, do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), apresentou as ações do governo brasileiro na área de fomento e promoção produtiva florestal, além dos instrumentos disponíveis para o ganho de escala no manejo e na restauração de florestas voltadas ao suprimento de produtos e de serviços.
Um dos pontos importantes do evento foi o debate sobre a necessidade atual de ações de conscientização e de comunicação junto aos mercados, uma vez que a madeira tem um estigma de não ser resistente e de demandar muita manutenção. Para Marcelo Aflalo, presidente do Núcleo da Madeira, a indústria da construção civil é extremamente conservadora e ainda não entendeu a madeira como um produto industrial de qualidade, sendo preciso se fazer um trabalho de educação do mercado da construção civil e do público final, de modo a trabalhar seus “corações e mentes.” Neste sentido, Aflalo ressalta que há questões importantes e urgentes no tema de suprimento de madeira do país que necessitam de integração entre os atores destas cadeias.
O estudo do Imaflora sobre a disponibilidade de madeira sólida a partir dos cultivos florestais brasileiros se mostrou alinhado às discussões trazidas por esta edição do Fórum de Soluções, no sentido de que o Brasil possui um grande potencial para contribuir com a mitigação das mudanças climáticas, garantir a conservação da biodiversidade e promover o uso de produtos florestais para o desenvolvimento de sociedades sustentáveis. Mas, para isso, é necessário que a sociedade brasileira e o instrumental de fomento e de promoção produtiva florestal caminhem de maneira coordenada e integrada para reconhecer de maneira consistente o papel da madeira no desenvolvimento de cidades sustentáveis.