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Verificação com propósito: integridade socioambiental no mercado de carbono florestal

02/09/2025

Por Natali Vilas Boas Silveira*

 

A corrida global por soluções climáticas baseadas na natureza colocou os créditos de carbono em destaque. Mas à medida que esse mercado amadurece, também se tornam mais visíveis suas vulnerabilidades. Não basta que projetos sejam rentáveis ou tecnicamente bem formatados. A integridade socioambiental precisa estar no centro da equação. É justamente nesse ponto que o Imaflora propõe uma nova abordagem para a verificação rating de projetos de carbono florestal.

 

Em um cenário repleto de denúncias sobre greenwashing, grilagem, falta de consulta às comunidades tradicionais e infrações trabalhistas, a verificação para classificação independente (rating) assume um papel decisivo. Desde 2022, o Imaflora tem se dedicado à realização de due diligence e verificações de terceira parte em projetos de carbono, tal como REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) e ARR (Arborização, Reflorestamento e Restauração), indo além das análises realizadas pelas agências de rating tradicionais, que focam na contabilização de carbono. 

 

Nossas análises confirmam a integridade socioambiental dos projetos desenvolvidos pelos padrões Verra e Gold Standard. Nosso diferencial? Vamos a campo com 30 anos bagagem – fomos o único verficador Verra no Brasil - e conhecimento do Imaflora no território brasileiro. Analisamos de forma crítica, apontando os riscos sociais, ambientais, legais e reputacionais dos projetos.

 

O serviço desenvolvido pelo Instituto segue uma metodologia própria baseada em padrões internacionais – como as Salvaguardas de Cancun, os critérios do Climate, Community & Biodiversity Standards (CCB), The Core Carbon Principles (CCPs) do ICVCM e IFC's Performance Standards on Environmental and Social Sustainability – e é estruturado para garantir que cada crédito de carbono comercializado tenha origem em projetos que respeitam direitos territoriais, promovem benefícios socioeconômicos duradouros e não aprofundam desigualdades locais. Também avaliamos critérios de compliance específicos conforme a necessidade do investidor ou comprador dos créditos.

 

Nosso processo é rigoroso: começa com a análise documental (desk review), passa por auditorias de campo e inclui entrevistas com comunidades locais, partes interessadas, trabalhadores e cooperativas, além de cruzamento de dados georreferenciados e pesquisa em fontes secundárias. Tudo isso para assegurar que práticas de conservação ou restauração não estejam mascarando violações de direitos ou impactos ambientais negativos.

 

Não há como falar de carbono florestal sem considerar quem vive e protege essas florestas. Projetos que restringem o acesso tradicional a recursos naturais ou que não garantem a repartição justa dos benefícios caminham na contramão da justiça climática. Por isso, nosso olhar se estende para aspectos como segurança no trabalho, uso de agrotóxicos, conformidade legal e impacto sobre a biodiversidade.

 

A proposta é simples e poderosa: garantir que cada crédito de carbono reflita não só uma tonelada de CO2 deixada de emitir ou removida, mas também uma oportunidade real de desenvolvimento sustentável local. Quando exigimos mais dos projetos, ajudamos a elevar o padrão do próprio mercado.

 

Essa abordagem mais exigente já demonstra resultados concretos. Em pelo menos um dos projetos verificados, as recomendações apontadas resultaram em ajustes relevantes já no primeiro ano, corrigindo não-conformidades e aprimorando processos sociais e ambientais. Essa é a contribuição que queremos deixar: um mercado mais íntegro, com padrões elevados e baseados em evidências. A demanda por créditos de carbono com alto nível de integridade é cada vez mais expressa por investidores, reguladores e pela própria sociedade - e nossa proposta responde diretamente a essa expectativa.

 

O Imaflora já realizou a verificação independente de nove projetos de carbono florestal, sendo seis apenas neste ano. Esses projetos, incluindo iniciativas de REDD+ e ARR, representam um volume estimado de cerca de 4 milhões de toneladas de COâ‚‚ evitadas ou removidas anualmente. Ao todo, eles abrangem mais de 700 mil hectares de florestas tropicais, entre áreas de conservação e de restauração. Por trás desses números, estão territórios vivos, comunidades envolvidas e cadeias produtivas que se fortalecem com responsabilidade.

 

Esses resultados mostram que é possível – e necessário – alinhar rigor técnico com compromisso socioambiental. Verificar um projeto de carbono não é apenas um ato de validação; é um passo em direção a uma economia mais justa e climaticamente segura. É por isso que o Imaflora continua aprimorando sua metodologia, ouvindo os territórios e colaborando com empresas e instituições que enxergam valor na transparência.

 

Porque, no fim das contas, cada crédito de carbono precisa carregar mais do que a promessa de neutralidade. Ele precisa contar uma história de floresta em pé, de gente envolvida e de futuro possível. E essa história só é legítima quando escrita com verdade, diálogo e responsabilidade.

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