Ao se deslocar pelo sudeste do Pará é comum adentrar pelas “estradas de chão”, por entre as grandes extensões de pasto do território. Na entrada do lote de uma família há um mini galpão com resfriador, indício das políticas públicas de financiamento definidas como estratégia de ocupação e desenvolvimento rural para o sudeste do Pará há 40 anos. A casa de madeira, as redes penduradas. Ao lado da cozinha uma horta, pequena para dar conta do número de crianças, além de certa produção de milho, mandioca e outros animais.
Na área produtiva o capim demonstra sinais de enfraquecimento, proveniente da pecuária extensiva e do uso de agrotóxicos voltados ao controle da cigarrinha da pastagem (Deois flavopicta) que se intensificou na região, resultado de grandes extensões de monocultivo. A ação contamina os corpos d 'água, diminui a fertilidade do solo e reduz a validade produtiva da área, pressionando a floresta. Também afeta a saúde das famílias, que comumente tem contato direto com os produtos aplicados. Outro fator relevante é o chamado “envelhecimento da população rural”, na qual, em busca de melhor qualidade de vida, a juventude rural migra para as cidades.
Uma solução pode ser observada no município de São Félix do Xingu/PA. Lá algumas famílias cultivam o cacau, cultura com grande potencial econômico e sustentável. Desta maneira, o programa Florestas de Valor, iniciativa do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), atua frente à uma grande oportunidade: a transição agroecológica e melhoria da produção do cacau. As atividades contam com patrocínio da Petrobras e Governo Federal, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
Na esfera produtiva o programa realiza o apoio à Sistemas Agroflorestais agroecológicos, incentivando cadeias diversificadas. A produção ocorre desde o primeiro ano, fortalece a segurança alimentar das comunidades e gera renda, por meio da produção de polpas de frutas e cacau. Entre os benefícios estão a diminuição de custos e a crescente fertilidade do solo, por meio de práticas que fortalecem a microbiota e seu equilíbrio dinâmico, por meio do uso de adubação verde e biofertilizantes.
Na região o programa tem se voltado ao fortalecimento de organizações como a Associação de Mulheres Produtoras de Polpas de Frutas (AMPPF), a Cooperativa Alternativa Mista dos Pequenos Produtores do Alto Xingu (CAMPPAX), e ações voltadas ao fortalecimento da Juventude Rural, por meio da parceria com a Casa Familiar Rural (CFR) no desenvolvimento de unidades demonstrativas e treinamentos, gerando possibilidades concretas de permanência no campo, atreladas a melhoria da qualidade de vida na região.
Assim, a agroecologia trata das dimensões ambientais, econômicas e sociais. Contribui com o fortalecimento da biodiversidade, da sociobioeconomia e com os processos de baixa emissão de carbono, garantindo que as famílias rurais façam parte da estratégia de desenvolvimento rural territorial em diversas regiões da Amazônia e do país.