Isys Heringer, pesquisadora da área de Cultura Alimentar e responsável por conduzir a capacitação em Oriximiná como consultora, destacou a importância da iniciativa: “Foram dias muito produtivos de escuta atenta, principalmente por trazer o olhar da agricultura familiar para os alimentos do próprio território e como podemos integrar esses produtos do PNAE nas escolas públicas.” A pesquisadora acredita que este primeiro passo abrirá caminho para a elaboração de novas receitas que respeitem o conhecimento ancestral e a rica cultura dos povos quilombolas de Oriximiná.
A riqueza de cores e sabores da culinária local ficou evidente na torta de goma de tapioca com frango, preparado por dona Marilda Otília de Oliveira. Há 16 anos dedicada à função na escola São Francisco, na comunidade quilombola de Poço Fundo, Marilda participou pela primeira vez de uma atividade voltada especificamente para as merendeiras e expressou sua alegria.
“A gente não tinha encontros como os professores, que têm suas capacitações. Hoje, me sinto feliz por estar aqui. E eu sempre digo: quem somos nós sem as crianças? Elas são valiosas para o nosso trabalho, então vamos tratá-las com amor e cuidado, assim como o ambiente onde trabalhamos”, compartilhou dona Marilda.
A expectativa do projeto é que as capacitações promovam maior empoderamento profissional, reconhecendo a grande importância da figura da agente de alimentação escolar e fortalecendo sua conexão com as raízes culturais.
“Trabalhamos com diversos atores do PNAE, mas nunca havíamos focado nas merendeiras. Essa era uma proposta que já tínhamos, pois elas são as profissionais que atuam com carinho e amor, e isso nos motivou a pensar em como melhorar seu trabalho. Este treinamento busca fortalecer e valorizar a dedicação dessas profissionais”, explicou Mateus Feitosa, analista sênior do Imaflora.
Valorização e Conexão: Pilares da Iniciativa
Além de criar conexões, o projeto busca aprofundar o conhecimento sobre a realidade das profissionais que atuam nas comunidades quilombolas de Oriximiná e valorizar seu papel. “Aqui, recebemos um feedback valioso sobre como o cardápio chega e como é executado nas escolas. Esta iniciativa é uma oportunidade para discutir boas práticas, criar novas receitas, promover o aproveitamento integral dos alimentos, e tudo isso é crucial para elevar a qualidade da alimentação nas escolas e resgatar a cultura alimentar local”, ressaltou a nutricionista da Semed, Kethellen de Paula Santos Alves.
Ediane da Costa Andrade, que trabalha na Escola Nossa Senhora da Piedade, na comunidade de Aracuã de Baixo, aprendeu desde cedo a arte de cozinhar com sua mãe. Sua principal expectativa na capacitação era a troca de saberes culinários: “A gente busca novas receitas, conhecimentos, e isso é muito bom porque temos a oportunidade de encontrar outras agentes, que compartilham suas receitas. Acredito que todas nós sairemos daqui com novas formas de preparar a merenda escolar.”
Mateus Feitosa concluiu que o valor essencial deste projeto é levar milhares de refeições nutritivas aos estudantes de Oriximiná. “Aqui a gente tem uma particularidade que são as comunidades quilombolas que resistem há mais de 200 anos nesse território e vem buscando melhorias no seu processo de geração de renda, de educação e tudo isso passa pela alimentação escolar”.
O projeto prevê ainda uma rodada de atividades práticas com as merendeiras, como uma imersão e prévia do concurso de saberes e sabores quilombolas, que será realizado na sede do município de Oriximiná, no estilo “Masterchef”, com a premiação de um freezer para a escola vencedora e a publicação de um livro com as melhores receitas desenvolvidas durante projeto.