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Contribuições da certificação socioambiental para a sustentabilidade da citricultura brasileira

22/01/2014



O alto uso de agrotóxicos, a grande geração de resíduos e a intensidade do trabalho no campo exigem atenção e melhorias para o setor.    
   
Por Luís Fernando Guedes Pinto, Daniella Macedo, Alessandro Rodrigues e Eduardo Augusto Girardi

O Brasil é hoje líder em produção e exportação de suco de laranja, que representam 3% do capital gerado no agronegócio brasileiro e 1% das exportações nacionais. Mais de 90% do processamento da fruta está concentrado em três empresas e aproximadamente 79% das áreas de produção de laranja e quase a totalidade das indústrias de suco de laranja estão localizadas no Estado de São Paulo. Minas Gerais é a nova região de expansão do setor.
Além da importância econômica, o setor tem grande relevância socioambiental por algumas razões. Os cerca de 1 milhão de hectares de pomares da fruta estão localizados em áreas de grande importância ambiental: nos ameaçados biomas da Mata Atlântica e do Cerrado e em regiões de recarga de aquíferos ou em áreas nas quais a água passou a ser um recurso escasso.
Exatamente nessas regiões, o cultivo é frequentemente irrigado. Além disso, o uso de agrotóxicos é intenso, em razão de uma grande e complexa incidência de pragas e doenças. Finalmente, por causa da necessidade de muitos tratos culturais (como monitoramento de pragas e doenças) e pelo fato de a colheita ser ainda cem por cento manual, o setor emprega grande quantidade de mão de obra. Para a safra, há muita contratação de trabalhadores temporários, homens e mulheres, incluindo migrantes.
A certificação socioambiental é um instrumento de mercado com potencial para conduzir mudanças de alguns setores produtivos rumo à sustentabilidade. Na citricultura brasileira, é um fenômeno recente, mas vem se tornando uma tendência. Entre os sistemas de certificação agrícola, o da Rede de Agricultura Sustentável (RAS)-Rainforest Alliance é o de maior importância para a citricultura.
Em dezembro de 2013, a RAS possuía no mundo 2.985.653 ha de área certificada. No Brasil, são 300.070 ha de área total certificada, principalmente de café, cacau, laranja e pecuária. Nesse universo, a laranja representa 39.184 ha de área total, sendo 20.663 ha de área de produção. Isso resulta em 724.928 toneladas de frutas, o que representa cerca de 6% da produção nacional.
Partindo desse cenário, realizamos um estudo com o objetivo de identificar os resultados preliminares da implementação da certificação socioambiental na citricultura brasileira, analisando o perfil dos primeiros empreendimentos certificados, o seu desempenho socioambiental e as áreas de melhoria para atendimento dos padrões de certificação. Para isso, foram analisados os relatórios de auditorias dos seis primeiros empreendimentos citrícolas certificados no Brasil e com certificados válidos pelo sistema da RAS-Rainforest Alliance Certified no início de 2013.
A primeira fase de implementação de normas de sustentabilidade no setor revelou a complexidade dos sistemas de produção presentes na citricultura brasileira e as implicações para a sua sustentabilidade. Observou-se que a produção é feita em grandes propriedades e com sistemas de produção de grande complexidade, com riscos para o meio ambiente e para os trabalhadores. Constatamos que as propriedades produtoras dedicam em média 30% de sua área para a conservação de ecossistemas naturais. Todavia, o intenso uso de agrotóxicos, a grande geração de resíduos das fazendas e a intensidade do trabalho no campo exigem atenção e melhorias para o setor.
A conquista da certificação pelos empreendimentos auditados até o momento indica que os riscos podem ser controlados e minimizados e a citricultura pode ser conduzida de maneira responsável, contribuindo para a conservação dos recursos naturais e o fornecimento de condições dignas e seguras de trabalho.
A melhoria contínua decorrente da certificação pode conduzir o setor a um novo patamar de sustentabilidade. Contudo, embora a certificação socioambiental seja um instrumento voluntário de mercado, é desejável que seja articulada com políticas públicas e outros mecanismos de estímulo a boas práticas de produção e socioambientais na citricultura e na agropecuária nacionais.
* Luís Fernando Guedes Pinto, Daniella Macedo e Alessandro Rodrigues são doutores em agronomia e atuam na área de Certificação Agrícola do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). Eduardo Augusto Girardi é também doutor em agronomia e pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura.
Resumo de artigo científico publicado na revista Citrus Research & Technology, v.34, nº1, p. 9-16, 2013. Disponível na íntegra em http://revistalaranja.centrodecitricultura.br/index.php?pag=edicoes_revista&edicaon=38.

Fonte: Instituto Ethos


 

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