Parceria entre Imaflora e Diaconia, iniciativa OPAC Sustentável faz parte do projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos, que envolve sete associações de pequenos produtores.
Agricultores produtores de algodão que fazem parte de Organismos Participativos de Avaliação de Conformidade Orgânica (OPACs) ganharam uma nova ferramenta de planejamento para promover seu crescimento organizacional. A “OPAC Sustentável” foi aplicada entre maio e junho de 2022 em sete Associações Rurais de Certificação Orgânica Participativa, voltadas à produção de algodão no semiárido nordestino. Os resultados da testagem demonstraram que todos os OPACs estão em uma escala intermediária de maturidade. A mensuração acontece depois de dois anos e meio de desenvolvimento da ferramenta pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) em parceria com a Diaconia, por meio do projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos.
A ferramenta parte da necessidade de mensurar a capacidade de autonomia e gestão dos organismos. O objetivo é aferir como a organização se comporta, explorando dentro de variáveis de gestão, comercialização, organização social, relação com o meio ambiente, práticas sustentáveis de produção, relação humana e de conhecimento. A “OPAC Sustentável” traz inovações na mensuração ao possibilitar o alinhamento com as principais certificações agrícolas. “Foram incorporados vários indicadores vinculados diretamente a protocolos de certificação. Mesmo que a organização avaliada não seja certificada, a lógica de avaliação aborda critérios chaves que devem ser atendidos, tais como salvaguardas sociais e ambientais e práticas transparentes de gestão”, explica Marcelo Carpintéro, coordenador de Projetos de Cadeias Agropecuárias do Imaflora.
Além disso, a metodologia de avaliação foi desenvolvida para promover mais autonomia ao agricultor. Uma das suas principais finalidades é que ela seja incorporada internamente pela organização, sem necessidade de auxílio de terceiros ou dependência de instituições de fomento ou investidores.
Resultados
Cerca de mil agricultores associados a OPACs em sete territórios dos estados de Piauí, Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas foram alcançados pela testagem da ferramenta. A aferição demonstrou que todos os organismos estão numa escala intermediária de maturidade, com níveis variando entre 3 e 4 (em uma escala que vai de 1 a 5). Os pontos críticos estão na gestão e na comercialização de produtos. “Por serem agricultores familiares que produzem em sistema agroecológico, os resultados relativos aos impactos ambientais são positivos, mas ainda precisam aprimorar seus mecanismos de mobilização social”, afirma Carpintero.
Além dos diagnósticos, a ferramenta também se propõe a aperfeiçoar o controle da qualidade orgânica da produção agrícola por meio de um diálogo com as peculiaridades que envolvem a convivência das famílias agricultoras com o semiárido.
A assessora técnica do Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos e coordenadora territorial da Diaconia no território do Sertão do Pajeú, em Pernambuco, Ita Porto, acredita que a ferramenta já tem trazido diferenciais. “Durante a passagem nos sete territórios já deu para sentir o quanto a ferramenta trará resultados efetivos e ganhos estratégicos no desenvolvimento de áreas como o cumprimento dos cuidados nos cultivos dos consórcios, no acesso a mercados, na participação com equidade de gênero e, especialmente, no protagonismo das famílias na autogestão de seus processos”, diz.
A presidente da Associação de Certificação Orgânica Participativa do Sertão do Apodi (ACOPASA), no Rio Grande do Norte, Antonieta Pierre, também observa as mudanças para os agricultores da região. “Essa ferramenta é nova, mas muito valiosa e vai servir como um ‘raio X’ do OPAC. Vamos estudar e aplicá-la no nosso cotidiano para aperfeiçoamento da associação”, afirma.
As perspectivas para o futuro da “OPAC Sustentável” são amplas. “Estamos recebendo sondagens para aplicação em outros projetos e no desenvolvimento de uma versão para ser um serviço do Imaflora”, afirma Carpintéro. O seu desenvolvimento teve início em 2019 e, entre as várias interrupções por conta da Covid-19, passou por mais de sete negócios comunitários de outras regiões e cadeias produtivas durante a sua fase de testes. “Em todos os casos foi avaliada como inovadora por permitir esse acompanhamento e atualização constante de seus indicadores e variáveis”, diz o coordenador de Projetos de Cadeias Agropecuárias do Imaflora.
Sobre o Imaflora
O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) é uma associação civil sem fins lucrativos, criada em 1995 sob a premissa de que a melhor forma de conservar as florestas tropicais é dar a elas uma destinação econômica, associada a boas práticas de manejo e à gestão responsável dos recursos naturais. O Imaflora busca influenciar as cadeias produtivas dos produtos de origem florestal e agrícola, colaborar para a elaboração e implementação de políticas de interesse público e, finalmente, fazer a diferença nas regiões em que atua, criando modelos de uso da terra e de desenvolvimento sustentável que possam ser reproduzidos em diferentes municípios, regiões e biomas do país. Mais informações: www.imaflora.org