Eduardo Trevisan Gonçalves*
Seja por exigências de compradores, para evitar crises reputacionais, ou para aumentar o acesso a mercados, uma coisa é certa: é cada vez mais necessário para empresas agrícolas contar com um trabalho de avaliação de sua gestão e de seus fornecedores em relação a aspectos sociais e ambientais. Afinal, como vimos em casos recentes, em momentos de crise não importa se um ilícito trabalhista foi cometido por uma terceirizada sem a ciência da contratante ou se promessas de conservação ou restauração de vegetação se mostraram falsas. As organizações precisam conhecer e se responsabilizar por seus fornecedores e se esforçar para não se envolver com qualquer ilegalidade.
Existem diferentes maneiras de se fazer a gestão de risco de sua operação e de sua cadeia. Uma delas é a verificação, que pode ser de segunda parte, quando a própria empresa cria um protocolo com critérios que seus fornecedores devem seguir e contrata uma empresa ou organização para realizar a verificação; ou de terceira parte, quando os critérios a serem seguidos já foram estabelecidos por uma certificadora, e outra empresa ou organização verifica se eles estão sendo cumpridos. Com isso, a empresa contratante poderá descobrir se seus fornecedores estão cumprindo a legislação trabalhista e ambiental, não estão envolvidos com nenhum ato ilícito, ou se determinado projeto de restauração florestal ou de créditos de carbono, por exemplo, estão cumprindo os critérios previstos.
Outra forma, ainda mais completa de uma empresa gerir riscos socioambientais, é a chamada devida diligência. Conforme recomendação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ela é feita tanto na empresa quanto na sua cadeia de fornecedores, incluindo uma avaliação de relatórios de sustentabilidade, normativas, políticas e códigos de conduta para fornecedores.
A devida diligência também analisa riscos como desmatamento ou desrespeito a direitos humanos, e quais procedimentos a empresa possui para mitigá-los. Após esta análise, ela identifica como a cadeia está estruturada, se é grande, pequena, se possui muitos ou poucos fornecedores, se são grandes ou pequenos, se a mão de obra é própria ou terceirizada, todos fatores que podem gerar maior ou menor risco. O diagnóstico também envolve a consulta a dados secundários e a partes interessadas, como associações e comunidade do entorno da empresa.
Feito esse diagnóstico, a empresa ou organização responsável pela aplicação da devida diligência vai a campo para verificar se os riscos levantados estão ocorrendo. Com isso, é elaborada uma matriz de riscos e um plano de ação para reduzi-los. Além disso, é preciso seguir monitorando a empresa e sua cadeia, para minimizar riscos já mapeados e evitar novos que possam surgir.
Outra etapa fundamental da devida diligência é a comunicação para a sociedade quando, de forma transparente, a empresa assume seus riscos e demonstra de que forma atua para mitigá-los. Por último, é importante manter um canal onde a sociedade possa denunciar violações e um procedimento de reparação de danos, seja próprio ou como parte de mecanismos setoriais, para que as denúncias possam ser investigadas e solucionadas.
Diante dos desafios sociais, ambientais e econômicos, é preciso que todo o setor caminhe junto em busca de melhores práticas e gestão de riscos. A verificação de salvaguardas socioambientais e a implementação de iniciativas de devida diligência são passos fundamentais que as empresas precisam dar para se proteger de casos de desrespeito aos direitos humanos e ao meio ambiente ao longo de sua cadeia para evitar que tais situações comprometam a credibilidade não somente da empresa, mas de todo o agronegócio.
*Eduardo Trevisan é diretor de ESG e Certificações do Imaflora
Artigo publicado originalmente no Globo Rural