Iniciativa desenvolvida pelo programa Boi na Linha, do Imaflora, será lançada em Webinar e busca prevenir a venda de carne bovina com irregularidades socioambientais
Em mais uma iniciativa inédita para promover a organização e a transparência da cadeia produtiva da carne bovina, o programa Boi na Linha viabiliza um sistema de monitoramento com base na capacidade instalada de gestão da cadeia de fornecimento e nos resultados das auditorias dos frigoríficos e nas informações rastreáveis dos lotes de carne. O serviço permite que varejistas verifiquem a aderência dos produtos em relação à sua própria política de compra de carne. O Protocolo de Monitoramento dos Fornecedores de Carne do Varejo foi construído pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) junto a varejistas que já monitoram seus fornecedores e com consulta de organizações da sociedade civil. O documento dá continuidade ao trabalho do Boi na Linha, que também organizou os protocolos de Monitoramento de Fornecedores de Gado da Amazônia e de Auditoria dos Compromissos da Pecuária na Amazônia.
Em Webinar a ser realizado nesta quinta-feira, 1 de setembro, às 10h, o coordenador de Cadeias Agropecuárias do Imaflora, Lisandro Inakake, vai apresentar as especificações do protocolo e trocar reflexões com representantes da Abras, Imazon, Marfrig e Carrefour (detalhes abaixo).
O Protocolo de Monitoramento dos Fornecedores de Carne do Varejo organiza passo a passo como a empresa pode participar da agenda de responsabilidade do setor. Ele pode ser utilizado por qualquer organização que comercializa carne bovina procedente da região da Amazônia, tendo como fornecedores abatedouros, frigoríficos, processadores, distribuidores ou outros arranjos comerciais. Lisandro Inakake de Souza destaca que o protocolo deve ser visto enquanto um mecanismo de simplificação para o varejista. “É uma oportunidade para catalisar processos. O varejo é um canal importante para dar transparência ao consumidor e, para isso, é necessário que as demandas aos frigoríficos sejam comuns e estejam organizadas por quem está em contato direto com os frigoríficos".
Num contexto de emergência climática e crescente atenção a escolhas responsáveis, é importante que o varejista se aproprie do protocolo e deixe claro que está fazendo o seu papel. A falta de unificação dos processos entre empresas era um dos maiores desafios para a compreensão da cadeia, o que impedia uma análise comparativa de performance e gerava uma “confusão de informações”, segundo Lisandro. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) também é um dos co-desenvolvedores do material e tem um papel importante para o avanço conjunto do setor na implantação de sistemas de monitoramento e rastreabilidade, principalmente através do suporte a empresas pequenas e médias. “O protocolo também se torna um novo instrumento de apoio aos associados da Abras”, destaca o coordenador do Imaflora.
O protocolo
O documento é resultado de um trabalho que durou cerca de dois anos e uniu os varejistas Assaí, BIG, Carrefour e Grupo Pão de Açúcar aos frigorífico JBS, Marfrig e Minerva em uma série de oficinas para entender as dificuldades e gargalos existentes no processo de monitoramento. Como representantes da sociedade civil, as organizações WWF-Brasil e National Wildlife Federation (NWF) foram consultadas. O material inclui empresas de todos os tamanhos e em diferentes momentos, desde uma implementação básica a melhoramentos.
O sistema propõe três níveis de exigência: o nível essencial prevê que o varejista solicite ao frigorífico apresentação periódica de informações de rastreabilidade das propriedades rurais que compõem os lotes de carne; No segundo nível, o varejista implementa um sistema de monitoramento próprio para verificar as informações recebidas dos lotes de carne bovina adquiridos. A cada nota fiscal emitida pelo frigorífico, o varejista recebe as informações de rastreabilidade do lote e monitora com base nos critérios definidos no Protocolo de Monitoramento dos Fornecedores de Gado da Amazônia (PMFGA).
O varejista no nível avançado, o terceiro, busca maior garantia quanto às informações recebidas e realiza uma auditoria de segunda parte nos frigoríficos que confirmam se o sistema de monitoramento está sendo efetivo na identificação das irregularidades, como desmatamento e trabalho escravo. A auditoria pode ser feita pela própria empresa ou por meio de auditoria contratada.
Como parte da agenda de engajamento dos varejistas, o Boi na Linha oferece apoio às empresas que responderam ao MPF para que analisem as suas cadeias. “Fazemos com que eles entendam o que significa exatamente o compromisso com a Amazônia e como suas cadeias se relacionam a isso”, explica Lisandro. É fundamental que o protocolo seja internalizado pelas empresas como procedimento operacional e elas assumam publicamente sua política de compra e seus compromissos.