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Técnicas de manejo sustentável substituem uso do fogo na agricultura tradicional da Amazônia

27/11/2018

Roça sem Fogo, uma das linhas de ação do programa Florestas de Valor, do Imaflora, contribui para diminuir riscos de incêndio e degradação do solo.

 

 

Moradora da comunidade quilombola de Arancuan de Baixo, às margens do rio Trombetas, em Oriximiná, no Pará, Andréia Gonçalves Lima se orgulha das mandiocas e abacaxis que estão crescendo em suas terras. Próximo às plantações de frutas e legumes crescem árvores de Cumaru e Ipê. A agricultora segue a lógica de sistemas agroflorestais (SAFs), que trabalha em conjunto espécies agrícolas e florestais, diversificando a produção das comunidades e garantindo a soberania alimentar.

 

 

Andréia é uma das participantes do Roça sem Fogo, uma linha de ação do Florestas de Valor, um programa do Imaflora, que recebe patrocínio da Petrobras e financiamento do Fundo Amazônia/BNDES, do iCS, do Governo do Canadá e da Humanize, desenvolvida desde 2014 como alternativa para um manejo sustentável. "O método consiste em preparar a terra para o plantio sem usar o fogo, utilizando facão, motosserra ou trator. Pelo procedimento, a capoeira - a mata em regeneração -, é cortada em pedaços menores para acomodar essa matéria orgânica. A decomposição dessa matéria gera nutrientes que ajudam a manter o solo em uso por mais tempo", explica o biólogo e mestre em Ecologia Aplicada Leo Ferreira, Coordenador de Projetos do Imaflora.

 

 

Tradicionalmente, a agricultura na região é feita de acordo com o ciclo de corte e queima, conforme explica Ferreira: "Os agricultores fazem a derrubada de uma área de mata ou capoeira e a queimam para limpar o terreno e posteriormente plantar nessa área". Com as primeiras chuvas a terra é lavada e logo se deteriora e é preciso buscar outra área para plantio, em uma troca constante. A Roça Sem Fogo pode dobrar ou até triplicar o tempo de utilização de uma mesma área para a agricultura.

 

 

Andréia planta mandioca, macaxeira e mudas vindas do projeto, como as de Cumaru e Ipê. Ela já sente os benefícios na conservação da natureza promovida pelo modelo. "A gente gostou porque não vai precisar queimar o mato. A fumaça faz mal, então é um projeto muito bom pra gente, sem queimar, sem prejudicar."

 

 

O Roça sem Fogo cresce ano a ano. "Em todo ano há novos agricultores aderindo à iniciativa, em alguns anos temos mais agricultores interessados do que conseguimos atender", conta Ferreira. No total, cerca de 150 famílias são beneficiados pelo Roça sem Fogo no Projeto de Desenvolvimento Sustentável - PDS Paraíso, um assentamento de colonização e reforma agrária localizado no município de Alenquer, e nas terras quilombolas de Oriximiná, ambos na região da Calha Norte, no Pará, um dos territórios de atuação do Florestas de Valor. Como ainda existe área para expansão nos dois municípios, eles continuarão como foco do trabalho nos próximos anos. Mas já existem planos de apoio em ações na região do rio Tapajós, nos municípios de Santarém e Belterra. A cada ano, cerca de 50 a 70 hectares recebem o Roça sem Fogo, tanto novas áreas, quanto áreas trabalhadas em dois anos subsequentes. Desde seu início, 170 hectares de terra já foram preparados sem o uso do fogo, gerando benefícios ambientais, com a redução do risco de incêndios florestais que muitas vezes são ocasionados pelo descontrole do fogo e redução da emissão de carbono e outros gases de efeito estufa que são emitidos para a atmosfera pela queima da vegetação.

 

 

A Roça sem Fogo e o Sistema Agroflorestal promove a diversificação da plantação, ajudando na regeneração e promovendo mais opções de renda aos agricultores. "Vocês precisam ver a mandioca como vem bonita, as frutas que a gente tira, principalmente os abacaxis", conta Andréia. A plantação ainda está em desenvolvimento, com sete meses de amadurecimento, e a intenção é vendê-la para a merenda escolar dentro do programa PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar).

 

 

O trabalho do Imaflora envolve o subsídio para utilização de tratores, planejamento do trabalho do solo e capacitações. "Com os treinamentos, muitos agricultores tornam-se multiplicadores, passando a técnica adiante", conta Ferreira. Além de subsídio e treinamentos, o Florestas de Valor fornece mudas e sementes, tanto para a produção quanto para adubação verde (plantas que acumulam nutrientes e servem como adubo para o cultivo).  

 

 

O Florestas de Valor é desenvolvido pelo Imaflora com o patrocínio da Petrobras, por meio do programa Petrobras Socioambiental. Recentemente, o projeto recebeu um aporte da iniciativa Aliança pela Amazônia, por meio do Instituto Clima e Sociedade (iCS), do Governo do Canadá e da Humanize. O recurso será utilizado para a expansão das ações no Projeto de Desenvolvimento Sustentável - PDS Paraíso, com a aquisição de implementos para tratores, realização de oficinas de treinamento e implantação da iniciativa, monitoramento e orientação técnica. "Já fizemos a aquisição de implementos para um trator, o que potencializará a capacidade anual de implantação", conta Ferreira.

 

Sobre o Imaflora

 

O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) é uma associação civil sem fins lucrativos, criada em 1995 sob a premissa de que a melhor forma de conservar as florestas tropicais é dar a elas uma destinação econômica, associada a boas práticas de manejo e à gestão responsável dos recursos naturais. O Imaflora acredita que a certificação socioambiental é uma das ferramentas que respondem a parte desse desafio, nos setores florestal e agrícola, com forte poder indutor do desenvolvimento local sustentável. Dessa maneira, busca influenciar as cadeias produtivas dos produtos de origem florestal e agrícola, colaborar para a elaboração e implementação de políticas de interesse público e, finalmente, fazer a diferença nas regiões em que atua, criando modelos de uso da terra e de desenvolvimento sustentável que possam ser reproduzidos em diferentes municípios, regiões e biomas do país.

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