TERRA DO MEIO: EMPRESAS E COMUNIDADES FIRMAM PACTO PELA SUSTENTABILIDADE
08/10/2014
Fonte: Boletim nº 1 do Projeto Florestas de Valor
Em 2009, quando chegaram à Terra do Meio (PA)
para se juntar a outros parceiros locais, os técnicos do IMAFLORA encontraram
uma situação típica de um modelo econômico que durou décadas na região. Era o
caso dos atravessadores, que se faziam de ponte entre os extrativistas e a
indústria, pagando aos extrativistas preços mínimos pelos produtos. Isso quando
não levavam castanha, óleos e borracha em troca de alimentos ou diesel.
Ameaçadas por grileiros, as comunidades também não tinham direito sobre seus
territórios, formados por grandes extensões de floresta nativa.
Foi preciso a ação de diversas organizações civis e do governo para que Terra do Meio se tornasse um mosaico de áreas protegidas, com predomínio das Reservas Extrativistas. A legalidade passou a garantir o direito de uso da floresta. E graças aos extrativistas, a integridade da floresta segue de pé.
“Essas comunidades têm uma relação profunda com a floresta. Por sucessivas gerações, os extrativistas aprenderam a retirar da mata os produtos necessários ao sustento e à manutenção da sua cultura. Ao mesmo tempo, eles ajudam a conservar, identificando e denunciando atividades ilegais, como retirada de madeira e garimpo”, ensina Patrícia Cota Gomes, engenheira florestal do IMAFLORA, uma das responsáveis pelo projeto Florestas Valor.
Ela conta que com o apoio do projeto foi possível reverter a lógica dos negócios na Terra do Meio. Primeiro, eles fizeram um diagnóstico da produção nas Reservas Extrativistas do Rio Iriri, do Rio Xingu e do Riozinho do Anfrísio e identificaram na borracha um potencial de mercado para as comunidades. Acontece que os atravessadores pagavam menos de dois reais por quilo.
“Era a regra do mercado. Quem não concordava, ficava de fora”, recorda a especialista do IMAFLORA. O jeito de furar o esquema foi falar diretamente com as indústrias que compravam a borracha para tentar ligar as duas pontas, sem os intermediários.
“As grandes empresas queriam garantias de volume, de qualidade, de entrega, de capacidade de produção, controle e toda a série de exigências típicas de quem opera profissionalmente no mercado”, avalia Patrícia Gomes. Mas as comunidades estavam desarticuladas e não conseguiam falar de igual para igual com os empresários. Foi aí que entrou o apoio técnico do projeto para buscar parceiros comerciais interessados em estabelecer relações diferenciadas.
“Atraímos algumas empresas e logo começou a tomar forma o Protocolo Comunitário, um documento que estabelece as bases para que as relações comerciais e a utilização da biodiversidade nestas áreas possam ser construídas respeitando os princípios de um comércio ético, e os valores e o modo de vida das populações da floresta”, explica Patrícia Gomes. Nessa forma de contrato, os dois lados se manifestam publicamente na comunidade, mostram suas expectativas, assumem posições, compartilham soluções e discutem o que pode ser bom para ambas as partes. Até chegar a um consenso. “Isso é novo no Brasil”, constata a especialista.
Opção amazônica – Sensível a esse apelo, a Mercur, líder na indústria de artefatos de borracha, decidiu aderir ao protocolo proposto, e aí começou a virada do jogo em favor dos comunitários. A empresa mandou representantes para a região e encontrou uma comunidade preparada para o diálogo.
O compromisso de entregar um produto de qualidade tinha como contrapartida da empresa uma relação de longo prazo, permitindo que os extrativistas pudessem também cuidar de suas roças, garantindo a segurança alimentar. Na ponta do lápis, o valor do quilo pago pelo látex dobrou.
Durante uma reunião de avaliação do projeto realizada no mês de maio deste ano, o diretor da Mercur, Jorge Hoelzel Neto, reafirmou o compromisso da empresa em continuar a adquirir a produção de borracha natural das comunidades. O anúncio animou os extrativistas. A empresa é hoje a que melhor paga pelo produto na região. A remuneração tem tido um efeito múltiplo na região. Ela estimula a retomada da cultura seringueira, incentiva as famílias a ficarem no campo cuidando da floresta e ainda faz surgir uma economia de base florestal que não derruba uma árvore sequer.
Para conferir a primeira edição do boletim na íntegra, clique aqui.
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Sobre o projeto Florestas de ValorO projeto Florestas de Valor existe para fortalecer as cadeias de produtos florestais não madeireiros, disseminar a agroecologia e conservar a floresta em três regiões do estado do Pará: na Calha Norte do rio Amazonas, na Terra do Meio e no município de São Félix do Xingu. O projeto apoia a implantação de sistemas produtivos responsáveis, conecta extrativistas e empresas na lógica do mercado ético e busca sensibilizar a sociedade para o consumo consciente de produtos florestais e para a conservação dos recursos naturais. Desde 2013, o projeto Florestas de Valor tem o patrocínio da Petrobras, como parte do Programa Petrobras Socioambiental, um dos instrumentos da política de responsabilidade social da companhia. Saiba mais em www.imaflora.org/florestasdevalor
Foi preciso a ação de diversas organizações civis e do governo para que Terra do Meio se tornasse um mosaico de áreas protegidas, com predomínio das Reservas Extrativistas. A legalidade passou a garantir o direito de uso da floresta. E graças aos extrativistas, a integridade da floresta segue de pé.
“Essas comunidades têm uma relação profunda com a floresta. Por sucessivas gerações, os extrativistas aprenderam a retirar da mata os produtos necessários ao sustento e à manutenção da sua cultura. Ao mesmo tempo, eles ajudam a conservar, identificando e denunciando atividades ilegais, como retirada de madeira e garimpo”, ensina Patrícia Cota Gomes, engenheira florestal do IMAFLORA, uma das responsáveis pelo projeto Florestas Valor.
Ela conta que com o apoio do projeto foi possível reverter a lógica dos negócios na Terra do Meio. Primeiro, eles fizeram um diagnóstico da produção nas Reservas Extrativistas do Rio Iriri, do Rio Xingu e do Riozinho do Anfrísio e identificaram na borracha um potencial de mercado para as comunidades. Acontece que os atravessadores pagavam menos de dois reais por quilo.
“Era a regra do mercado. Quem não concordava, ficava de fora”, recorda a especialista do IMAFLORA. O jeito de furar o esquema foi falar diretamente com as indústrias que compravam a borracha para tentar ligar as duas pontas, sem os intermediários.
“As grandes empresas queriam garantias de volume, de qualidade, de entrega, de capacidade de produção, controle e toda a série de exigências típicas de quem opera profissionalmente no mercado”, avalia Patrícia Gomes. Mas as comunidades estavam desarticuladas e não conseguiam falar de igual para igual com os empresários. Foi aí que entrou o apoio técnico do projeto para buscar parceiros comerciais interessados em estabelecer relações diferenciadas.
“Atraímos algumas empresas e logo começou a tomar forma o Protocolo Comunitário, um documento que estabelece as bases para que as relações comerciais e a utilização da biodiversidade nestas áreas possam ser construídas respeitando os princípios de um comércio ético, e os valores e o modo de vida das populações da floresta”, explica Patrícia Gomes. Nessa forma de contrato, os dois lados se manifestam publicamente na comunidade, mostram suas expectativas, assumem posições, compartilham soluções e discutem o que pode ser bom para ambas as partes. Até chegar a um consenso. “Isso é novo no Brasil”, constata a especialista.
Opção amazônica – Sensível a esse apelo, a Mercur, líder na indústria de artefatos de borracha, decidiu aderir ao protocolo proposto, e aí começou a virada do jogo em favor dos comunitários. A empresa mandou representantes para a região e encontrou uma comunidade preparada para o diálogo.
O compromisso de entregar um produto de qualidade tinha como contrapartida da empresa uma relação de longo prazo, permitindo que os extrativistas pudessem também cuidar de suas roças, garantindo a segurança alimentar. Na ponta do lápis, o valor do quilo pago pelo látex dobrou.
Durante uma reunião de avaliação do projeto realizada no mês de maio deste ano, o diretor da Mercur, Jorge Hoelzel Neto, reafirmou o compromisso da empresa em continuar a adquirir a produção de borracha natural das comunidades. O anúncio animou os extrativistas. A empresa é hoje a que melhor paga pelo produto na região. A remuneração tem tido um efeito múltiplo na região. Ela estimula a retomada da cultura seringueira, incentiva as famílias a ficarem no campo cuidando da floresta e ainda faz surgir uma economia de base florestal que não derruba uma árvore sequer.
Para conferir a primeira edição do boletim na íntegra, clique aqui.
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Sobre o projeto Florestas de ValorO projeto Florestas de Valor existe para fortalecer as cadeias de produtos florestais não madeireiros, disseminar a agroecologia e conservar a floresta em três regiões do estado do Pará: na Calha Norte do rio Amazonas, na Terra do Meio e no município de São Félix do Xingu. O projeto apoia a implantação de sistemas produtivos responsáveis, conecta extrativistas e empresas na lógica do mercado ético e busca sensibilizar a sociedade para o consumo consciente de produtos florestais e para a conservação dos recursos naturais. Desde 2013, o projeto Florestas de Valor tem o patrocínio da Petrobras, como parte do Programa Petrobras Socioambiental, um dos instrumentos da política de responsabilidade social da companhia. Saiba mais em www.imaflora.org/florestasdevalor
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