Logo

Diálogos Boi na Linha: reflexões e avanços da 3ª Edição em Brasília

01/11/2025

Brasília, 24 de Outubro de 2025 – A terceira edição dos Diálogos Boi na Linha transformou Brasília em palco para um debate estratégico sobre a pecuária sustentável no Brasil. O evento multissetorial, promovido pelo Imaflora em parceria com o Ministério Público Federal (MPF), com apoio do WRI Brasil e da TNC Brasil, e financiamento do programa AL-INVEST Verde | União Europeia, contou com a presença de 28 painelistas e reuniu cerca de 180 participantes para discutir a construção de uma agropecuária mais inclusiva, consolidando a rastreabilidade e a legalidade como eixos centrais de competitividade.

 

Mesa de Abertura: “Um Chamado à Construção Coletiva”

 

O tema da abertura, “Um chamado à construção coletiva por uma agropecuária sustentável e inclusiva,” destacou o papel estratégico do Programa Boi na Linha.

 

A mesa contou com: Marina Piatto, diretora-executiva no Imaflora, Daniela Baccas, chefe do Departamento de Sustentabilidade no BNDES, Dr. Ricardo Negrini, procurador da República na 4ª Câmara do MPF, e Drª. Luiza Cristina Fonseca Frischeisen, subprocuradora-geral da República e integrante da 4ª Câmara do MPF, que participou em vídeo.

 

Marina Piatto ressaltou o crescimento da instituição em soluções para o setor e a necessidade de articulação. “É fundamental valorizar o produtor, as indústrias, o setor financeiro e a sociedade civil, é essencial para o processo,” afirmou.

 

Daniela Baccas classificou o evento como um fórum crucial. “A agropecuária sustentável é absolutamente estratégica para o país, tendo um alto potencial para o cumprimento das metas climáticas brasileiras,” pontuou, ao citar que o BNDES está relançando o Fundo Nacional do Clima para a transição energética e sistemas agroprodutivos sustentáveis.

 

O procurador da República, Dr. Ricardo Negrini destacou a postura de diálogo e consenso da instituição. “Entendemos que dessa forma os resultados são mais eficazes.” Ele sintetizou as preocupações da agenda na transparência de dados e na reinclusão de produtores rurais.

 

No vídeo enviado especialmente para a abertura do evento, Drª. Luiza Cristina Fonseca Frischeisen mencionou o longo trabalho o trabalho que o MPF vem desenvolvendo ao longo dos últimos 16 anos pelo programa “TAC Carne Legal”. “Precisamos preservar a Amazônia e o Cerrado, e esta é uma ferramenta que busca incentivar a compra de quem não desmatou”, observou.

 

Caminho para o futuro

 

Com o tema “Produzir conservando e conservar “, o primeiro painel debateu como integrar ciência, políticas públicas, finanças e boas práticas. Participaram: Fabiana Luri Dias Doi Reguero, Head de Sustentabilidade na Amaggi, Maressa Vilela Bettencourt, coordenadora do Comitê de Sustentabilidade na Sociedade Rural Brasileira – SRB, Judson Ferreira Valentim, pesquisador na Embrapa e Paulo Sampaio, chefe da Divisão de Normas e Exigibilidades do Crédito Rural no Bacen.

 

Maressa Vilela enfatizou a necessidade de parâmetros nacionais para o setor. “Temos a oportunidade de transformar áreas degradadas em produtivas, mas precisamos de parâmetros próprios para medir as emissões do nosso rebanho, para que o Brasil não seja penalizado,” disse.

 

Refletindo sobre a tecnologia do campo aplicada à proteção ambiental, Fabiana Reguero, da Amaggi, destacou que a agricultura regenerativa é “um processo coletivo, baseado em ciência e prática, que transforma o modo de produzir”.

 

Nesse mesmo sentido, Judson Valentim, da Embrapa, lembrou que “80% dos pecuaristas brasileiros ainda não têm acesso à assistência técnica – e sem ela, não há sustentabilidade possível”. O pesquisador destacou, ainda, a realidade dos pequenos produtores em relação à inovação. “Precisamos mudar a questão cultural, com a ideia de que pasto é apenas capim. O produtor precisa ter acesso a conhecimento para adotar pastagens biodiversas que podem durar décadas,” destacou.

 

Por fim, fechando o Painel 1, Paulo Sampaio, do Bacen, detalhou a evolução das normativas do Crédito Rural. “A partir de 2026, o Banco Central vai exigir a verificação de supressão [vegetal] após 2019, reforçando o rigor nas regras de crédito rural,” informou, citando o avanço na mitigação de riscos sociais e ambientais.

 

Inspira Agro • Gisela Introvini

 

O momento Inspira Agro trouxe histórias de impacto e inspiração, como a de Gisela Introvini, superintendente na FAPCEN (Fundação de Apoio à Pesquisa do Corredor de Exportação Norte).

 

Com uma trajetória consolidada na produção de soja, Gisela destacou o papel do componente humano na transformação da agropecuária. “A transição agrícola e o sucesso na produção dependem, acima de tudo, de pessoas dispostas a fazer a diferença, unindo o olhar global com o conhecimento tradicional”.

 

Gisela conta que a virada em sua carreira aconteceu em 2012, quando foi convidada a iniciar o programa de produção de soja no Nordeste brasileiro. Desde então, ela tem se dedicado a integrar o olhar global com o conhecimento tradicional dos produtores locais, combinação que, segundo ela, é essencial para construir uma produção de soja que una segurança alimentar e sustentabilidade.

 

Legalidade é o novo idioma do comércio global

 

O segundo painel debateu o papel da legalidade socioambiental como eixo da competitividade internacional. Os convidados foram: André Lima, secretário nacional no Ministério do Meio Ambiente, Ana Doralina Alves Menezes, presidente da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável, Edegar de Oliveira Rosa, diretor de Conservação e Restauração de Ecossistemas no WWF-Brasil, Cíntia Oller Céspedes, gerente de Sustentabilidade na Febraban, Dr. Rafael Rocha, procurador da República na 4ª Câmara do MPF, e Silvio Arduini, gerente do SICOR no Banco Central do Brasil.

 

Em sua fala, André Lima, foi direto: “o poder público não é obrigado a subsidiar desmatamento. É fundamental a adesão do setor privado para que a legalidade socioambiental seja cumprida”. O secretário observa que o aumento pela demanda de alimentos implica na necessidade de aumentar a produtividade. “Por outro lado, quem compra e quem produz precisa atuar para reduzir emissões”, observou.

 

Em sua fala de Edegar de Oliveira Rosa corroborou o que disse que André Lima alertando para o risco da inação. “O desafio é acelerar as mudanças. O combate ao desmatamento deve ser visto como a defesa do próprio agronegócio, pois a agricultura baseada na chuva está em risco,” afirmou.

 

Ana Doralina defende que a pecuária brasileira já opera como parte da solução. “Precisamos sentar à mesa e trazer as diferentes visões, mesmo quando são antagônicas, para buscar um denominador comum. A pecuária é essencial para a resiliência, para o aumento da produtividade e da rentabilidade, e para o cumprimento das metas de sustentabilidade”.

 

O impacto das exigências internacionais foi levantado pelo Dr. Rafael Rocha, que citou o Regulamento Europeu de Desmatamento Zero (EUDR). “Apenas 38% dos fornecedores indiretos de nível 1 em uma amostra no Pará estavam em conformidade. O próximo desafio urgente é o monitoramento de indiretos,” alertou, sobre a conformidade no Brasil.

 

E sobre o aspecto financeiro, Cintia Céspedes, contou que a Febraban tem procurado atuar além do desenvolvimento da autorregulação (a SARB-26). “Temos trabalhado na capacitação de associações e na articulação com outras entidades, como a Abiec, promovendo espaços de diálogo e escuta. Também atuamos fortemente no fortalecimento do Cadastro Ambiental Rural (CAR), que é de extrema importância para as instituições financeiras”, comentou.

 

Cintia explica que a SARB-26 foi construída a partir de conversas com diversos atores. “Como costumo dizer, ela funciona como uma receita de bolo, porém, nós explicamos os ingredientes, mas não o modo de fazer. Cada instituição financeira tem liberdade para definir suas próprias políticas, dentro de um limite mínimo de sustentabilidade. A autorregulação não impõe o que cada um deve fazer, mas estabelece um padrão comum para alcançarmos o mesmo objetivo: evitar o desmatamento ilegal.”.

 

Em relação ao que defendeu Cintia, Sílvio lembra que o Banco Central “não é órgão ambiental.”. “Esse é um questionamento que recebemos que aparece cada vez que publicamos uma normativa. Não somos mesmo, nossa questão é estabilidade do sistema financeiro, estabilidade de poder de compra da moeda e promover o desenvolvimento socioeconômico.”, observou.

 

Rastreabilidade e Transparência: caminhos para a rastreabilidade total da cadeia da pecuária e da soja

 

Com foco na rastreabilidade total como pré-requisito de mercado, o terceiro painel reuniu: José Ricardo Ramos, presidente da Agrodefesa/GO, Eduarda Veiga, analista ESG sênior na CJ Selecta, Susy Yoshimura, diretora de Sustentabilidade no Grupo Carrefour Brasil, Bruno de Jesus Andrade, diretor de Operações no IMAC, Fábio Medeiros, diretor de Parcerias Estratégicas em Pecuária na TNC Brasil, e Dr. Ricardo Negrini, procurador da República na 4ª Câmara do MPF.

 

Representante da Agência de Agrodefesa de Goiás, José Ricardo reforçou que o estado já segue, há bastante tempo, as diretrizes nacionais sobre rastreabilidade. “Somos o terceiro maior rebanho do país e estamos efetivamente buscando implementar a rastreabilidade como ferramenta importante no dia a dia do produtor.”, explicou.

 

Segundo Eduarda Veiga, problemas parecidos ao da pecuária são vivenciados na cadeia da soja. Dentro da produção da CJ Selecta, diferentes mecanismos são aplicados para efetivar a rastreabilidade – a tecnologia é a grande ferramenta da empresa. “Desenvolvemos um monitor de sustentabilidade que nos permitiu automatizar as análises e integrá-las a um sistema de monitoramento. Hoje, conseguimos realizar avaliações tanto individuais quanto em larga escala, o que é fundamental para o nosso trabalho, já que boa parte dos nossos produtos é exportada para países como a Noruega.”, disse

 

A perspectiva do varejo foi trazida por Susy Yoshimura, do Carrefour Brasil. “O varejo busca garantir produtos sustentáveis e mitigar riscos. A rastreabilidade não é apenas uma exigência, mas também serve para promover práticas regenerativas,” ressaltou.

 

Outras iniciativas locais foram reforçadas. Bruno Andrade, do IMAC, ressaltou que a política de rastreabilidade não deve servir apenas para penalizar os produtores e citou o Programa Passaporte Verde, do Mato Grosso. “As forças devem ser somadas, justamente para que as produções não sejam penalizadas ou, então, não regularizadas.”

 

Fábio Medeiros, da TNC Brasil, defendeu a criação de soluções nacionais. “A conformidade dos produtos não é negociável. Defendemos que o Brasil deve criar suas próprias soluções, como o exemplo bem-sucedido do TAC da Carne,” disse.

 

Voltando ao debate, Ricardo Negrini, procurador da República, sugeriu um avanço pragmático. “Enquanto a rastreabilidade individual, o padrão ouro, não avança, é urgente progredir em soluções mais simples, como a vinculação dos bancos de dados de CAR e GTA,” propôs.

 

Inspira Agro • Mauro Lúcio

 

A segunda parte do Inspira Agro trouxe a visão do produtor com Mauro Lúcio Costa, presidente da Acripará e proprietário da Fazenda Marupiara. “O maior desafio para a adoção de tecnologias e práticas sustentáveis é o mindset. A rastreabilidade é a maior ferramenta de gestão e produtividade, e o pequeno produtor pode adotá-la, se tiver conhecimento e uma comunicação com ‘mais amor’,” compartilhou.

 

Mauro Lúcio destacou que o sucesso da pecuária sustentável no Pará é resultado de uma construção coletiva, marcada pelo diálogo e pela cooperação entre produtores, instituições e sociedade. Ele ressaltou a importância de mudar a mentalidade dos produtores para superar o “gap” entre as tecnologias disponíveis e sua aplicação prática no campo. Para ele, a sustentabilidade é uma ferramenta de prosperidade e legalidade, e o desafio atual está na conscientização e no amor pelo que se faz, mais do que em limitações financeiras ou técnicas.

 

Mauro também reforçou que o pequeno produtor tem condições de avançar em práticas como a rastreabilidade, desde que receba conhecimento e orientação. Defendeu ainda a necessidade de encarar os erros como oportunidades de aprendizado e enfatizou que o aumento da produtividade não depende da abertura de novas áreas, mas do uso eficiente das que já existem.

 

Inclusão Produtiva na Pecuária Sustentável

 

O painel final abordou o crucial tema da reinserção do produtor no mercado formal, buscando criar caminhos para a legalização e a inclusão produtiva. Debateram: Indara Aguilar, diretora de Mudanças Climáticas e Serviços Ambientais na SEMAS/PA, Paula Queiroz, diretora-executiva no IMAC, João Paulo Franco, coordenador de Produção Animal na CNA, Justiniano Netto, diretor jurídico na Unigrãos, Gabriel Amorim, procurador da República na 4ª Câmara do MPF, e Mauro Armelin, diretor-executivo na Amigos da Terra – Amazônia Brasileira.

 

Indara Aguilar detalhou a experiência no Pará: “A requalificação comercial permite o retorno do imóvel ao mercado formal após o isolamento da área irregular, ganhando prazo para a regularização. É um caminho concreto.”

 

Paula Queiroz explicou o funcionamento do PREM, programa de reinserção que alia regularização e aprendizado. Segundo ela, o foco é simplificar e humanizar o processo: “Menos é mais – quanto mais apertamos, mais o produtor se sente acuado. O PREM é um programa de conhecimento e de confiança mútua.”

 

Representando o setor de grãos, Justiniano Netto lembrou os avanços obtidos com o Protocolo Verde dos Grãos, iniciado em Paragominas, e sugeriu um “Refis ambiental” para facilitar a regularização de produtores em diferentes níveis de embargo.

 

Já o procurador Gabriel Amorim trouxe a realidade de Rondônia, marcada pela baixa assistência técnica e pelo avanço da soja sobre áreas de pecuária. Ele alertou que “o fortalecimento da pecuária de pequeno e médio porte é essencial para evitar o êxodo produtivo e o arrendamento predatório das terras.”

 

Em uma reflexão sobre a cadeia, João Paulo Franco questionou o conhecimento sobre a realidade do campo. “O avanço na pauta só acontece quando a cadeia olha o problema de forma unificada. Precisamos questionar: a cadeia realmente conhece a dor do produtor, especialmente os pequenos?,” provocou.

 

O encerramento trouxe um balanço sobre a necessidade da inclusão. “O número de produtores na ilegalidade estava aumentando. A reinserção comercial é necessária, mas precisa vir acompanhada da adequação total ao Código Florestal,” defendeu Mauro Armelin.

 

Lançamentos e Futuro

 

O evento foi finalizado com o lançamento do Manual de Diretrizes e Procedimentos para a Requalificação Comercial no Pará e da Plataforma Boi na Linha 2.0, além do lançamento das videoaulas das Oficinas Boi na Linha, ferramentas concretas para o avanço da pauta e desenvolvimento do setor.

 

Em seu discurso final, Marina Piatto (Imaflora) celebrou os resultados: “Os Diálogos mostraram que as cadeias da soja e da carne estão muito mais maduras, conscientes dos problemas e com mais clareza sobre o que é necessário para harmonizar produção e conservação.”.

Newsletter

Não perca nenhuma novidade ou oportunidade! Assine nossa newsletter e receba diretamente no seu e-mail atualizações sobre nossos projetos, eventos, cursos, publicações e notícias do setor.


Contato

Sede

Escritórios

    © Todos os direitos reservados.

    Desenvolvido por MarkCom.