O setor agropecuário apresentou em 2024 uma discreta redução de 0,7% nas emissões de gases de efeito estufa, mantendo-se praticamente estável em relação ao ano anterior: 626 milhões de toneladas de CO₂ equivalente, ante 631 milhões em 2023, apesar de a pecuária ainda contar com uma representatividade expressiva nas emissões de gases de efeito estufa do país, respondendo por 29% do total.
Nesta segunda-feira (3), foi divulgado a 13ª edição do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG). Projeto coordenado pelo Observatório do Clima, o SEEG desenvolve estudos para fornecer estimativas anuais de emissões de gases de efeito estufa (GEE) a nível nacional, estadual e municipal no Brasil. O estudo completo está disponível na plataforma do SEEG.
Os cálculos das emissões de diferentes setores são realizados por instituições que compõem o SEEG: IEMA - energia e processos industriais; IPAM - mudança de uso do solo; e ICLEI – setor de resíduos. O Imaflora é a instituição responsável pela geração das estimativas e análise dos dados do setor agropecuário. Em outubro de 2025, o SEEG/Imaflora foi reconhecido com uma premiação da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
“Para 2025, a tendência é de um aumento projetado em 2%. Apesar do crescimento esperado nas emissões, o setor pode ter uma importante contribuição para as remoções de carbono, associadas principalmente às boas práticas agrícolas, mas essas remoções precisam ser computadas nos inventários nacionais”, afirma a analista da área de Ciência do Clima do Imaflora, Priscila Alves.
"A principal fonte de emissão do setor pecuário continua sendo a fermentação entérica, o popular “arroto” do boi, que libera metano (CH₄), um gás com potencial de aquecimento 28 vezes superior ao CO₂. Essa categoria representa 65% das emissões da agropecuária (404 MtCO₂e)", explica Priscila.
Segundo ela, o rebanho bovino brasileiro teve redução de 0,2% em 2024, resultado associado a um recorde de abates, inclusive de novilhas, e à maior taxa de confinamento, que cresceu 11% no período. Estratégias focadas em uma melhor dieta dos animais, manejo dos pastos e a redução da idade de abate desses animais, tanto a pasto quanto em confinamento, podem contribuir para a redução das emissões de metano.
A agricultura, responsável por menor parte das emissões do setor agropecuário, também apresentou um leve recuo. O uso de fertilizantes nitrogenados, que libera óxido nitroso (N₂O), caiu 3,8%, e a aplicação de calcário, que emite CO₂, diminuiu 3,3%. Essas reduções levaram a uma queda nas emissões por solos manejados, de 187 milhões para 182 milhões de toneladas de CO₂ equivalente.
De acordo com Priscila Alves, as emissões do setor agropecuário “ficaram praticamente estáveis em 2024”, mas há uma tendência de crescimento de 2% em 2025. Ainda assim, ela destaca o potencial de o setor contribuir para as remoções de carbono, especialmente por meio de boas práticas agrícolas e manejo sustentável dos solos.
“As remoções por solos agrícolas aumentaram de 271 milhões para 281 milhões de toneladas em 2024. Infelizmente, por questões metodológicas, o Brasil ainda não monitora nem contabiliza oficialmente essas remoções, que o SEEG calcula há uma década e qualifica como ‘não contabilizadas no inventário’”, afirma.



