Isabel Garcia Drigo
Renata Potenza
Começou no dia 05 de junho, na Alemanha, a Conferência de Mudança Climática de Bonn, também conhecida como a pré COP. O encontro faz parte do processo de abertura das negociações da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e prepara as partes e observadores da sociedade civil para a COP 28 que acontecerá no final do ano em Dubai, nos Emirados Árabes.
Entre os temas principais da agenda está o Global Stocktake (GST) - o balanço global de emissões de GEE que irá medir o que as nações efetivamente estão fazendo para reduzir suas emissões e qual sua evolução em relação às metas estabelecidas.
Essa checagem periódica é de suma importância. A atual evolução global é insuficiente diante dos desafios que temos pela frente, como bem mostra o Sexto Relatório Síntese do IPCC lançado em março deste ano. Assim, a expectativa é que as conversas preparem o caminho para que as nações assumam compromissos mais ambiciosos para a transições necessárias, a energética, da agricultura, entre outras, e de forma justa para que seja possível chegarmos até o final do século sem que o aumento da temperatura média da Terra ultrapasse 1,5ºC - limite considerado possível para manutenção da vida humana na terra.
Em 2017, na COP 23, foi criado um grupo para reconhecer o potencial único da agricultura no combate às mudanças climáticas com um ciclo de atividades sendo conduzidas durante um período de quatro anos. O nome do grupo foi uma homenagem às instalações onde o governo de Fiji, que esteve na presidência daquela COP, manteve por anos uma estação de pesquisa e treinamento em agricultura considerada inovadora e uma referência para a agricultura de ilhas muito vulneráveis.
Um dos principais destaques da COP 27 foi a renovação do mandato do grupo, que passou a ser denominado Grupo de trabalho conjunto Sharm el-Sheikh sobre a implementação da ação climática na agricultura e na segurança alimentar. Portanto, se ampliou seu escopo e seu mandato por mais quatro anos, ou seja, até 2026.
Uma mudança significativa que chamou bastante atenção e foi saudada pelas organizações não-governamentais foi a inclusão do tema da mitigação. Contudo, o tema aparece com a ressalva de que “reconhecendo que a adaptação é uma prioridade para os grupos vulneráveis, incluindo mulheres, povos indígenas e pequenos agricultores.”
Outras decisões importantes foram a adoção de um relatório anual para reportar o progresso nas atividades do grupo, um portal na internet para publicação dos trabalhos e divulgação de resultados e iniciativas e, por fim, incentivos à formas híbridas de participação nas reuniões que forem programadas.
O texto da decisão tomada em Sharm El Sheik instituiu uma agenda de trabalho renovada para implementar os objetivos relatados acima. Em Bonn, o detalhamento desta agenda está em discussão. O que será feito até 2026 e como será feito? Por exemplo, está prevista uma série de workshops que servirão para ouvir os países e especialistas sobre as várias e diferentes abordagens que vão levar a agropecuária para um caminho de maior resiliência às mudanças climáticas. O financiamento para a transição justa na agropecuária, considerando os diferentes contextos é outro tema quente e importante, principalmente para os países menos desenvolvidos.
O Brasil está em uma excelente posição para demonstrar quais tipos de políticas públicas (ie. de crédito agrícola, de assistência técnica) e de modelos produtivos (i.e.intensificação, integração lavoura-pecuária, plantio direto) podem levar a uma agropecuária de baixas emissões, mais bem adaptada e resiliente. Para isso se concretizar é preciso também acelerar a expansão destes modelos dentro do país, escalonando a adoção dos modelos para o conjunto de produtores e produtoras rurais. Ainda, será necessário avançar e dar bons exemplos por intermédio da adoção de sistemas de monitoramento das técnicas e tecnologias descarbonizantes na agropecuária, comprovando os avanços à medida que vão ocorrendo.
Isabel Garcia Drigo é Gerente de Clima e Emissões e de Inteligência de Dados e Territorial no Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola).
Renata Potenza é Especialista em Clima do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola)