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Caminhos para adaptação do campo à realidade dos extremos climáticos

09/05/2024

Com a repetição de episódios climáticos no Brasil, serão necessárias medidas de adaptação também para as atividades agrícolas, somadas à conservação e restauração da vegetação

Em meio às especulações sobre o tamanho das perdas nas lavouras do sul do Brasil, resta a certeza de que o país precisa fazer a lição de casa para enfrentar as mudanças climáticas. É inevitável não se solidarizar e fazer o possível para ajudar os moradores do Rio Grande do Sul em tamanha tragédia, mas passado o momento de socorro às vítimas e estabilização do nível da água, é fundamental que o país priorize uma agenda de mitigação e adaptação ao que se tornou uma realidade da sociedade: viver sob os impactos da crise climática. 

 

O agronegócio responde direta e indiretamente por 40% do PIB gaúcho. Nesse espectro, o setor agrícola, no qual predominam as culturas de soja, arroz, trigo e milho, será o primeiro a sofrer com os efeitos das chuvas. “Boa parte das safras já havia sido colhida, mas só saberemos o aproveitamento do que restou no campo depois que as condições para o fim da colheita forem restabelecidas, assim como a logística de entrega e armazenamento”, afirma o engenheiro agrônomo Eduardo Trevisan, diretor de ESG e Certificações do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). 

 

O governo federal anunciou, por exemplo, que vai aumentar a importação de arroz para compensar as perdas estimadas. Já os produtos hortifrutigranjeiros, básicos no prato da população, também correm risco — tanto pelo ataque de pragas e doenças (em função da umidade) quanto pela dificuldade de entrega. 

 

Nada disso deveria surpreender. A região Sul vem sendo assolada por ciclones, tempestades extratropicais, microexplosões e tudo agravado por um dos El Niño mais intensos de que se tem notícia. Há quase uma década, modelos matemáticos apontaram que o Sul do Brasil sofreria com aumento de chuvas e enchentes, também em função do relevo das áreas próximas a Porto Alegre e do extremo sul do estado. Enfrentar a crise climática exige planejamento e ações em diferentes frentes para diminuir a vulnerabilidade da área. “A fórmula combina melhores práticas agrícolas, minimização de danos ambientais e investimentos na otimização dos processos pós-colheita e armazenagem”, defende Trevisan. 

 

No curto e médio prazos, será fundamental também restaurar e restabelecer os limites das áreas de preservação permanente (APPs) próximas de rios e nascentes. Boas práticas de conservação do solo ajudarão a diminuir a erosão, melhorando a infiltração de água e diminuindo o assoreamento dos rios pelo carreamento de terra para os leitos. Em um contexto nacional, é preciso reduzir ao máximo as emissões de gases de efeito estufa (GEE) nas atividades econômicas e produtivas, promover práticas responsáveis na pecuária, avançar na agenda de desmatamento zero, ampliar a restauração e o manejo florestal responsável, estimular o modo de produção de baixo impacto aliada à conservação, como as conduzidas por populações tradicionais e indígenas, entre outras diversas ações nas cadeias florestais e agropecuárias.

 

Os extremos climáticos serão cada vez mais frequentes, mas as soluções para evitar o avanço desse cenário já existem. “É fundamental que a sociedade se conscientize da gravidade da situação, incluindo o poder público, a quem cabe estimular e abrir caminhos para lidar com essa realidade”, conclui Trevisan.

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