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Comunidades do norte do Pará, atendidas pelo Florestas de Valor, enfrentam a mais grave estiagem da história da Amazônia

16/11/2023

Autor(a): Imaflora

Comunidades afetadas pela seca no município de Oriximiná, no norte do Pará, vão receber cestas básicas e kits de produtos para tratamento de água em ação articulada do programa Florestas de Valor, desenvolvido pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), que atendeu solicitação da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Município de Oriximiná (ARQMO). A campanha atende à população que enfrenta as consequências da mais grave estiagem da história da Amazônia. Os rios Amazonas, Madeira, Negro e Solimões estão no menor nível registrado em mais de 120 anos.

O município de Oriximiná está em situação de emergência, conforme decreto publicado no dia 11 de outubro. A prefeitura acatou parecer técnico da Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil que aponta desastre provocado pela seca do rio Trombetas e seus afluentes.

Segundo a Defesa Civil, 4.602 famílias, um total de 23.010 pessoas afetadas, estão em situação de vulnerabilidade, por falta de água potável, escassez de alimentos e isolamento social, devido à baixa das águas. O principal meio de transporte da região é o barco. Também são afetadas regiões do planalto, informa a Defesa Civil, e 27 comunidades que enfrentam dificuldades na coleta de água potável.

A ação emergencial articulada pelo programa Florestas de Valor será dirigida às comunidades que compõem a área de abrangência da ARQMO, informa João Romano, analista técnico do Imaflora. Serão distribuídas, segundo Romano, “mil cestas básicas para apoiar as famílias afetadas pela estiagem, cerca de 32 kits de equipamentos hídricos para abastecimento de água nas comunidades”. Também está sendo organizado o apoio logístico com embarcações, agentes comunitários e insumos para a operação. Esses itens foram adquiridos a partir da solicitação atendida pelo Instituto da Criança parceiro da Zurich, Instituto Clima e Sociedade - iCS, YPÊ/Química Amparo e Prefeitura Municipal de Oriximiná.

A região afetada pela seca em Oriximiná compreende oito territórios quilombolas, com 39 comunidades, totalizando aproximadamente nove mil pessoas. Técnicos, voluntários e agentes comunitários estão envolvidos no trabalho de socorro. “Nosso monitoramento é a partir dos diagnósticos realizados pelas associações quilombolas. Estamos dando apoio com nossas lanchas e combustível para isso acontecer”, informou Romano.

Os kits estão sendo construídos com suprimentos alimentícios, itens de limpeza e higiene. A distribuição se dará por diferentes meios, de Oriximiná até os territórios quilombolas. “Devido à seca, em alguns lugares a lancha não chega, só as pequenas embarcações, e necessita uma força tarefa para caminhar pelas praias até as comunidades. O apoio se dará durante o período de extrema seca atendendo ao decreto municipal de emergência”, disse Romano.

O Imaflora está mobilizando as organizações que podem apoiar as comunidades. O Instituto alimenta as organizações com informações e evidências necessárias (decretos, documentos de associações, contato de fornecedores dos insumos solicitados) para acionar os fundos emergenciais que, acostumados com essas logísticas, se encarregam de entregar os produtos de forma negociada com os parceiros locais.

Este ano, o programa Florestas de Valor completa 10 anos de atuação nessa região do Estado do Pará em que a seca extrema atinge a natureza, muda rotinas e impõe sacrifícios às comunidades locais. A distribuição de alimentos socorre aqueles que já estão passando fome, prejudicados pelo isolamento. Os kits de tratamento de água são necessários para garantir a saúde das pessoas que, nesse período, utilizam a água de cacimba para consumo e todas as atividades domésticas e de higiene.

ESCASSEZ E ISOLAMENTO

As comunidades produtoras dos municípios afetados pela seca na Amazônia relatam escassez de peixe, isolamento e dificuldades com a logística. Com a crise climática, os produtores do norte do Pará só esperam para fevereiro o crescimento no nível dos rios. "Todo apoio é bem-vindo, já que estamos passando por dificuldades devido à seca. Nossos rios estão muito baixos, em níveis alarmantes. As comunidades não conseguem se locomover nem executar suas atividades produtivas, por isso precisamos atuar para garantir alimentação, água potável e combustível", explica Ari Carlos Printes, morador do território Mãe Domingas e diretor da ARQMO.

Rogério Pereira, coordenador administrativo da ARQMO, informou que o maior problema causado pela seca nas comunidades quilombolas é a falta de água potável. “Todas as comunidades quilombolas foram afetadas pela seca. Umas estão em extrema vulnerabilidade”, assinalou. Segundo Rogério, a ajuda da prefeitura não chega às microvilas, nas regiões mais afastadas da sede do município de Oriximiná.

De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (SGB), a estiagem severa é resultado de uma combinação entre temperaturas anormalmente altas das águas do Atlântico Norte e a ocorrência do fenômeno El Niño. A mudança climática provoca impactos nas comunidades ribeirinhas, territórios indígenas e nas cidades ao longo das calhas dos rios, que têm sentido as consequências do aquecimento global.

CONSERVANDO PARA VALORIZAR

Em uma década de atuação na Amazônia, o programa Florestas de Valor, do Imaflora, desenvolve iniciativas que, voltadas para as comunidades, apontam a importância da estruturação da cadeia de produtos florestais não madeireiros e da agroecologia para produtores familiares, comunidades tradicionais, assentados e quilombolas do norte e do sudeste do Pará. 

As comunidades atendidas desenvolveram Sistemas Agroflorestais (SAFs) que regeneraram áreas degradadas do bioma amazônico, recuperando a fertilidade do solo, e estão contribuindo para a consolidação de práticas agropecuárias sustentáveis. A lógica prevê a conciliação entre produção e conservação, com o fortalecimento da economia florestal dos produtos da sociobiodiversidade, para fomentar a geração de renda, nas regiões abrangidas, a partir de atividades sustentáveis e que mantêm a floresta em pé.

Desde a implantação, os programas desenvolvidos com os cooperados têm resultado na retenção e aumento dos estoques de carbono. A redução das emissões de gases de efeito estufa se deve à implantação de modelos produtivos sustentáveis, como sistemas agroflorestais e silvipastoris intensivos, e à restauração de áreas degradadas. 

programa Florestas de Valor conta com  patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, e Governo Federal. Contribui para a permanência dos produtores em seus territórios e impede o avanço do desmatamento. Com a regeneração produtiva de áreas degradadas, além de gerar renda, contribui para a redução dos impactos das mudanças climáticas, como o que a região amazônica vive nesse momento de seca histórica.

Quem tiver interesse em ajudar a ARQMO seguem contatos para apoio direto à associação: ARQMO Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo, Município de Oriximiná Banco do Brasil Agência 1104-5 cc 23.489-3.