Responsável por 35% do PIB brasileiro, a agricultura familiar não parou em 2020, mas teve que se mexer para manter a competitividade. A estratégia bem consolidada do Imaflora no setor facilitou a oferta e a entrega de serviços de assistência técnica, capacitação, rastreabilidade e fortalecimento de organizações, como cooperativas e associações de produtores. Foi um ano de ganho de escala, com novas atuações e mais de 5.000 produtores envolvidos pelo trabalho do Imaflora.
“A estratégia de termos equipes locais, o esforço contínuo da equipe na comunicação com os parceiros e beneficiários e rígidos protocolos sanitários, permitiu que o nosso trabalho não parasse durante a pandemia, possibilitando o atendimento aos nossos públicos e gerando impactos positivos por meio da nossa atuação”, explica Eduardo Trevisan Gonçalves, gerente de projetos do Imaflora.
O Imaflora também continuou articulando parcerias entre empresas, cooperativas e associações, de forma a alcançar níveis mais elevados de sustentabilidade e qualidade. A Cargill, por exemplo, está apoiando a atuação do Imaflora junto a 150 famílias de São Félix do Xingu na recuperação de 300 hectares de terras degradadas, por meio do programa Floresta Produtiva. Em Medicilândia, a empresa financia o acompanhamento técnico e treinamento de mais de 50 produtores em técnicas de cultivo e uso eficiente de insumos para atender aos padrões de produção sustentável de cacau. A estratégia criada pelo Imaflora de abrir mercados para a produção sustentável, empregando uma técnica diferenciada e valorizando pequenos grupos de produtores, suas raízes e cultura, tem se mostrado bem-sucedida.
Sinal disso é a perenidade de alguns programas desenvolvidos com grandes empresas, como a Coca-Cola Brasil, que possui estratégia de adquirir toda sua matéria prima de guaraná no Amazonas, apoiada pelo Imaflora, que desenvolveu um sistema de rastreabilidade e treinamento de cooperativas e associações locais em 14 municípios amazonenses, beneficiando mais de 300 famílias. Outro exemplo é o programa Nespresso AAA de Qualidade Sustentável, que apoia a rastreabilidade e o mapeamento minucioso de riscos socioambientais em todos os elos da cadeia de suprimentos do café, além da capacitação e orientação para alavancar a performance dos produtos. O trabalho envolve hoje 1.500 fazendas de café. “A demanda pela certificação vem aumentado muito, pois está diretamente ligada a qualidade do produto que consumimos. Atualmente, mais de 110 mil fazendas parceiras em 17 países participam do nosso programa Nespresso AAA de Qualidade Sustentável™ e são auxiliados por mais de 450 agrônomos, que os ajudam a cultivar o café de forma ambiental, social e economicamente sustentável”, afirma Ignacio Marini, Business Executive Officer (BEO) da Nespresso Brasil.
“Nosso objetivo é seguir comunicando nossas ações e trabalhando para que mais pessoas saibam da importância de ter este cuidado, tanto com o meio ambiente, quanto com a comunidade cafeeira do país, para que sirva de exemplo para outras cadeias de produtos agropecuários”, completa o executivo.
Vale destacar que hoje 56% dos cafés Nespresso são de fazendas certificadas pela Rainforest Alliance. Por mais que a procura por certificação tenha se mantido em alta, as restrições impostas pela pandemia impediram o atendimento a candidatos à certificação agrícola. O trabalho da área se concentrou na manutenção das verificações, feitas à distância, e no planejamento estratégico para 2021. Mais do que conectar os produtores às empresas, o Imaflora reforçou a estratégia de preparar essas comunidades para os desafios do mercado, oferecendo uma consultoria estratégica e personalizada que busca criar as bases para uma gestão mais profissionalizada.
“Os benefícios são múltiplos: protagonismo, ampliação da segurança alimentar das famílias da região, aumento da cobertura vegetal e redução da degradação do solo. O trabalho feito em 2020 servirá como base para uma série de estudos sobre modelos de negócio de impacto, customizado para a realidade dos povos da floresta”, explica Roberto Palmieri, gestor do programa Florestas de Valor. É o caso das 20 agricultoras da Associação das Mulheres Produtoras de Polpa de Fruta (AMPPF), que receberam assistência para a criação de sistemas agroflorestais e treinamento focado em empreendedorismo feminino. A produção, antes restrita a frutas, hoje também abrange culturas como feijão, abóbora e milho. Graças ao trabalho realizado ao longo deste ano, está prevista para 2021 uma ampliação do negócio, com a venda de novos produtos para outras cidades do Pará. A Associação também sofreu os impactos da pandemia e não conseguiu realizar todas as entregas de polpas de fruta. Com o cacau tiveram mais sorte, e conseguiram manter as vendas. “Graças a Deus esse ano foi muito produtivo”, conta Maria Josefa Machado Neves, diretora da AMPPF. Ela acredita que o sistema de produção agroflorestal (SAF) adotado pelas integrantes da Associação pode servir de exemplo para quem busca práticas mais sustentáveis.
“Eu acho que o que estamos fazendo em nossa propriedade vai ser um grande exemplo para o pessoal que está fazendo queimada, porque eles estão vendo que a gente está sobrevivendo da floresta. Muitos estão seguindo já, estão começando a ver que dá resultado, que não é derrubando a floresta que vai se ganhar dinheiro. A gente está mostrando que a gente ganha dinheiro também da floresta”. Outras cadeias que colheram avanços em 2020 foram as da cana-de-açúcar e da pecuária. A verificação em campo feita pelo Imaflora para o Programa ELO, da Raízen, contribui para a promoção de boas práticas socioambientais nos produtores de cana-de-açúcar, matéria-prima da empresa. Atualmente, participam do Programa ELO cerca de 2.000 produtores (99% dos fornecedores com contrato de longo prazo da Raízen) em 5 estados do Brasil, aproximadamente 461.500 ha, que correspondem à cerca de 50% do volume de cana processado pelas unidades da companhia para a produção de açúcar, etanol e energia. O Imaflora também assumiu a verificação de Boas Práticas Agropecuárias e a análise de emissões de Carbono dos produtores envolvidos na parceria entre a JBS e a Liga do Araguaia, movimento que defende a adoção de práticas de intensificação sustentável da pecuária de corte na região do Vale do Araguaia.
“Essas parcerias demonstram que estamos no caminho certo para nossa atuação nos próximos 25 anos: a rastreabilidade, a capacitação, a indução contínua de melhores práticas e a estruturação de cadeias produtivas responsáveis, que têm um efeito cascata de incrementar a produção, a gestão e a reputação, além de contribuir para uma economia de baixo carbono, com mitigação significante dos impactos ambientais”, salienta Isabel Garcia Drigo, coordenadora de Clima e Cadeias Agropecuárias do Imaflora.
Confira o Relatório Anual do Imaflora de 2020 aqui