O crescimento do rebanho de bovinos e o uso de insumos emissores estão entre as principais causas da alta de emissões. Mas há saídas para a mitigação.
Pelo quarto ano, o setor de agropecuária brasileiro bateu o recorde de emissões de gases de efeito estufa, segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, lançados hoje (7/11). De acordo com o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), responsável pelo cálculo dessas emissões no SEEG, as atividades agrícolas responderam por 631,2 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) -- 2,2% a mais do que em 2022, devido principalmente ao aumento do rebanho bovino.
Sozinho, o metano resultante do popular arroto do boi (por meio da fermentação entérica) somou 355,1 milhões de toneladas de CO2e emitidas. É um ponto de atenção importante, uma vez que o Brasil é um dos 103 países signatários do Acordo Global de Metano, firmado na COP de Glasgow, em 2021, com o objetivo de reduzir em 30% as emissões desse gás até 2030.
A boa notícia é que o número total de emissões do país caiu 12%, chegando a 2,3 bilhões de toneladas de CO2e em 2023. A queda se deveu unicamente à diminuição do desmatamento, principalmente na Amazônia. Em outros biomas, houve alta e, quando se analisam os números por atividade, o aumento é liderado pela mudança no uso do solo –principalmente conversão de floresta, que correspondeu a 46%.
A última redução nas emissões da agropecuária no país foi em 2018. Desde então, elas vêm aumentando e registrando recordes. O crescimento do rebanho bovino, junto com o uso de calcário e fertilizantes sintéticos nitrogenados, que acompanha o aumento da produção agrícola, explicam essa performance que resultou em aumento de emissões.
Antagonicamente, o setor é um dos mais atingidos pelos impactos da crise climática. “Isso traz o desafio de alinhar a mitigação das emissões de gases de efeito estufa, buscando maior eficiência e produtividade no setor, em especial, com a redução de metano e a adoção de sistemas que geram sequestro de carbono no solo”, explica Gabriel Quintana, analista de Ciência do Clima, do Imaflora. Há caminhos para a mitigação das emissões do setor. “A opção por fertilizantes que não sejam de origem fóssil, a adoção de sistemas de produção e manejo mais diversos, como a integração-lavoura-pecuária-floresta e os sistemas agroflorestais, o abate precoce do gado de corte e a adoção de práticas regenerativas do solo e da água estão se tornando mandatórias para a continuidade da produção agropecuária brasileira, diante os impactos da crise climática sobre a atividade”, conclui ele.