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Agricultura regenerativa e seus desafios de tropicalização

26/09/2023

Nas últimas décadas, a agropecuária mundial tem passado por uma série de transformações com foco no aumento da produtividade e na melhoria das condições de produção como forma de garantir a sustentabilidade dos recursos naturais e humanos no longo prazo. Adicionalmente, com as regulações internacionais que limitam o desmatamento de novas áreas para a agricultura e a maior conscientização dos consumidores, existe a necessidade da aplicação de formas de produção mais responsáveis que conservem os ecossistemas e contribuam com a remoção de gases causadores de efeito estufa atmosféricos, também conhecido como processo de “fixação de carbono”. 

 

Agricultura sustentável, orgânica, agroecológica, conservacionista, regenerativa - vários nomes que de alguma forma tratam do conceito de responsabilidade e inteligência na produção agropecuária, visando a manutenção de boas condições do ambiente agrícola. 

 

Os termos agricultura e agropecuária regenerativas começaram a ser divulgados no início da década de 1980 pelo Instituto Rodale, sediado nos EUA, e tem como foco a recuperação da saúde do solo a fim de se garantir boas colheitas ou bom alimento para os animais. Nos últimos anos, um crescente número de empresas têm adotado políticas internas de fomento e disseminação de práticas de agricultura regenerativa entre seus fornecedores, tendo como foco o incentivo para a recuperação de áreas degradadas e melhoria das condições produtivas. Em muitos casos, usa-se também como estratégia de comunicação e marketing, buscando uma maior aproximação com fornecedores e melhoria na reputação. 

 

Na literatura, pode-se encontrar que a adoção das práticas de agricultura regenerativa tem como foco contribuir para a manutenção de solos férteis e saudáveis, tendo como base a redução do revolvimento do solo por máquinas pesadas, o uso do plantio direto, o favorecimento do acúmulo de matéria orgânica e a manutenção e aumento da porosidade. Essas medidas facilitam a infiltração e retenção de água, gerando condições favoráveis para a vida microbiana e o sequestro de carbono. Aqui no Brasil, a engenheira agrônoma Ana Primavesi foi uma grande precursora das boas práticas de manejo dos solos tropicais como forma de sustentação de uma agropecuária mais resiliente e sustentável. Sua abordagem poderia ser facilmente classificada como regenerativa.

 

Todavia, o grande desafio é levar esses conceitos aos maiores interessados: os produtores. Protocolos e certificações que já vêm prontos do exterior e não são adaptados às condições tropicais ou mesmo o fomento de práticas pouco inovadoras e sem muitos resultados no passado não trarão nenhum impacto significativo em escala. Na agricultura regenerativa verdadeira, o que se busca é transformar a relação com o solo, trazendo melhorias significativas do ponto de vista do diagnóstico, com análises e interpretações que conciliam aspectos químicos, físicos e biológicos, bem como na adoção de técnicas de mineralização, utilização de bioinsumos, rotação de culturas e implantação de coberturas.

 

No Brasil, existem diversas iniciativas que aplicam os princípios da agricultura regenerativa, tendo como grande exemplo o plantio direto, que quando bem aplicado, traz resultados expressivos na conservação e acúmulo de matéria orgânica, permitindo a melhoria da saúde do solo, economia com insumos e alta produtividade. Também podemos encontrar outros casos interessantes, como sistemas silvo pastoris para produção de leite, carne e madeira; e sistemas agroflorestais, que possuem grande diversidade de espécies na mesma área. Na cafeicultura, produtores têm experimentado uma verdadeira revolução nas práticas de manejo a partir da diminuição significativa do uso de herbicidas, arborização em áreas aptas e manejos que estimulam a melhoria da saúde dos solos gerando efeitos positivos em termos de produtividade e qualidade.

 

Eduardo Trevisan Gonçalves é Gerente de Cadeias Agropecuárias do Imaflora

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