Acredita-se que os primeiros Homo sapiens surgiram há 300 mil anos em algum lugar da África. Por muitos e muitos anos, nossos antepassados sobreviveram como caçadores-coletores até que há “apenas” 12 mil anos, as primeiras atividades ligadas à agricultura teriam acontecido, facilitando a fixação do ser humano em territórios mais propícios e, assim, o desenvolvimento de comunidades.
Somente nos últimos dois séculos, com a Revolução Industrial e o desenvolvimento de tecnologias ainda rudimentares, foi possível desenvolver alguns equipamentos rústicos, como enxadas, que auxiliaram os produtores no aumento de suas produções. Nesse período, o Brasil tinha como foco a produção agroindustrial de commodities exportadoras como açúcar, borracha e café. Até as décadas de 50 e 60, relata-se que o país ainda dependia fortemente da importação de produtos básicos para a alimentação de sua população.
Essa situação começou a mudar na década de 70, com a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e maiores investimentos em tecnologias aplicáveis à realidade do país. Atividades como melhoramento genético de sementes, desenvolvimento de variedades tolerantes e resistentes, mecanização e irrigação tornaram possível a exploração de novas áreas. Um exemplo foi a "colonização” do Cerrado, que só pôde ser explorado após o desenvolvimento de uma série de tecnologias.
O modelo de desenvolvimento “escolhido” pelo nosso país trouxe uma série de benefícios, como por exemplo a geração de divisas de exportação com as commodities, desenvolvimento de energias renováveis como a produção de etanol e produção de alimentos, fazendo do Brasil expoente em vários produtos agropecuários como carne, café, suco de laranja, soja, milho, algodão, leite e açúcar.
Ao mesmo tempo, esse desenvolvimento agropecuário trouxe grandes desafios e responsabilidades. Mais de 90% da nossa Mata Atlântica e 50% do nosso Cerrado já foram convertidos para outros usos, especialmente pastagens, agricultura e centros urbanos, destruindo nascentes, poluindo rios, degradando solos e extinguindo espécies. A cada dia, a Amazônia e o Pantanal tornam-se mais ameaçados por práticas predatórias, como o desmatamento, e pela falta de mecanismos de gestão e fiscalização mais eficientes.
Do ponto de vista social, a grande evolução da agricultura industrial nos últimos anos desfavorece os agricultores familiares, que perdem espaço para competir com grandes empresas em termos de produtividade e acesso à mercado, deixando suas terras e partindo para as cidades. Comunidades tradicionais e indígenas veem seus territórios invadidos e seus direitos ameaçados. Do ponto de vista dos trabalhadores rurais, embora avanços importantes tenham sido atingidos nos últimos anos, ainda são recorrentes casos de trabalhadores encontrados em condições análogas à escravidão.
As primeiras escolas de agronomia surgiram em 1865 e 1883, em São Bento das Lages (BA) e Pelotas (RS), respectivamente. No dia 12 de outubro de 1933, a profissão foi reconhecida. De lá para cá, esses profissionais tiveram que se adaptar às mudanças e necessidades de seus principais clientes: os agricultores e os consumidores. Afinal, o modelo de produção no nosso país passou da simples exploração dos recursos naturais para uma maior integração com a ciência, buscando adaptabilidade e produtividade. Atualmente, os engenheiros agrônomos e engenheiras agrônomas têm um papel fundamental de conciliar a produção agropecuária com o desenvolvimento sustentável.
Uma das grandes profissionais da agronomia no Brasil foi Ana Maria Primavesi. Ela faleceu em janeiro deste ano, mas durante seus 99 anos foi considerada uma das mais proeminentes profissionais de agronomia do país. Primavesi dedicou sua carreira na pesquisa e difusão da agricultura ecológica, além da importância do solo e sua vida, tese que atualmente foi reforçada pelos conceitos de agricultura regenerativa, agroecologia e sequestro de carbono pelo solo.
Nesse sentido, as mudanças profundas que têm acontecido no sistema agroalimentar estão oferecendo aos profissionais de agronomia grandes e novos desafios. Como exemplo, podemos citar o desenvolvimento de alimentos em laboratório, como carne e laticínios, que não vão precisar da criação de animais em escala, mas que certamente vão precisar de alguma fonte energética para a alimentação desses micro-organismos de laboratório. Outro exemplo é a busca crescente dos consumidores por alimentos produzidos de forma ambientalmente responsável, como é o caso da agricultura regenerativa, dos sistemas agroflorestais ou mesmo da expansão do mercado de produtos orgânicos. Para esse tipo de produção, normalmente não encontramos os tradicionais manuais e é necessário adaptar o conhecimento científico com o empírico e local. O uso de agrotóxicos ou “defensivos agrícolas” estão se modificando, afinal, produtores têm buscado formas ditas alternativas para controle das pragas e doenças, por meio de preparados com microorganismos. Esse tipo de prática já é possível ser encontrado em mais de dois milhões de hectares de grãos, especialmente soja, arroz, café e frutas só no Brasil.