Frente aos atuais desafios do enfrentamento da crise do clima, um dos eixos de atuação do Imaflora se concentra no uso da terra e mudanças climáticas. Se na maioria dos países desenvolvidos a dificuldade é em como reduzir as emissões advindas do uso de combustíveis fósseis, no Brasil as principais fontes de emissões de gases de efeito estufa são a Mudança de Uso da Terra - devido principalmente às queimadas e ao desmatamento -, e a agropecuária, com destaque para a criação de gado. Em 2021, conforme dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), as emissões do setor de agropecuária totalizaram 600 milhões de toneladas de CO2 equivalente. Já o setor de mudanças no uso da terra foi responsável pela emissão de 1 bilhão de tonelada de CO2 em 2021.
Em 2022, o Imaflora consolidou seu programa de carbono, o Carbon on Track, que desenvolve o cálculo do balanço de emissões de empresas, cooperativas e produtores em geral, e deu visibilidade ao primeiro conjunto de empresas e produtores que estão demonstrando uma evolução na sua pegada de carbono. “O Imaflora possui um primeiro conjunto de quem está aplicando boas práticas e reduzindo emissões e conseguiu dar evidência através da plataforma e do Fórum Futuro do Agro. Foi um passo importante para que dados que ficavam restritos à relação entre o Imaflora e parceiros se tornassem públicos”, afirma Isabel Garcia Drigo, gerente das áreas de Clima e Emissões e Ciência de Dados e Inteligência Territorial do Imaflora.
Nossa Plataforma de Serviços reunirá todas as soluções oferecidas pelo Imaflora, facilitando o acesso por parte de parceiros, investidores, organizações não governamentais, academia e sociedade em geral. A tecnologia é uma aliada para a transparência de dados de impacto da implementação de boas práticas na agricultura e pecuária. Para demonstrar o cumprimento de compromissos e o atendimento de critérios ESG (ambiental, social e governança, na sigla em inglês), cada vez mais empresas estão buscando ter a dimensão detalhada do impacto de sua atuação, tanto no escopo da própria empresa, quanto ao longo de sua cadeia de fornecedores. “Isso gera efeitos. Recebemos solicitações de empresas que querem medir sua pegada de carbono todos os dias. O interesse aumentou muito. 2023 será o ano em que conseguiremos visualizar o desempenho dessas empresas, que já estão há dois anos na plataforma, em reduzir os gases de efeito estufa”, aponta Isabel.
Entretanto, não são apenas empresas que querem saber em detalhes o quanto emitem, para poderem planejar suas metas de neutralidade. Organizações setoriais e cooperativas agrícolas também buscam a quantificação, como forma de verificar e demonstrar os resultados de boas práticas socioambientais de produção. É o caso do Cecafé, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil, que buscou o Imaflora para realizar um estudo aprofundado que analisou, inclusive, o nível de carbono no solo. A pesquisa concluiu que, na média das propriedades avaliadas, houve um balanço negativo de carbono de 10,5 toneladas de CO2eq por hectare ao ano. Ou seja, o café produzido com boas práticas de sustentabilidade sequestra muito mais carbono do que o cultivado no modelo tradicional. “Isso prova que as boas práticas e modelos de cafeicultura regenerativa, sustentável fazem a diferença para a conta das emissões. As grandes empresas estão respondendo a uma demanda de mercado, e estão se preparando para exigências em relação a emissões, como o Mecanismo de Ajuste de Fronteiras de Carbono, estabelecido pela União Europeia, que cobrará por produtos que têm uma pegada de carbono acima da média”, afirma Isabel.
Esta lei foi aprovada no final do ano pelo Parlamento Europeu e, em um primeiro momento, a taxação incidirá sobre produtos como aço, ferro, cimento, fertilizantes e eletricidade. Mas analistas acreditam que a lei possa ser estendida para produtos agrícolas e para a carne. “O que vai fazer essa pegada ficar maior é o desmatamento, e aí é um motivo para as empresas entrarem em suas cadeias de fornecimento e ajudarem a resolver o problema do desmatamento em fornecedores indiretos”, prevê Isabel.
Para que a neutralidade nas emissões de carbono seja alcançada, é preciso que o desmatamento seja zerado. Para alcançar esse patamar, será preciso que as empresas se engajem mais e olhem com atenção para suas cadeias. Pequenos e médios produtores podem ser influenciados pelas grandes empresas, quando elas exigirem critérios de sustentabilidade. A pressão pela descarbonização pode influenciar no não desmatamento e na adoção de boas práticas, como a construção de cercas, manejo rotacionado do gado e plantio direto. Fazer isso em escala será o grande desafio.
A ideia da Plataforma de Serviços do Imaflora é de que, ao concentrar todos os serviços oferecidos em um mesmo lugar, as empresas e os produtores consigam agregar valor ao que estão fazendo, podendo conciliar uma certificação com a mensuração de carbono, por exemplo. Além disso, atuando como uma vitrine, ela poderá influenciar outras empresas que, percebendo os resultados de concorrentes, poderão se engajar para alcançar os mesmos resultados positivos. A cooperativa de produtores de café MonteCCer, de Minas Gerais, a multinacional produtora de alimentos General Mills, a produtora de carne Minerva Foods, a produtora de ração animal Trouw Nutrition e o Cecafé são as primeiras organizações na Plataforma. “O legal é que não tem só empresas, tem o Cecafé, que é uma organização de exportadores de café, que quer influenciar seus pares, para que motivem os produtores. Esse é o grande diferencial do Imaflora”, destaca Isabel.
Os primeiros resultados em termos de acesso a mercados já começaram a aparecer: tanto a cooperativa de produtores de café MonteCCer quanto a Minerva conquistaram, a partir do trabalho desenvolvido pelo Imaflora de demonstração de baixas emissões, o selo de certificação da Preferred By Nature. A MonteCCer lançou o café carbono neutro durante o evento 1ª Jornada “O Mercado e o Café Carbono Neutro”, realizada em novembro, e a Minerva já exportou o primeiro lote de carne certificada de baixo carbono. “Temos no Imaflora uma aliada para desenvolvermos cada vez mais a evolução das boas práticas na cafeicultura. Juntos estamos aprimorando e compreendendo as questões desafiadoras do clima que muito tem nos preocupado”, afirma Regis Damasio Salles, superintendente da cooperativa MonteCCer. “Essa certificação conquistada com as informações demonstradas no programa Carbon on Track colaboram para a divulgação dos resultados”, completa.
Renata Potenza, Coordenadora de Projetos da Iniciativa Clima e Cadeias Agropecuárias no Imaflora, destaca outro aspecto de todo o trabalho realizado e demonstrado na Plataforma de Serviços. “O diferencial é que não estamos restritos a apenas uma área da empresa. É possível observar os resultados até a ponta, na venda do produto”, celebra Renata. FÓRUM FUTURO DO
AGRO DEBATE DESAFIOS DO SETOR PARA UMA ECONOMIA SUSTENTÁVEL
Agricultura de baixo carbono, boas práticas da pecuária para a redução de emissões, incentivos econômicos para uma agropecuária verde e como dar escala para este modelo: estes foram alguns dos temas debatidos ao longo da primeira edição do Fórum Futuro do Agro, uma parceria do Imaflora com a Revista Globo Rural, realizado em outubro. O evento reuniu executivos das principais empresas do setor, como Minerva, JBS, Marfrig e General Mills, proprietários de fazendas com boas práticas de sustentabilidade, como Fazendas Corumbiara e Guaporé, e Fazenda Jandaia, representantes do governo, mercado financeiro, academia e organizações da sociedade civil. Foi uma rara oportunidade de unir os diferentes elos do setor para debater oportunidades e desafios para o avanço da agropecuária em uma trajetória cada vez maior de baixo carbono. “A parceria com o Imaflora para a realização do 1° Fórum Futuro do Agro colocou luz sobre os potenciais da economia verde no Brasil em um evento de grande impacto, que mobilizou produtores rurais, lideranças, técnicos e a sociedade civil, gerando conteúdos vistos por milhares de pessoas em todas as nossas plataformas. Uma união estratégica, necessária e em prol de uma produção rural mais sustentável”, afirma Cassiano Ribeiro, editor-chefe da Revista Globo Rural.
* Esse texto faz parte do relatorio anual do Imaflora 2022. Confira o documento na integra aqui.