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Bons resultados na mensuração de carbono do solo podem gerar ganhos adicionais para o produtor

21/03/2025

Eduardo Trevisan e Thales Sattolo*

 

No quebra-cabeça da crise climática, o solo é peça fundamental para remoções de gases de efeito estufa da atmosfera. Explica-se: ele é um dos maiores reservatórios de carbono do planeta, capaz de armazenar cerca de três vezes mais carbono do que a atmosfera e a biomassa vegetal juntas. Daí, a importância da recuperação de áreas degradadas e de práticas conservacionistas, como a rotação de culturas e a intensificação do sistema produtivo, dentre outras. Além de benefícios ambientais, que hoje se convertem em diferenciais de mercado, a adoção de um manejo sustentável do solo pode se revelar uma fonte de ganhos adicionais para os produtores rurais, viabilizando a inserção no mercado de carbono ou a elegibilidade ao recebimento de pagamentos por serviços ambientais. 

 

A chave para acessar esses benefícios extras é a mensuração do carbono no solo, que permite entender a dinâmica e o impacto das atividades humanas sobre ele e quantificar a retenção de carbono propiciada tanto por um processo de recuperação de área degradada quanto por um manejo adequados. Os produtores estão atentos a essas oportunidades e já é perceptível um aumento na demanda por estudos técnicos e projetos relacionados ao carbono na agricultura, impulsionados por ferramentas e práticas socioambientais mais responsáveis, como o monitoramento de impactos ambientais e a agricultura regenerativa. Tanto o estímulo para relevância ambiental quanto a aplicabilidade da mensuração do carbono no solo por métodos de quantificação pavimentam essa via, guiada por uma combinação de benefícios econômicos. 

 

A redução de emissões e/ou remoções de gases de efeito estufa possibilita pleitear créditos de carbono para serem ofertados no mercado a empresas que precisem compensar suas emissões, enquanto a conservação de florestas nativas pode gerar pagamentos por serviços ambientais, por meio da manutenção do estoque de carbono. Existe ainda a possibilidade de agregar valor a produtos que apresentem neutralidade de emissões na produção. Igualmente importante é a potencial geração de empregos e renda devida ao desenvolvimento de novas tecnologias e soluções para dar escala à mensuração do carbono no solo.

 

Presente no solo na forma de matéria orgânica, o carbono desempenha papel fundamental na fertilidade, na retenção de água e de nutrientes, na estruturação do solo e na sua atividade biológica. Tradicionalmente, a determinação do carbono presente no solo é realizada por meio da quantificação direta dos seus estoques, que, por sua vez, são calculados levando em consideração a densidade do solo, a profundidade da amostragem e o teor de carbono orgânico encontrado. Esse método é o mais aceito e acurado para pesquisas e projetos geradores de créditos de carbono, embora tenha custo elevado e seja mais trabalhoso. 

 

Em função disso, outros métodos de quantificação vêm conquistando interesse, como o sensoriamento remoto e a modelagem ecossistêmica, ambos menos trabalhosos e custosos, apesar de exigirem alta qualificação técnica e disponibilidade de dados primários. No sensoriamento remoto, satélites são utilizados para obter dados da superfície e quantificar indiretamente o carbono do solo e, na modelagem ecossistêmica, modelos computacionais permitem uma quantificação indireta.

 

A mensuração do carbono no solo é fundamental para entender seu ciclo, avaliar o impacto das atividades humanas e desenvolver políticas públicas eficazes para a mitigação das mudanças climáticas. A análise frequente do solo para recomendação de adubação já é um procedimento bem estabelecido para todo e qualquer tipo de cultivo e propriedade rural, porém com alguns ajustes tecnológicos nesse procedimento, é possível mensurar também os estoques de carbono presentes, com o objetivo de relato e monitoramento em sistemas certificados. 

 

Somada a benefícios – como a possibilidade de acesso a mercados de carbono, pagamentos por serviços ambientais e desenvolvimento de novas tecnologias –, a mensuração do carbono no solo se torna um primeiro passo para pleitear benefícios econômicos adicionais e ganha status de um procedimento que precisa estar desde já no radar dos produtores rurais.

 

Artigo originalmente publicado em Globo Rural.

 

*Eduardo Trevisan é diretor de Certificação e ESG do Imaflora e Thales Sattolo é coordenador de Projetos e Serviços ESG do Imaflora