O Dia do Trabalhador Rural, comemorado na data de 25 de maio, busca reconhecer o trabalho feito por milhões de agricultores em todo o Brasil. E uma parcela importante desses trabalhadores são formados por produtores da agricultura familiar. Segundo dados da mais recente edição do Censo Agropecuário, de 2017, cerca de 3,8 milhões de estabelecimentos agropecuários são classificados como sendo da agricultura familiar, o que representa 77% do total.
Em termos de área, na época da pesquisa a agricultura familiar ocupava 80,9 milhões de hectares, ou 23% da área total dos estabelecimentos agropecuários brasileiros. São mais de 10 milhões de famílias nessa atividade, que é responsável por gerar renda para 67% dos brasileiros que trabalham no campo.
Valdenilton Lopes de Nina é um desses agricultores. Ele possui um lote de 20 hectares no Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PSD) Paraíso, um assentamento de colonização e reforma agrária localizado em Alenquer, no Pará. Com 48 anos de idade, sua vida toda foi no campo, lidando com a terra. Mas, há 11 anos, estimulado pelo programa Florestas de Valor, do Imaflora, desenvolve seu plantio seguindo o sistema agroflorestal (SAF), que reúne espécies agrícolas e florestais.
Nesse modelo, é possível diversificar a produção, gerando uma maior opção de renda para os agricultores, além de promover a soberania alimentar das famílias, que têm acesso a uma variedade maior de alimentos. Além disso, a plantação próxima de árvores gera benefícios econômicos e ambientais. As frutas das árvores podem ser comercializadas, e as árvores sequestram o carbono contribuindo com a regulação climática do planeta.
O Florestas de Valor leva técnicas de sistemas agroflorestais e outras como o Roça sem Fogo, promovendo o manejo do solo sem o uso do fogo, evitando incêndios e reduzindo emissões de gases do efeito estufa. As ações beneficiam cerca de 150 famílias nos municípios de Oriximiná, em comunidades quilombolas, e Alenquer, no PDS Paraíso, na região conhecida como Calha Norte do Rio Amazonas, no norte do Pará. Cerca de 150 hectares de terra já foram preparados com técnicas de sistemas agroflorestais e Roça sem Fogo desde o início do programa, em 2010.
Vadenilton consegue tirar sua renda da plantação de mandioca e da coleta e comercialização de sementes de cumaru, e produz também espécies como laranja, limão, cacau e feijão que, durante dois anos, forneceu para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Ao mesmo tempo que produz, Vadenilton garante a conservação do meio ambiente, ressaltando a importância do modelo de agroflorestas e também de Roça sem Fogo. "Com certeza melhorou muito após os SAFs. Com o projeto a gente conseguiu trabalhar com áreas mecanizadas, e dá para reaproveitar a mesma área. A gente fica mais tranquilo pra plantar cumaru e ir variando o plantio, porque sabe que no ano seguinte não vai ter fogo", explica o agricultor. Quando não havia o sombreamento dos SAFs, todo ano era preciso abrir uma nova área para o plantio. "Agora parou. Mais da metade do terreno é floresta, e a gente vai botando outras espécies", conta Valdenilton. O forte da produção é a mandioca e o cumaru, e as demais plantações servem para a variação de cultura.
O trabalho do Imaflora envolve também subsídios, treinamentos, fornecimento de mudas e sementes para a produção. Com isso, a experiência de agricultores como Valdenilton pode servir de exemplo e alcançar outros produtores. "Com os treinamentos, muitos agricultores tornam-se multiplicadores, passando as técnicas adiante", explica Leonardo Ferreira, Coordenador de Projetos do Imaflora.
Florestas de Valor
O programa Florestas de Valor, do Imaflora, busca fomentar atividades agroextrativistas e agrícolas de base ecológica na Amazônia para consolidar áreas protegidas, conservar recursos naturais e valorizar as populações tradicionais e agricultores familiares. O programa atua em mais de 4 milhões de hectares de áreas protegidas da Amazônia, nos territórios da Calha Norte do Rio Amazonas e no município de São Félix do Xingu, no Pará, contando com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental e recursos do Fundo Amazônia/BNDES. O território da Calha Norte no Norte do estado do Pará concentra o maior bloco de áreas protegidas de floresta tropical do mundo, abrangendo uma área superior a 20 milhões de hectares, abrangendo grande diversidade biológica e social, com povos indígenas, comunidades tradicionais e extrativistas.
Sobre o Imaflora
O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) é uma associação civil sem fins lucrativos, criada em 1995 sob a premissa de que a melhor forma de conservar as florestas tropicais é dar a elas uma destinação econômica, associada a boas práticas de manejo e à gestão responsável dos recursos naturais. O Imaflora acredita que a certificação socioambiental é uma das ferramentas que respondem a parte desse desafio, nos setores florestal e agrícola, com forte poder indutor do desenvolvimento local sustentável. Dessa maneira, busca influenciar as cadeias produtivas dos produtos de origem florestal e agrícola, colaborar para a elaboração e implementação de políticas de interesse público e, finalmente, fazer a diferença nas regiões em que atua, criando modelos de uso da terra e de desenvolvimento sustentável que possam ser reproduzidos em diferentes municípios, regiões e biomas do país.
Mais informações: www.imaflora.org