Donald Trump, um cético do clima, assumiu o governo dos
Estados Unidos. O impacto da novidade ainda é indefinida, mas a eleição de
Trump representa grande risco para o Acordo de Paris e todo o regime climático
internacional. De imediato, abala as negociações de implementação do acordo em
curso em Marrakesh, na CoP22. Pode provocar grande estrago no já desajustado
clima global que bate constantes recordes de anos cada vez mais quentes.
Trump disse durante a campanha que mudança do clima é um
engano ("hoax", em suas republicanas palavras) e seguiu delirante ao
afirmar que o acordo internacional era algo feito "por" e
"para" os chineses. Prometeu cancelálo assim que assumisse o cargo.
Suas bravatas, se virarem realidade, serão climaticamente
desastrosas. A campanha de Trump foi apoiada pelo lobby do carvão e do petróleo
e ele prometeu facilitar novas explorações, assim como construir o controverso
oleoduto Keystone, entre o Canadá e os EUA. É o desmonte da gestão Obama, que
foi em direção contrária.
Segundo a revista "Scientific American", Trump
já teria escolhido Myron Ebell, um conhecido cético do clima, para liderar a
transição na agência ambiental americana, a EPA. Se isso ocorrer, a estratégia
de Obama de relacionar mudança do clima a problemas de saúde e agir através de
decisões da EPA, evitando passar pelo Congresso americano, cai por terra.
Foi assim que Obama conseguiu aprovar medidas para
impulsionar as energias renováveis, limitar o avanço de termelétricas poluentes
e controlar as emissões dos carros. A meta dos EUA de reduzir emissões de gasesestufa
entre 26% a 28% em 2025 em relação a 2005 já estaria bem encaminhada.
A única boa notícia é que Trump é um enigma e pode não
ser um obtuso completo aos humores do mercado. Fazer parte do Acordo do Clima é
um bom negócio ou a opção dos EUA será ficar para trás da China e da Alemanha
na tecnologia das energias renováveis e da transição à economia do futuro? As
questões, agora são duas: quanto sua presidência mudará o curso atual de
descarbonização da economia americana e como a principal concorrente dos EUA, a
China, irá se comportar. No acordo bilateral que Obama fechou com o presidente
Xi Jinping em 2014, a China se comprometeu a aumentar a participação das
renováveis em sua matriz em 20% em 2030. É um compromisso gigantesco. Seriam
1.000 gigawatts adicionais de energia nuclear, eólica e solar em 2030.
É mais do que todas as termelétricas a carvão que existem
na China e próximo à capacidade total de geração elétrica dos EUA. O consumo do
carvão vem caindo há três anos na China, que investe tão pesado em energias
eólica e solar a ponto de derrubar o preço das renováveis no mundo. Diante
disso, os EUA de Trump ficarão ancorados ao carvão, o sensacional combustível
do século XIX?
Trump pode transformar tudo isso em um castelo de cartas
e desmontar as ações de Obama com um sopro? Pode, claro. Mas a revolução
econômica que o tratado prevê já está em curso, fora e dentro dos Estados
Unidos. "Donald Trump está para se tornar uma das pessoas mais poderosas
do mundo, mas mesmo ele não pode mudar as leis da física", disse, em Marrakesh,
o veterano ambientalista americano Alden Meier. "Quando a água chega à sua
porta, você se mexe. Não importa se você é republicano ou não",
prosseguiu.
Fonte
Cético do clima, Trump não pode desafiar a economia
09/11/2016
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