Iniciativas locais inovadoras demonstram que existem alternativas às atividades que destroem a floresta
Na Amazônia, iniciativas de negócios sustentáveis provam que a conservação da floresta é aliada da comercialização de produtos que são fonte de renda de comunidades extrativistas e agricultores familiares. Visando estimular essas atividades, o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) cria e apoia uma série de projetos que apresentam soluções inovadoras para a estruturação de cadeias produtivas da sociobiodiversidade. A criação de novos formatos jurídicos, marcas coletivas e parcerias entre comunidades indígenas e empresas sustentáveis são exemplos de arranjos que unem produção e conservação.
“Diante dos impactos gerados pela crise climática no mundo e da pressão sofrida por diversos territórios da Amazônia, a implementação de modelos de negócios sustentáveis é uma demanda urgente e que já vem ocorrendo na região”, afirma Patrícia Gomes, diretora executiva adjunta do Imaflora e gerente do Origens Brasil®. “A conservação de recursos naturais e a valorização das populações tradicionais e agricultores familiares são requisitos importantes quando se pensa em comercialização de produtos florestais.”
Um exemplo de iniciativa de negócio ustentável na Amazônia é a experiência da marca coletiva Inatu, projeto do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (IDESAM) que oferece apoio e fomento à produção florestal de 15 associações e cooperativas. Esse apoio ocorre por meio do compartilhamento do uso da marca com as organizações envolvidas no projeto, que conseguem comercializar seus produtos florestais amazônicos com maior industrialização e em maiores lotes de produção, além de obter selo da ANVISA. “É um caso muito interessante porque impulsiona cooperativas e associações que não conseguiriam fazer o marketing e distribuição de seus produtos sozinhas”, afirma Marcelo Carpintéro, economista especialista em Negócios Sustentáveis, que coordenou o projeto Caminhos da Floresta, uma série de estudos desenvolvidos pelo Imaflora que buscam ajudar a alavancar a comercialização de produtos da sociobiodiversidade e difundir conhecimentos para stakeholders que atuam nesse ambiente.
A inovação também pode ocorrer no formato jurídico das organizações, como é o caso da Cooperativa Kayapó de Produtos da Floresta (COOBAY), criada pela Associação Floresta Protegida (AFP) para atender as exigências legais de compra e venda de produtos e facilitar a comercialização. A AFP, que atua em frentes como proteção territorial e fortalecimento de cadeias produtivas, é uma associação que existe há vinte anos e representa comunidades do povo Mẽbêngôkre – Kayapó. Com a criação da COOBAY, as questões comerciais passaram a ser conduzidas de forma mais articulada. “A inovação foi a existência de duas personalidades jurídicas, o que garante maior segurança institucional, especialmente na distribuição dos resultados financeiros para os associados e cooperados”, explica Carpintéro. “Muitas organizações costumam fazer tudo sob um mesmo CNPJ por desconhecerem os riscos que podem correr, então esse é um exemplo muito interessante.”
A Terra Indígena Yanomami e seu povo vêm sofrendo diversas pressões de desmatamento e garimpo ilegal. Diante desse cenário, proteger seu território é garantia urgente para a sobrevivência desse povo e para a conservação da floresta em pé. A geração de renda é um dos pontos estratégicos na redução dessa vulnerabilidade. “É necessário dar cada vez mais visibilidade aos produtos coletados por essas comunidades, se quisermos que haja um modelo econômico que realmente respeite a floresta”, afirma Patrícia Gomes.
Um desses produtos é o Cogumelo Yanomami que, a partir de um modelo de negócio ético e sustentável, está presente no arroz 7 grãos para risoto da marca Mãe Terra, que pode ser encontrado online e nas principais redes de supermercados do país. Essa comercialização é fruto da parceria da marca com a rede Origens Brasil®, sistema de garantia que promove negócios sustentáveis na Amazônia em áreas prioritárias de conservação. A rede tem como um dos parceiros a Hutukara Associação Yanomami, que atua na defesa dos direitos dos Yanomami e na venda dos produtos sustentáveis desenvolvidos por esse povo.
Essa é a primeira mistura de cogumelos nativos da Amazônia no mercado brasileiro, iniciativa que impulsiona produtos da sociobiodiversidade e fortalece a fonte de sustento de comunidades locais. São 15 espécies diferentes de cogumelos coletados pelas comunidades Sanöma, parte do povo Yanomami, localizados no Território do Rio Negro. A região, que ocupa 25% de todo o estado do Amazonas, engloba 33 povos indígenas e populações extrativistas que ajudam a proteger a diversidade do Rio Negro. Além disso, o território abrange 25 Unidades de Conservação e um território Quilombola. “Territórios como esse prestam um serviço socioambiental importante a partir do modo de vida das comunidades locais, seja ao armazenar carbono em forma de árvores, ao contribuir com as chuvas de outras regiões do país e preservar culturas que são patrimônio da humanidade”, explica Patrícia Gomes.