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O papel das certificações socioambientais para a garantia de boas práticas

17/06/2024

Eduardo Trevisan, Edson Teramoto e Ricardo Camargo*

 

O rápido avanço das demandas por maior sustentabilidade na agricultura e pela conservação das florestas tem tornado cada vez mais complexas as cobranças por garantias e comprovações de boas práticas. Nesse cenário, as certificações socioambientais ganham espaço de destaque no mercado, aperfeiçoando-se e conquistando relevância e visibilidade em todos os níveis, influenciando desde mercado internacional até as escolhas do consumidor final. 

 

A certificação funciona como um importante sistema de gestão, cuja aplicação leva a uma diminuição dos riscos sociais e ambientais do negócio e, portanto, resulta também em uma ferramenta de proteção da reputação e imagem da empresa e de sua cadeia de suprimentos e fornecedores. Dessa forma, ser certificada auxilia e frequentemente até condiciona a possibilidade de uma empresa comercializar seus produtos em importantes mercados de exportação.

 

Por ser um dos precursores das certificações no Brasil, o Instituto de Manejo Florestal e Agrícola (Imaflora) analisa continuamente os impactos desse setor, que pode ter papéis e resultados diferentes, a depender do cenário local. Entre os vários benefícios que o processo de certificação traz ao produtor, estão a organização geral da propriedade, melhoria da qualidade do local de trabalho, progresso da gestão ambiental em temas como resíduos, proteção de áreas de conservação, uso da água, conservação do solo e, na área comercial, o potencial de alcançar mercados diferenciados. Em países com legislação ambiental e trabalhista frágil, um selo pode assumir o papel que o poder público falhou em exercer, e garantir o cumprimento de boas práticas. 

 

Entre outros exemplos importantes, a certificação de florestas naturais na Amazônia permite o uso econômico planejado e intensamente seletivo, resultando em uma estratégia efetiva para a manutenção das florestas em pé. A certificação de plantações florestais permite a destinação de aproximadamente 40% do total das áreas certificadas para usos destinados à conservação. Além disso, o respeito aos direitos trabalhistas e cuidado em relação aos diferentes atores envolvidos, como trabalhadores, comunidades locais, populações indígenas e tradicionais, são critérios avaliados no processo.

 

A certificação florestal tem sido uma força motriz no setor florestal há décadas, mas, à medida que o mundo continua a evoluir, também devemos continuar a evoluir a maneira como pensamos sobre as certificações. Por liderar esse mercado pelos sistemas de FSC e PEFC, o Imaflora avalia constantemente novas tendências e tecnologias para aprimorar as práticas de certificação, a fim de manter as empresas alinhadas com as demandas atuais e futuras do mercado.

 

Quando o Imaflora trouxe a certificação Rainforest Alliance para o Brasil, no início dos anos 2000, não havia um conhecimento amplo sobre os benefícios desses selos. Hoje, as empresas enxergam as certificações como ferramentas para identificar riscos socioambientais. Considerando que boa parte dos requisitos exigidos pelos esquemas de certificação são cumprimento das legislações, ao se adequar para obter um certificado, a empresa toma medidas preventivas aos riscos de passivos trabalhistas e ambientais. Em 2003, o primeiro certificado Rainforest Alliance foi emitido para uma fazenda de café no cerrado mineiro. Desde então, o número de certificados no país cresceu para aproximadamente 700 e ampliou para diversas culturas, como laranja, uva, manga, olivas e erva-mate.

 

Apesar dos benefícios oferecidos, as certificações não devem ser vistas como soluções completas para os complexos desafios socioambientais. Isso porque a certificação e as organizações certificadas não substituem o papel do poder público na regulação das atividades privadas ou na promoção de desenvolvimento socioeconômico. A ação da sociedade civil organizada no relacionamento diário com empresas privadas e governos locais também é fundamental para que se alcance desenvolvimento socioeconômico nas regiões de propriedades certificadas.

 

*Eduardo Trevisan é diretor de ESG e Certificações do Imaflora, Edson Teramoto é gerente de Certificação Agrícola do Imaflora e Ricardo Camargo é gerente de Certificação Florestal do Imaflora

 

Publicado em Vozes do Agro - Globo Rural.