Nem
tanto o lucro. O que a Mercur obtém dos seringais da Terra do Meio, no
centro-oeste do Pará, é muito mais do que o látex utilizado por ela na fábrica
de artefatos de borracha no sul do país. Pioneira, a empresa atua no ramo desde
1924. Os primeiros lotes de borracha natural que ajudaram a consolidar a
indústria vieram da floresta amazônica. Mais tarde, o abastecimento passou a
vir dos seringais cultivados na região Sudeste, mais próximos e com logística
bem menos complexa.
Mas
há quatro anos, a empresa decidiu retomar a compra de borracha dos
extrativistas da região. A opção foi além da visão puramente lucrativa.
Incentivada por organizações que atuam nas Reservas Extrativistas da Terra do
Meio com a criação cadeias produtivas sustentáveis, a Mercur decidiu apostar em
uma estratégia de longo prazo, onde o que conta é a floresta em pé e o modo de
vida dos extrativistas que ajudam a conservar a floresta.
Entre
os articuladores da reaproximação da empresa com as comunidades da Amazônia
está o IMAFLORA – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola, que
trabalha na região por meio de projetos entre eles o projeto Florestas de
Valor, iniciativa que promove a conservação da floresta amazônica ao fortalecer
o mercado e as cadeias de produtos florestais não madeireiros e disseminar as boas
práticas agrícolas. O projeto está em andamento desde 2009 com apoio do Fundo
Vale. Desde 2013, o projeto conta com patrocínio da Petrobras e participa do
Programa Petrobras Socioambiental, um dos instrumentos da política de responsabilidade
social da companhia.
Opção amazônica – No início de maio,
durante uma reunião de avaliação do projeto realizada na Resex Rio Xingu, o
diretor da Mercur, Jorge Hoelzel Neto, reafirmou o compromisso da empresa em
continuar a adquirir a produção de borracha natural das comunidades
extrativistas das reservas do Riozinho do Anfrísio, Rio Xingu e Rio Iriri –
todas na Terra do Meio.
O
anúncio animou os extrativistas. A empresa é hoje a que melhor paga pelo
produto na região (cerca de três vezes mais que o valor local). A remuneração
tem tido um efeito múltiplo na região. Ela estimula a retomada da cultura
seringueira, incentiva as famílias a ficarem no campo cuidando da floresta e
ainda faz surgir uma economia de base florestal que não derruba uma árvore
sequer.
“O
que compramos na Amazônia, porém, ainda é pouco, são cerca de duas toneladas e
meia para um total de seiscentas toneladas que usamos todos os anos. Mas o que
importa é o propósito de ajudar a resgatar o relacionamento da empresa com a
região, preservar o conhecimento tradicional da extração da borracha e ainda a
manter a floresta em pé”, ressaltou Hoelzel.
O
empresário, porém, indicou que tem planos de ampliar ainda mais essa política
de sustentabilidade. A Mercur não quer só vir à Amazônia, buscar a borracha natural,
enviar para o beneficiamento em São Paulo, fabricar os produtos no Rio Grande
do Sul para depois devolver o produto acabado na região de onde saiu a matéria
prima.
“Desse jeito nós não vamos baixar nossa
emissão [de gases de efeito estufa]. Ela só está aumentando”, constatou.
Segundo ele, a empresa tem planos de futuramente encontrar parceiros e
estabelecer unidades produtivas na região amazônica. A meta é produzir na
Amazônia os bens que serão ali consumidos. “A borracha é um dos setores incluídos
na ideia das Mercur locais. Mais adiante, vamos tentar buscar isso com outros
setores também.”.
Sobre o projeto
Florestas de Valor (#FlorestasDeValor)
O
projeto Florestas de Valor existe para fortalecer as cadeias de produtos
florestais não madeireiros, disseminar a agroecologia e conservar a floresta em
três regiões do estado do Pará: na Calha Norte do rio Amazonas, na Terra do
Meio e no município de São Félix do Xingu. O projeto apoia a implantação de
sistemas produtivos responsáveis, conecta extrativistas e empresas na lógica do
mercado ético e busca sensibilizar a sociedade para o consumo consciente de
produtos florestais e para a conservação dos recursos naturais. Saiba mais em
www.imaflora.org/florestasdevalor