Por SERVIR-Amazonia
Os incêndios na Amazônia são resultado de atividades humanas, incluindo o uso do fogo para desmatamento, limpeza de terras e manutenção agrícola. A maioria dos incêndios começa em áreas não florestais que já foram desmatadas para uso agrícola, mas esses incêndios podem escapar para as florestas vizinhas e queimar o sub-bosque. Mesmo esses incêndios superficiais, de baixa intensidade, matam a maioria das árvores uma vez que as florestas amazônicas não são adaptadas ao fogo.
Fatores climáticos e socioeconômicos contribuem para a atividade do fogo na Amazônia a cada ano. Condições de seca predispõem a região a incêndios maiores e mais severos aumentando o risco de que incêndios iniciados por atividades humanas se espalhem sem controle. Os impactos de seca sobre os incêndios na região amazônica são previsíveis, muitas vezes com meses de antecedência, com base na influência dos modos climáticos de grande escala ligados ao El Niño-Oscilação Sul e as temperaturas da superfície do mar Atlântico tropical na precipitação. A variabilidade climática estabelece o cenário para a intensificação ou atenuação regional na ocorrência de incêndios, uma vez que chuvas deficientes no início do período seco aumentam o risco que as conflagrações se propaguem sem controle. As previsões de risco de incêndio determinadas pelo clima usam um longo histórico de detecções ativas de focos de calor dos instrumentos MODIS a bordo dos satélites Terra e Aqua da NASA, combinados com observações e modelos de previsão de temperaturas da superfície do mar.
Incêndios em 2021
A avaliação dos modelos de previsão regionais, sugere uma atividade de incêndios entre ligeiramente abaixo a ligeiramente acima da média na Amazônia em 2021, de acordo com as temperaturas da superfície do mar abaixo da média no Pacífico (La Niña) e ligeiramente acima da média no Atlântico tropical norte (NTA- sigla em inglês). Para o Peru e a parte ocidental da Amazônia brasileira, Fernandes et al. (2011) usam a previsão da temperatura da superfície do mar (TSM) no Atlântico tropical norte para prever anomalias na temporada de incêndios entre julho e setembro (JAS). O NTA é um bom indicador do padrão geral de anomalias de incêndios em JAS como se pode ver na Figura 1. A previsão é atualizada (inicializada) mensalmente entre Março e Junho, sendo que a previsão de junho é a mais robusta e aponta para um Atlântico tropical norte ligeiramente quente durante JAS 2021. Este padrão de TSM leva a um deslocamento da Zona de Convergência Intertropical a posições mais ao norte, o que reduz o fluxo de umidade do oceano em direção à Amazônia favorecendo condições de seca. Em anos de NTA mais frios, a tendência é observar o comportamento contrário (período seco com precipitação acima da média na Amazônia ocidental)
O índice NTA é então usado para prever anomalias de focos de calor em JAS na Amazônia ocidental. A previsão de TSM no Atlântico tropical norte (inicializada em junho) indica uma temporada de incêndios entre normal e ligeiramente acima da média prevista para JAS na Amazônia ocidental (indicada por tons de rosa na Fig. 2). Áreas em branco no mapa indicam ausência de focos de calor ou uma relação não-significativa com o índice NTA.
Um segundo modelo estatístico de previsão de incêndios (Chen et al., (2011) cobre todas as regiões Amazônicas incluindo Peru, Bolívia e Brasil. Esta previsão se baseia em observações de TSM dos oceanos Pacífico e Atlântico tropicais em combinação com 20 anos de detecção de focos de calor por satélite do instrumento MODIS a bordo do satélite Terra da NASA. A previsão de severidade da temporada de incêndios de 2021 para diferentes regiões do sul da Amazôinia mostra resultados similares ao modelos de Fernades e colegas, apontando para uma atividade de incêndios ligeiramente abaixo da média para a maioria das regiões com exceção de Santa Cruz na Bolívia (Fig. 3). Um novo website interativo pode ser encontrado sob o SERVIR-Amazônia resultado de uma iniciativa da NASA-USAID para facilitar o uso de observações de satélite para a toma de decisões, proporciona mais detalhes sobre o modelo e seu desempenho histórico.
Ainda que que os modelos usem metodologias diferentes, ambas previsões convergem para um risco de incêndios próximo à normal no que diz respeito às condições climáticas. É importante lembrar que o clima determina somente uma parte da variabilidade da temporada de incêndios. Na ausência de atividades humanas, a ocorrência de fogo seria um evento raro na Amazônia mesmo em anos secos. Ainda assim, a previsão sazonal de risco de incêndios pode proporcionar uma visão antecipada de como o clima pode favorecer (seco) ou inibir (chuvoso) a ocorrência generalizada de incêndios. A equipe do SERVIR e cientistas na Amazônia usam detecção de focos de calor em tempo real de satélites da NASA e NOAA para dar continuação ao monitoramento de novos focos e propagação durante a estação seca.
Incêndios em 2020
Em 2020 incêndios generalizados foram observados em setores da Amazônia, especialmente em áreas de seca severa durante JAS. Nossa previsão de incêndios sazonais para 2020 apontou para uma temporada de incêndios ativa no setor oeste, embora os eventos de incêndios mais severos tenham ocorrido ao sul da Amazônia, especialmente nos biomas Pantanal e Cerrado.
(Fig. 4a).
Um Atlântico tropical norte mais quente que média previsto em março de 2020 foi um dos primeiros indicadores das secas de julho a setembro. As áreas de seca correspondem de perto às áreas de ocorrência de fogo anomalamente ativo, como o sul do Mato Grosso e partes do Amazonas e do Pará (áreas indicadas pelo no 1 na Fig. 4b). Em contraste, as áreas onde a precipitação foi próxima ou acima do normal tiveram conflagrações de fogo abaixo da média, como visto ao redor da fronteira da Bolívia e do estado brasileiro de Rondônia (área marcada pelo no 2 na Fig. 4b).
O SERVIR-Amazônia está trabalhando em várias frentes para melhorar as previsões sazonais de incêndios, bem como ferramentas de visualização que permitirão o mapeamento interativo. Além disso, reuniões estão sendo planejadas para informar as partes interessadas e, potencialmente, permitir medidas preventivas na região.
Condições climáticas prévias à estação seca de 2020 e 2021
As previsões para o risco de incêndio dentro da média em 2021 descrevem uma perspectiva muito diferente daquela de JAS 2020, quando os modelos apontavam para seca e uma temporada ativa de incêndios. Outro aspecto interessante que distingue esses dois anos diz respeito às condições climáticas que antecederam a estação seca. Em 2020, o mês de maio registrou precipitação entre normal a acima do normal, o que provavelmente atenuou a severidade da temporada de incêndios em alguns setores. Em contraste, o mês de maio de 2021 já observa condições anomalamente secas na Amazônia ocidental, especialmente no Departamento de San Martín no Peru, na Amazônia boliviana e no bioma Pantanal, o que poderia acelerar o estresse hídrico da vegetação e criar condições favoráveis ââpara incêndios precoces na temporada.
Autores: Kátia Fernandes, Douglas Morton e Simone Staiger Rivas