Com a nova ferramenta apontando esse cenário antecipado de vazão e do aumento dos níveis dos rios das bacias hidrográficas presentes no território nacional, será possível adotar ações de prevenção e diminuição dos impactos resultantes das ocorrências de inundações no contexto socioambiental e econômico, como o desalojamento e perda das casas dos moradores das áreas de risco, perda de cultivos familiares, além dos problemas de comunicação pelo isolamento provocado pela inundação nas estradas, de abastecimento de água e de alimentos, somados ao problema no sistema de energético. Esses dados de previsão darão subsídios para as políticas públicas de prevenção e mitigação de risco de inundações, abastecimento de água e do sistema energético.
Com a cooperação técnica firmada há um ano entre o Cemaden/MCTI, a Aliança Bioversity-CIAT e o Programa SERVIR-Amazonia (do Programa SERVIR-Global), as instituições vêm desenvolvendo os serviços de informação para o monitoramento hidrometeorológico, modelagem de inundações e deslizamentos de terra.
O lançamento do serviço aconteceu virtualmente dia 21 de novembro, às 14 horas (horário de Brasília). O evento foi organizado pelo Programa SERVIR-Amazonia, Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) - unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e pela Aliança Bioversity-CIAT.
Ferramenta inédita de previsão de vazões e aumento dos níveis dos rios
De acordo com o pesquisador do Cemaden, Marcio Augusto Moraes, responsável pelo desenvolvimento da ferramenta Hydroview, a previsão de inundações abrangerá todas as bacias hidrográficas do país.
“O trabalho de modelagem que vem sendo desenvolvido em parceria com o Programa Servir-Amazonia e Aliança Bioversity-CIAT, visa disponibilizar informações à Sala de Situação do Cemaden, fornecendo dados e cálculos de previsão de vazão e do aumento do nível dos rios de todas as bacias hidrográficas brasileiras”, afirma o pesquisador do Cemaden Márcio Moraes, coordenador do desenvolvimento da ferramenta e complementa: “A nova ferramenta é inovadora e inédita no Brasil, pois oferece a capacidade de nos anteciparmos aos acontecimentos, adicionando mais este serviço à Sala de Situação do Cemaden, que já faz o monitoramento hidrometeorológico e de emissões de alertas, encaminhadas à Defesa Civil Nacional”.
Atualmente, o Cemaden já conta com o acesso ao monitoramento da vazão de rios e córregos, realizado tanto pela rede observacional própria, como também pelas informações recebidas da rede da Agência Nacional de Águas (ANA), instituição parceira no monitoramento hidrológico.
Adeandro Mota, coordenador de geotecnologia e ciência de dados do IMAFLORA, destaca que metodologicamente a tecnologia usa mapas de escoamento gerados pelo Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF). Subsequentemente, a escala é reduzida usando um peso de bacia. Além disso, utilizando o modelo RAPID, o fluxo transportado e as vazões são simuladas e calculadas em cada trecho dos rios. O foco territorial inicial estava centrado na bacia do rio Madeira, no entanto, o sistema foi implementado considerando todo o território brasileiro. De modo complementar, este sistema utiliza dados de previsão hidrológica (dados diários), e foi desenvolvido em linguagem Python, que gera informações através de gráficos onde são comparados registros observados para todas as bacias hidrográficas do Brasil.
Em síntese, além do monitoramento hidrológico, o Cemaden disponibilizará esses dados de previsão de inundações, os quais darão subsídios para as políticas públicas de prevenção e mitigação de risco de inundações, abastecimento de água e do sistema energético.
Ocorrências de desastres geo-hidrológicos e população nas áreas de risco no Brasil
Segundo dados da Sala de Situação do Cemaden, nos últimos 5 anos (período de 01 de janeiro de 2018 até 08 de novembro de 2022), foram emitidos 6.832 alertas hidrológicos (inundações, alagamentos, enxurradas) aos municípios brasileiros mapeados com áreas de risco geo-hidrológicos, no total de 1.038 municípios brasileiros prioritários monitorados pelo Cemaden.
Na metodologia de levantamento de população exposta a desastres geo-hidrológicos - realizado pelo Cemaden em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - atualmente 3.559.056 pessoas estão vulneráveis a desastres hidrológicos e geológicos. Isso equivale a 43% da população total em risco estimada no Brasil, com base no Censo do IBGE de 2010. Esses dados podem ser superiores e serão atualizados, após o término do novo censo populacional brasileiro, que está sendo realizado neste ano.
A região brasileira com maior número de pessoas expostas a risco de desastres geo-hidrológicos é a região Sudeste (1.487.752- equivalente a 35% da população da região), seguida da região Nordeste (1.278.774, equivalente a 43% da população regional). A Região Sul tem 481.764 expostas a riscos de desastres geo-hidrológicos (68% da população regional); a Região Norte com 305.240 (representa 90% da população total da região) e a Centro-Oeste com 5.526 pessoas (72% da população regional).
O Brasil e as inundações
Segundo o Atlas de Vulnerabilidade a Inundações, elaborado em 2014 pela Agência Nacional de Água (ANA), foram identificadas 13.948 trechos de rios inundáveis em 2.780 cursos d’água no Brasil. Desse total, 4.111 trechos, ou seja 30%, foram considerados de alta vulnerabilidade a inundações graduais, 6.051 (43%) de média e 3.786 (27%) de baixa propensão a essas ocorrências.
A Região Sudeste brasileira apresentou a maior quantidade de trechos suscetíveis à inundação dentre todas as regiões brasileiras. Do total de 3.586 trechos, 1.496 foram classificados como de média vulnerabilidade e 1.027, como de alta.
As regiões que apresentaram maior proporção de trechos de rios com alta vulnerabilidade à inundação são a Centro-Oeste e a Sul (43%). As demais apresentaram menos de 30% dos seus trechos com alta vulnerabilidade a inundações graduais.
Ainda, no Atlas da ANA, mostra que as regiões Norte e Nordeste possuem 78% dos trechos identificados com vulnerabilidade média ou baixa à inundação e a Sudeste, 72%. Entretanto, nas regiões Sul e Sudeste foram identificados mais trechos de alta vulnerabilidade a inundações graduais, 2.618 e 1.027, respectivamente.
O Brasil possui quatro principais redes hidrográficas, que são: a bacia Amazônica, a bacia do rio São Francisco, a bacia do Tocantins Araguaia e a bacia Platina ou bacia do rio da Prata, que é formada pela bacia do Paraná, bacia do Paraguai e bacia do Uruguai. Essas quatro bacias hidrográficas reunidas, cobrem aproximadamente 80% do território nacional.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), o Brasil possui 12 bacias hidrográficas, que estão distribuídas por todo o território nacional.
Parceria e compromisso
Liderado pela Aliança da Bioversity International e pelo Centro Internacional para Agricultura Tropical (CIAT), o SERVIR-Amazonia é o mais recente dos cinco centros regionais que o SERVIR opera. É um programa de cinco anos (2018-2023) que reúne o conhecimento local e o melhor da ciência em tecnologia geoespacial e observação de planetas.
O SERVIR-Amazonia faz parte do SERVIR Global, uma iniciativa de desenvolvimento conjunto entre a Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (NASA) e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Desde 2005, SERVIR tem trabalhado em associação com vários países ao redor do mundo para promover o uso de informações fornecidas por satélites de observação da Terra e tecnologias geoespaciais.
O SERVIR-Amazonia trabalha em conjunto com uma rede de parceiros locais e internacionais que atuam em prol da Amazônia - principalmente Grupo de Informática Espacial (SIG), Conservação Amazônica (ACCA), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (IMAFLORA) e Fundação ECOCIENCIA. O Centro SERVIR-Amazonia busca entender melhor as necessidades da região, desenvolver ferramentas, produtos e serviços que permitam aos países que compõem a bacia amazônica melhorar a tomada de decisões e incorporar nela, de forma mais adequada, a voz das mulheres e povos nativos.
Por meio da parceria e cooperação técnica que irá até o mês de dezembro de 2023, além da geração da plataforma de colaboração interinstitucional para previsão das inundações, nas atividades previstas incluem-se estudos e pesquisas, desenvolvimento de ferramentas, capacitação entre instituições e parceiros, fortalecimento de intercâmbio de informação para a prevenção de redução de impactos ambientais, sociais e econômicos decorrentes de eventos extremos no bioma e Bacia Amazônica e compartilhamento de pesquisas e aplicações no campo hidrometeorológico.
Na primeira etapa da cooperação científica, estão previstas as seguintes atividades: validação de previsões hidrológicas e correção de viés, usando vazão observada para a bacia do Rio Madeira; desenvolvimento de ferramentas para visualização de previsões para a bacia do Rio Madeira, incluindo as bacias hidrográficas transfronteiriças; elaboração de mapas de impacto de cheias na região da bacia do Rio Madeira; capacitação dentro do Cemaden das agências/usuários de interesse mais amplo.
Para mais informações sobre o termo de cooperação técnica, clique aqui.
Fonte : Ascom/Cemaden e SERVIR-Amazonia.