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Clima, comida e territórios: soluções vivas das comunidades e da agricultura familiar

25/09/2025

                                                                                                                                                                                                                                                                                             
                                                                                                                                                                                                                                                                                             

 

A crise climática já faz parte do cotidiano e uma das principais reflexões a serem feitas é a relação dos eventos climáticos extremos com o que chega ao prato e com a conservação das florestas. Como garantir alimentos acessíveis e saudáveis sem ampliar o desmatamento? Como falar de crise climática sem gerar ansiedade? Perguntas como essas guiaram as discussões no “Aterra 2025”, encontro realizado em São Paulo para marcar os 30 anos do Imaflora. 

 

A mesa sobre agricultura familiar e mudanças climáticas reuniu diferentes vozes: o agricultor e dirigente sindical Marcos Vinícius Dias Nunes, a promotora de Justiça do Pará Helena Maués e o diretor executivo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) Arnaud do Campos. Cada um trouxe perspectivas complementares sobre os desafios do presente e as possibilidades para o futuro da produção de alimentos no Brasil. 

 

Agricultura familiar sob pressão 

 

Marcos Vinícius lembrou que a agricultura familiar responde por mais de 70% dos alimentos consumidos no país, mas segue vulnerável a crise climática, cada vez mais frequente. “Se o agricultor não consegue comercializar sua produção, ele não tem salário”, destacou. 

 

Entre os obstáculos citados, estão a falta de assistência técnica, o acesso limitado ao crédito rural e a pressão de modelos de produção baseados no uso intensivo de agrotóxicos. Além disso, a sucessão rural preocupa: “campo só é campo se tiver gente”, disse Marcos, chamando atenção para o envelhecimento da população no meio rural.  

 

Apesar das dificuldades, Marcos ressaltou experiências inspiradoras, como o cultivo de sementes crioulas e os sistemas agroflorestais, que conciliam geração de renda com conservação ambiental e captura de carbono. Para ele, a agricultura familiar é parte da solução para a crise climática. 

 

Amazônia: entre conservação e direito à alimentação 

 

A promotora de justiça Helena Maués trouxe a perspectiva da Amazônia, onde não é possível separar a questão agrária da ambiental. Ela destacou que populações indígenas, quilombolas e ribeirinhas são responsáveis por conservar a floresta e, ao mesmo tempo, garantir a soberania alimentar da região. 

 

Helena criticou a ideia de que a Amazônia seja um “vazio demográfico” e lembrou que o manejo tradicional moldou a floresta ao longo de séculos. Para fortalecer esse papel, defendeu a destinação de terras públicas para comunidades tradicionais e o fortalecimento de políticas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Na prática, segundo ela, o desafio é adequar os cardápios escolares ao que as comunidades produzem – açaí, castanha, mandioca, hortaliças de várzea e pesca artesanal. “Quando o processo se inicia pela produção local, os agricultores engajam e a política pública cumpre sua função”, afirmou. 

 

Sistemas Alimentares em crise 

 

Arnaud do Campos, da Conab, ampliou o olhar para os sistemas alimentares como um todo. Segundo ele, o modelo dominante está na raiz do desmatamento e da crise climática, mas também impacta diretamente a saúde da população. 


Hoje, mais pessoas morrem por doenças relacionadas à má alimentação – como diabetes, hipertensão e obesidade – do que por violência. Ao mesmo tempo, a fome continua sendo uma realidade. Esse quadro, explicou Arnaud, revela uma crise climática, alimentar e de saúde que estão interligadas. Para ele, enfrentar o problema exige repensar a forma como o Brasil organiza sua produção e distribuição de alimentos, fortalecendo cadeias curtas, mercados locais e a agricultura familiar. 

 

Da retórica à prática 

 

Os três participantes convergiram em um ponto: é hora de transformar discurso em ação. O contexto da COP30, que será realizada em Belém, torna essa urgência ainda mais evidente. Se por um lado os eventos internacionais movimentam recursos bilionários em nome do clima, por outro pouco investimento chega efetivamente às mãos de quem está mais vulnerável: os agricultores familiares e as comunidades tradicionais. O recado deixado no Aterra 2025 é claro. Não haverá futuro sustentável sem reconhecer e apoiar aqueles que produzem alimentos de forma justa e responsável, conservando a biodiversidade e mantendo a floresta em pé. 

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