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A demanda por cafés especiais impulsiona a produção sustentável

29/02/2024

Por Eduardo Trevisan*

 

O café tem papel histórico fundamental no Brasil. Nativo do continente africano, as primeiras mudas foram plantadas no Pará por volta de 1760. O cultivo se expandiu para a região sudeste e, em meados do século XIX, o país se tornou o maior produtor e exportador global de café, posição que mantém até os dias atuais.

 

Por muitos anos, o Brasil foi um grande fornecedor de cafés de baixa qualidade, sendo que no mercado interno a qualidade dos grãos consumidos era ainda pior. Nos últimos anos, ocorreu uma mudança significativa em toda a cadeia, e o país emergiu como um importante produtor de cafés especiais. Para se chegar a este feito, a cadeia do café aproveitou muito bem oportunidades de mercado em momentos em que tradicionais produtores de qualidade, como Colômbia e Guatemala, tiveram problemas de produção. Assim, o café brasileiro supriu essa demanda por meio de grandes investimentos locais. Já no mercado interno, a ascensão de cafeterias favoreceu o aumento paulatino do consumo de bons cafés.

 

A mudança de status de fornecedor de commodities para de cafés especiais, traz consigo a sustentabilidade, como muitas vezes são chamadas as boas práticas de produção, que abrangem uma gestão responsável dos recursos naturais e respeito à legislação trabalhista. Afinal, empresas e consumidores que estão dispostos a pagar mais por um café de qualidade, exigem que a sustentabilidade seja intrínseca ao produto. Adicionalmente, a União Europeia, Estados Unidos e Japão, principais destinos dos cafés especiais brasileiros, têm criado regulações específicas que aumentam a exigência sobre a origem dos cafés.

 

Para poder atender essas demandas, diversos protocolos de certificação e verificações ganharam espaço no mercado. Para garantir participação no mercado, as principais empresas de exportação e torrefadoras internacionais desenvolveram equipes específicas para monitorar e apoiar os produtores na adequação socioambiental, com vistas no aumento da demanda de “cafés sustentáveis”. O que há alguns anos era novidade ou diferencial se tornou uma condição para que cafés especiais com valor agregado sejam exportados.

 

Mais recentemente, como forma de agregar valor além do básico, isto é, respeito à legislação trabalhista e ambiental, as empresas internacionais têm demonstrado interesse em apoiar projetos em campo, entre eles agricultura regenerativa, mensuração e redução de emissões de carbono, restauração florestal e apoio a comunidades locais. Assim, as empresas demonstram aos seus consumidores que estão favorecendo o impacto positivo nas localidades que operam ou adquirem café.

 

Vale destacar que ainda existe uma quantidade considerável de desafios na cadeia do café brasileiro, tanto do ponto de vista social como da melhoria da qualidade de trabalho e redução de riscos. Já nos quesitos ambientais, os desafios estão ligados ao uso de água, conservação e recuperação de áreas naturais e solos, além do uso eficiente de agroquímicos. Por outro lado, uma grande parte da cadeia já resolveu essas situações e está mirando em ações de impacto positivo em suas localidades e comunidades.

 

*Eduardo Trevisan é gerente de Cadeias Agropecuárias do Imaflora

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