Enquanto o mundo se esforçou para desenhar uma saída sustentável da crise econômica surgida em consequência da pandemia de Covid-19, o Brasil se afastou ainda mais das metas firmadas no Acordo de Paris, arriscando atrasar em uma década a neutralidade em carbono. Nesse contexto, o Imaflora reforçou suas estratégias para disseminar conhecimento e soluções de produção agropecuárias regenerativas e com baixa emissão de carbono. “A nossa abordagem nunca foi procurar vilões, mas partir para a ação, com alternativas mais sustentáveis, capazes de gerar renda, de conservar os recursos naturais e de remover emissões”, explica Eduardo Trevisan, Gerente de Projetos do Imaflora. Essa estratégia se mostrou eficaz em estudo que avaliou os efeitos de sistemas silvipastoris e agroflorestais em propriedades de agricultura familiar na Amazônia. “Com sombra e pasto manejado, você gera mais conforto térmico para o animal e melhora a produtividade. Além disso, o cacau sequestra gases de efeito estufa, compensando a emissão da pecuária extensiva e se tornando um modelo muito mais sustentável no sentido do carbono”, destaca Trevisan. O mesmo aconteceu com outro estudo, também realizado em 2020, em 23 propriedades mineiras voltadas à cultura do café. O modelo de produção, endossado por certificação Rainforest Alliance há mais de uma década, demonstrou como o investimento em assistência técnica e suporte pode ser revertido em remoções de carbono, entre outros benefícios. Prova, ainda, o que o Imaflora sempre defendeu: o agronegócio pode andar de mãos dadas com o desenvolvimento sustentável e ser um grande aliado na preservação dos recursos naturais. A experiência em gestão territorial, incluindo a criação de formas de uso e manejo de áreas mais sustentáveis, inspirou empresas como a gestora de terras agrícolas Radar, que confiou ao Imaflora alguns projetos, incluindo a verificação de aderência dos arrendatários ao Código de Conduta da empresa, trabalho feito à distância em 2020, e o desenvolvimento do Guia de Mudança Climática, a ser implementado em 2021.
“O Imaflora exerce um papel importante na nossa tomada de decisão, pois consegue nos ajudar a colocar em prática nossas ideias, dando-nos a certeza de que conseguiremos alcançar os impactos desejados”, diz Débora Ferreira, Gerente Jurídico da Radar. Com a General Mills, o Imaflora iniciou a capacitação de produtores de diversas culturas, como o milho de pipoca, em práticas regenerativas. O trabalho se baseia em estudo conjunto que apontou como diferentes manejos podem favorecer a formação de estoques de carbono.
A soja foi outra cultura que mereceu atenção especial em 2020. “Além da forte atuação na Amazônia, o Imaflora tem um olhar para outros biomas, principalmente, o Cerrado, dono de uma biodiversidade única”, explica Isabel Garcia-Drigo, Coordenadora de Clima e Cadeias Agropecuárias do Imaflora. O “Soja na Linha” é um programa pioneiro que busca dar transparência e visibilidade ao desempenho e evolução dessa cadeia para a melhoria contínua de processos e políticas. O fomento a uma produção mais sustentável também ocorre por meio de uma parceria com a Conservação Internacional – Brasil, para gestão do capital natural, além de articulação de diálogos entre os diferentes atores da cadeia da soja, na região do Matopiba, na divisa da Bahia com o Tocantins. “Apoiar a formação de consensos, constantemente alimentados por dados e informações confiáveis, é a principal alternativa para consolidarmos um modelo produtivo agrícola que seja de fato benéfico para todos. A parceria entre a CI-Brasil e o Imaflora é um exemplo concreto dessa premissa”, diz Karine Barcelos, Gerente de Produção Sustentável da Conservação Internacional.
O Imaflora acredita que um dos passos mais importantes para dar escala a práticas de baixas emissões é a gestão da informação, que dá subsídios para a tomada de decisão. Nesse sentido, a atuação se deu em várias frentes.
Em parceria com o Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), desenvolvemos uma plataforma de monitoramento do desmatamento, para medição de impactos. “Conseguimos criar uma metodologia para detecção de desmatamento na área de influência dos nossos produtores, ou seja, qual o risco daquela família estar próxima à atividades ilegais, sejam delas ou de vizinhos”, afirma Beto Bina, Head of Sourcing, da empresa francesa VEJA, que utiliza borracha da Amazônia na produção de seus tênis. “Por outro lado, também podemos detectar pessoas que são os verdadeiros guardiões da floresta, e mostrar que não existe desmatamento na sua área de influência.” Ele acredita que a responsabilidade de sua empresa é mostrar um caminho, que é possível ter um trabalho digno, aumentar a renda das famílias ao mesmo tempo que mantém a floresta em pé.
“Não acreditamos na veja como um papel de pressão política, mas sim de inspiração para um modelo responsável. Espero que valores de colaboração e empatia estejam mais presentes na nossa vida e no nosso trabalho. e o caminho da veja também é esse, colaborar com parceiros como o Imaflora, que nos dão confiança de que estamos no caminho certo.” Mesmo em um ano turbulento, o serviço de balanço de emissões também foi ampliado para atender mais clientes e mais culturas. Finalmente, como parte de um movimento mais amplo junto a outras organizações, o Imaflora realizou a mensuração das emissões nacionais de gases de efeito estufa do setor agropecuário junto ao SEEG (Sistemas de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), que passou, em 2020, por mudanças e aprimoramentos metodológicos para alcançar números ainda mais exatos. Com base nos últimos anos das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e a tendência de desmatamento, é possível prever um aumento nas emissões no acumulado do ano, na contramão das metas estipuladas para o país. Para que o compromisso nacional seja atingido, o Imaflora associou-se ao Observatório do Clima e outras organizações na elaboração de uma proposta de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) compatível com a meta de 1,5°C de aquecimento máximo prevista no Acordo de Paris. Além das consequências ambientais das emissões de carbono, é preciso prestar atenção para as relações sociais do tema. Os impactos do aquecimento global na qualidade de vida das mulheres foram o foco da iniciativa “Pira no Clima”, promovida pelo Imaflora junto a outros parceiros, que tornou clara a insuficiência de participação e equidade de gênero na construção dos Planos
Climáticos nos municípios brasileiros. Apesar do progresso na implementação de tecnologias de baixas emissões, elas ainda não acompanham a expansão da produção no Brasil.
“Além de mais incentivos e investimentos públicos e privados, nos próximos 25 anos queremos viabilizar, por meio de diálogos e parcerias, soluções para um uso inteligente dos recursos agrícolas e florestais, gerando cadeias produtivas mais sustentáveis e, com isso, intensificando a mitigação dos impactos da produção no clima e na sociedade”, aponta Isabel Garcia-Drigo.
Confira o Relatório Anual do Imaflora de 2020 aqui