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Relatório Anual 2020: No caminho das parcerias, valorizamos a floresta em pé

03/06/2021

Em meio ao avanço de atividades predatórias sobre áreas protegidas, o Imaflora reforçou em 2020 sua atuação no combate a essas ameaças ilegais por meio de parcerias e práticas sustentáveis de produção florestal e agrícola. “O desmatamento em 2020 foi o maior dos últimos 10 anos, ultrapassando os 11 mil quilômetros quadrados. Para inverter essa lógica predatória, buscamos fortalecer as cadeias produtivas sustentáveis, reduzindo a vulnerabilidade da floresta e das comunidades”, afirma Roberto Palmieri, diretor-executivo do Imaflora em 2020 e gestor do programa Florestas de Valor. A iniciativa, que conta com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS), do Governo do Canadá, Fundo Amazônia/BNDES e do Instituto Humanize, com patrocínio da Petrobras (por meio do Programa Petrobras Socioambiental), ganhou ainda mais protagonismo ao ampliar o fomento de práticas de agroecologia e de modelos de negócio para mitigar os efeitos da crise econômica gerada pela pandemia.

 

Entre as ações realizadas estão o apoio à Cooperativa Mista dos Povos Tradicionais da Calha Norte (Coopaflora), que congrega indígenas, quilombolas e assentados, para alavancar a governança e a viabilidade das atividades econômicas. “O escoamento da produção ainda é o nosso maior desafio e o Imaflora nos apoia nesta frente, além de contribuir para a valorização dos produtos da floresta”, diz Lorenaldo Almeida, o Bito, um dos responsáveis pela Coopaflora e morador do território Quilombola Erepecuru. Mesmo diante da falta de incentivo público no fomento à bioeconomia, o Imaflora reforçou a estratégia de conectar os povos da floresta à iniciativa privada.

 

O Origens Brasil® obteve um crescimento de quase 70% no número de empresas-membro em 2020 e ganhou dois novos financiadores para a estratégia de expansão da rede: as empresas Evoltz e Zurich. “O crescimento em um período tão desafiador é um forte indicativo da disposição do setor privado em participar da construção de um novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia, pautado na produção que conserva e em mercados mais justos e éticos, capazes de gerar valor para os povos da floresta”, explica Patrícia Cota Gomes, coordenadora do programa no Imaflora. “É mais um passo na transição da economia do lucro para uma baseada no cuidado e respeito à sociobiodiversidade”, completa.

 

Além de novos membros, o Origens Brasil® expandiu sua atuação territorial, chegando a 36 áreas protegidas, que somam juntas mais de 52 milhões de hectares de floresta em pé. A rede, que conta com o suporte de instituições locais no apoio aos produtores, promoveu a conexão entre povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas com empresas, que adquirem os produtos de forma ética e transparente. O encontro anual ocorreu pela internet e reuniu, em dois dias de evento, mais de 150 pessoas, entre empresas, lideranças da floresta, financiadores, instituições locais e parceiros, todos dispostos a contribuir para o fortalecimento da rede e para a economia da floresta em pé. “Para nós, moradores do quilombo, o Origens Brasil® é muito importante, pois valoriza o nosso produto, encontra o melhor mercado para a nossa produção e reconhece a nossa identidade”, reforça Bito.

 

Em 2020, o Imaflora apoiou a indústria em esforços de transparência e resposta a preocupações internas e externas pela origem e legalidade de produtos florestais. As certificações tiveram um aumento de 125% em relação ao mesmo período do ano passado, com 25 processos de certificação da cadeia de custódia, puxados pela indústria de celulose, que se manteve aquecida em 2020. Também contribuíram para este aumento uma maior procura de empresas que nunca haviam passado por um processo de auditoria, o interesse crescente de pequenos produtores pela certificação voltada ao manejo florestal de pequena escala (categoria SLIMF) e o investimento de indústrias mais maduras em novas certificações.

 

Um exemplo emblemático foi o da Veracel Celulose, primeira empresa do setor de florestas plantadas a ser reconhecida pelo FSC® com o Procedimento de Serviços Ecossistêmicos. “O processo de gestão da sustentabilidade da Veracel foi enriquecido pela parceria com o Imaflora. A seriedade e o alto padrão técnico do seu time de profissionais permitiram identificar e gerar muitas oportunidades de melhoria do nosso sistema de gestão, contribuindo para que conceitos estratégicos, como a transparência, se tornassem transversais em nossa companhia”, afirma Virginia L. de Camargos, coordenadora de Estratégia Ambiental e Gestão Integrada da Veracel. Até então, somente a Cooperativa dos Produtores Agroextrativistas do Bailique (AmazonBai) possuía esse tipo de certificação no Brasil, o que deve mudar “Quando uma empresa adota um procedimento de serviços ecossistêmicos em sua certificação, ela gera uma série de melhorias, o que reflete no interesse de outras empresa por esse tipo de reconhecimento, culminando num ciclo positivo de impacto e boas práticas”, explica Leonardo Sobral, gerente de Certificação Florestal do Imaflora.

 

A transparência e o impacto positivo na condução das atividades garantiram a nossos clientes reconhecimento internacional. Empresas como Veracel, Klabin e Mil Madeiras figuraram entre as 15 primeiras do ranking de 2020 da Sociedade Zoológica de Londres (ZSL), que avaliou mais de 175 indicadores. A Mil Madeiras, por exemplo, foi reconhecida por seu pioneirismo no Brasil na aplicação dos princípios e critérios do FSC® em campo e na utilização do Padrão para Manejo Florestal em Terra Firme.

 

O ligeiro avanço nas concessões de áreas florestais públicas foi também um sinal positivo no fortalecimento do combate a ações predatórias e na conservação da floresta. Evandro José Muhlbauer, engenheiro florestal e administrador da Madeflona Industrial Madeireira Ltda., primeira empresa a obter um contrato de concessão florestal, em 2008, reconhece que 2020 foi um ano complicado. Mas continua apostando no modelo sustentável, que desenvolve em quatro unidades de manejo florestal nas florestas nacionais Jamari e Jacundá, ambas em Rondônia, num total de 136 mil hectares. “O Imaflora, que faz a nossa auditoria, é uma instituição das mais respeitadas. A acreditação é uma chancela às nossas boas práticas”, afirma Evandro.

 

O empresário acredita que o manejo florestal sustentável é a solução para a questão da garantia da sustentabilidade. “Sabemos que essa floresta nunca vai se acabar com todas as técnicas de impacto reduzido. O manejo tem um valor intangível”, afirma o engenheiro florestal, listando tanto os benefícios para o meio ambiente, com o controle de queimadas e grilagem, quanto para o próprio agronegócio, com a regulação do regime de chuvas e para a comunidade, com a geração de renda a partir da floresta em pé. Somente a Madeflona é responsável pela geração de renda para 336 famílias. “A floresta começa a ter valor. Ajuda a população que necessita de sustento e dignidade. Gera sustentabilidade financeira, ambiental e social”, resume Evandro. O Imaflora defende o manejo e a certificação como instrumentos para fazer frente ao modelo atual de desenvolvimento, que releva o desmatamento, o roubo da madeira e a alteração de uso do solo. “Com o aumento das áreas manejáveis, temos a chance de criar um divisor de águas na indústria madeireira, alinhando-a aos desafios atuais do país e do planeta”, completa Leonardo. É este o norte que irá nos guiar pelos próximos anos de atuação.

 

Confira o Relatório Anual do Imaflora de 2020 aqui 

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