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A transição da pecuária: da adaptação do campo ao acesso a mercados internacionais

30/09/2025

A pecuária brasileira encontra-se em um momento de avanços e desafios na transição para um modelo mais sustentável. Em um setor que apresenta complexidades e possui uma grande representatividade nas emissões de gases de efeito estufa no Brasil, as soluções exigem uma atuação em conjunto entre produtores, indústria e mercados internacionais, amparados por políticas públicas que promovam maior transparência, escalabilidade e justiça social.

 

Avanços e Desafios

 

Nas últimas três décadas, segundo dados da ABIEC, a pecuária teve um aumento da produtividade em 172% em oposição a uma diminuição da área de pastagem em 16%, graças a novas tecnologias e forma de manejo. Apesar desse progresso, a formação de novas pastagens continua sendo o principal vetor de desmatamento, pressionando particularmente a Amazônia. Segundo dados de 2023 da Trase, trazidos pela líder de Engajamento da plataforma Paula Bernasconi, 50% do desmatamento ligado à produção de carne ocorre em apenas 2% dos municípios brasileiros e 70% do volume de carne exportada do país em 2023 já vem de empresas com compromissos de desmatamento zero.

 

Esse cenário evidencia que transparência e rastreabilidade podem ser compreendidas como solução para direcionar políticas públicas, e também como ativos estratégicos que protegem a imagem de pecuaristas em compliance ambiental, reforçando a posição do Brasil no mercado global.

 

O papel da indústria

 

Nesse sentido, a indústria desempenha um papel central na transição. Francisco Victer, Coordenador do Movimento Aliança Paraense pela Carne, relembra os avanços em auditorias de conformidade no Pará — que atingiram níveis superiores a 90% em frigoríficos signatários de compromissos socioambientais — demonstrando uma capacidade de adaptação do setor. 

 

Entretanto, aponta que os custos da conformidade expõem a necessidade de que os mercados importadores e o sistema financeiro reconheçam e valorizem os esforços empreendidos pela transição, fazendo um convite aos parceiros comerciais: “A sustentabilidade voltada para a conquista de mercado - a gente quer saber o seguinte, qual mercado está disposto a pagar?”

 

O papel das políticas públicas

 

Experiências pioneiras, como o Programa de Pecuária Sustentável do Pará, demonstram que políticas públicas são instrumentos centrais para viabilizar a transição sustentável da pecuária. A iniciativa, que prevê rastreabilidade individual obrigatória de todo o rebanho do estado até o final de 2026, tem buscado acelerar requalificação comercial de produtores em situação de irregularidade, compreendendo que a sustentabilidade no setor só será alcançada através de inclusão e com o engajamento direto dos pecuaristas.

 

Raul Protázio Romão, Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará, também relembra a importância de formar coalizões capazes de implementar e escalar políticas públicas como a do Programa Pecuária Sustentável do Estado. “É preciso ter uma coalizão de atores que complemente o papel do Estado, pois trata-se de um desafio complexo, com escala de um subnacional da Amazônia. Contamos com a indústria, setor empresarial, a academia e o terceiro setor, para que nós consigamos mobilizar mais e mais atores em direção a esse objetivo comum”, afirma.

 

Demanda Internacional

 

No cenário internacional, a demanda da China assume papel determinante. Como principal destino das exportações brasileiras e diante de limitações para expandir a produção doméstica, as decisões de compra no país influenciam diretamente as práticas no Brasil, como é o exemplo do abate precoce que já contribuiu para a redução de emissões do rebanho brasileiro.

 

Claudia Trevisan, Diretora Executiva do Conselho Empresarial Brasil-China, faz uma análise da crescente preocupação da China com sustentabilidade, que tem procurado reduzir emissões e estabelecer compromissos ambientais mais exigentes. “A COFCO, a maior trading chinesa com importante atuação no Brasil, tem uma meta de eliminar o desmatamento na cadeia de fornecimento de soja, milho e palma até o fim desse ano. Syngenta, uma empresa de capital chinês, está investindo na recuperação de pastagens degradadas no Brasil. Sua meta é recuperar um milhão de hectares até 2030”, exemplifica.

 

Esse alinhamento sinaliza que a sustentabilidade tende a se consolidar como requisito para acesso e permanência nos mercados globais, o que reforça a importância da rastreabilidade como ferramenta de monitoramento da cadeia.

 

O futuro da pecuária no Brasil

 

A expansão da pecuária sustentável vai além de responder à urgência climática - ela também é uma oportunidade de negócio para o Brasil. O fortalecimento de políticas públicas, o engajamento de pecuaristas e o investimento em tecnologias como a rastreabilidade bovina são elementos fundamentais para assegurar uma transição sustentável, justa e escalável.

 

Marina Guyot, Gerente de Políticas Públicas do Imaflora, encerra destacando que o Brasil, com sua excelência em dados e protocolos, tem muito a ganhar ao aumentar a transparência e valorizar as soluções que já existem dentro de casa: “Estamos em um momento da sociedade em que temos a chance de, aumentando a transparência dos nossos dados, qualificar melhor a produção de carne brasileira. O Brasil tem excelência em dados e em protocolos, é claro que existem oportunidades para avançar, mas pela perspectiva do Imaflora, o setor só tem a ganhar”, finaliza.

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